O Outro Lado da Moeda

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Havia vários homens e mulheres me observando curiosamente. Cochichavam entre si sem desviar o olhar de mim. Havia algumas amamentando seus filhos e outras brincando no chão com crianças maiores. Famílias normais. Nada do que eu havia imaginado se comparava com aquilo que encontrei. — Bem-vinda ao meu clã, Alice — completou seguindo em frente. Claro que no clã dos comuns também haviam as crianças que se tornariam vampiras quando atingissem a puberdade ou as marcadas, mas era bem raro vê-los ali quando bebês, ou antes dos doze anos. Havia uma complexidade maior já que geralmente a mãe era humana e o pai um vampiro. As modificadas davam a luz como qualquer mulher, mas as comuns não. Talvez por isso o maior número de crianças ali.

Continuei andando perto dele como se fosse me proteger caso alguma coisa desse errado. Ainda estava completamente bestificada com aquilo quando um homem apareceu correndo em nossa frente.

— Desculpe interromper, senhor — era um jovem ruivo, com sardas e alargador na orelha direita. Uma barba aparada em um cavanhaque perfeito e os olhos azuis acinzentados. O homem paralisou ao me ver.

— Fale, Theodore — ordenou Arthur.

— O clã de Virginia foi atacado enquanto iniciava a viagem para cá — o ruivo falou e Arthur levantou uma das sobrancelhas.

— Atacados por quem? — perguntou. Eu sabia que só havia duas coisas que atacariam os modificados: Caçadores ou os Comuns.

— Por cães, senhor — Arthur bufou de raiva. — Somente Anabelle sobreviveu. Já está segura aqui, mas afirma que foi um massacre. Eles estão se reunindo. Foi uma matilha com no mínimo quinze membros.

— Cães? — perguntei curiosa. Theodore me encarou e confirmou com a cabeça.

— Mande preparar Anabelle para o interrogatório, eu mesmo o farei. Quero saber todos os detalhes, inclusive como ela escapou. Não costumam deixar ninguém vivo para contar a história. Depois eu dou um jeito de enviar os nossos a Virginia para começar a caça. Quero esses malditos extintos de uma vez por todas — o líder deles ordenou sem desviar os olhos de mim. Confesso que fiquei completamente envergonhada. Ele me intimidava.

O homem ruivo assentiu e saiu apressadamente pelo corredor, entrando na quarta porta. Arthur abaixou a cabeça quando percebeu que meu olhar não desviava do homem. Eu queria muito segui-lo, para saber o que atacou o clã de Virginia, mas então comecei a ligar as coisas: Cães, matilha, extintos...

— Lobisomens — deixei escapar.

— Excelente. Você é bastante observadora e isso é bom. É uma qualidade que eu prezo bastante — esticou a mão e me indicou o caminho com ela. O encarei seriamente. Não era porque eu estava no clã dele que ia confiar.

— Você primeiro — mandei. Ele assentiu e seguiu na frente. Arthur me mostrou todo os cantos daquele lugar e o que mais me impressionou foi a cozinha. Era enorme e tinha comida de verdade, não sangue. Me contou que os modificados conseguem ficar dias sem ingerir nenhuma gota, mas que precisavam vez ou outra.

Gostaria muito de poder comer alguma coisa sólida, mas aquela habilidade não herdei dele. Arrepiei ao me dar conta de que tinha sido induzida a ir com o meu maker. Aquele que eu odiava mais do que tudo e que tinha tentado me matar e me manipular. Finalmente perguntei o que ainda fazia ali.

Quando pensei em falar algo ou exigir que me liberasse, ele se sentiu mal. Arthur apoiou-se em uma das paredes e respirou profundamente, curvando o corpo como se sentisse dor. Me olhou em seguida e os dois orbes antes verdes, tornaram-se negras instantaneamente. Deixou o corpo cair sentado no chão.

Eu não sabia o que fazer ou o porquê dele estar sentindo aquilo. Até que pensei em Victor.

— Ele está bem? — a pergunta saiu quase como um sussurro. Arthur entendeu.

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