Capítulo 24

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Meu pai estava encarando o notebook. As sobrancelhas arqueadas combinavam perfeitamente com o semblante concentrado.

-Como você deixou vazar esse boato? - perguntou.

Ele não parecia bravo, só curioso. O que era estranho, pois o pouco que conhecia do meu pai, em situações extremas seus nervos sempre estavam a flor da pele.

-Nem nós sabemos - dei de ombros.

-Tudo bem, foi antes do previsto, mas acho que podemos aproveitar o momento - ele continuou. - Ligarei para Devanir e marcaremos um pronunciamento.

Assenti.

-Vou indo, ainda tenho que ver sobre a questão do desvio e como anda o financiamento da empresa - eu disse ao me levantar.

Meu pai ficou tenso de repente.

-Não se preocupe com isso, deixa que eu cuido dessa história, preciso de você aqui para assumir alguns projetos importantes - ele disse.

-Mas eu vim para a filia para ajudar com o desfalque - eu falei.

-Eu mesmo cuido desse assunto - ele disse.

Estava bem nítido que tinha alguma coisa de errado naquela história, me pergunto o quão grande era esse desfalque. Para deixar meu pai daquele jeito, com certeza era algo muito delicado.

-Vou convidar os Morais para um jantar de casamento - meu pai disse. - Avise sua irmã.

Oh, a família toda se reuniria novamente e eu já conseguia imaginar o quão aquilo era tendencioso ao fracasso.

-Vou avisar - falei caminhando em direção a porta.

-Eu aviso vocês antes - meu pai disse assim que fechei a porta.

Fui para a minha sala e mergulhei em todos os papéis que eu encontrei sobre a mesa. Tive que organizar vários documentos e ler tudo sobre os novos investidores.

-Senhora? - chamou minha nova secretária, cujo o nome eu ainda não tinha decorado.

-Oi? - finalmente levantei meus olhos dos papéis.

-Ja está na hora de sairmos - ela falou. - A senhora parecia tão concentrada que fiquei com receio de que tivesse perdido a hora.

Eu encarei o relógio e já havia passado muito tempo do horário do fim de expediente.

-Você poderia ter ido - eu disse. - Eu sempre consigo perder a noção do tempo quando estou concentrada.

Ela apenas se limitou a sorrir.

-Tenho um pedido para você - falei.

A mulher assumiu uma postura profissional e se aproximou de mim.

-Sim, senhora? - falou.

Suspirei uma vez, me espreguiçando na poltrona.

-Preciso que encontre esses documentos para mim - eu disse lhe entregando um bloquinho de notas.

Ela leu por um momento.

-Outra coisa, não fale para ninguém que fui eu que pedi - eu disse.

Seu olhar era desconfiado, mas mesmo assim ela assentiu e saiu da sala.

Juntei tudo que estava sobre a mesa e desci em direção ao saguão.

Realmente, já não havia ninguém mais no prédio. Todo mundo já tinha ido embora e no saguão só restavam os seguranças.

Cheguei na frente do prédio e comecei a telefonar para algum táxi, mas o carro de Arthur para bem na minha frente.

-Vamos? - ele pergunta.

Eu o encaro surpresa.

-A quanto tempo está esperando?

Ele da de ombros.

-Uma hora? - ele fala em tom pensativo.

-Por que não me ligou? Ou foi embora? - perguntei ao entrar no carro.

-Primeiro, não queria te atrapalhar, sei que o primeiro dia é sempre muito puxado. Segundo, não iria embora sem você - ele me lançou um sorriso fraco.

Sorri. Sem motivo, só quis sorrir.

Aquele homem tinha esse lado protetor, afinal. Isso me fez feliz e aqueceu meu coração. Algo dentro de mim quis acreditar que ele sempre estaria ali para cuidar de mim.


CASAMENTO DE FACHADA: HERDEIROSWhere stories live. Discover now