𝟏.𝟎𝟐 'dizendo

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— Você é mesquinho — respondi prontamente, de maneira infantil, enquanto fechava a mala com força.

Ele finalmente reparou nas bolsas. Quando me olhou, parecia não saber o que dizer.

— Já está arrumando as coisas pra ir? Pensei que fosse ficar até sexta.

— Vamos hoje à noite, papai errou na contagem dos dias. — Me deitei ao seu lado, não me preocupando com nossos pés se tocando. Eu o encarei e esperei por seu olhar para começar a falar novamente. — Você tem mais um fato?

— Um adulto... é feito de mais ou menos sete octilhões de átomos... e só tem trezentas bilhões de estrelas na nossa galáxia.

Quando Oliver Elliot ficava nervoso, o sotaque voltava com força. Como uma criança bobinha com medo de falar em público, ele travava no meio da oração, demorando a concluir o raciocínio. Nunca achei chato ou irritante, apenas fofo. Adorável a forma com a qual ele parecia fazer esforço para que as palavras saíssem da maneira correta.

E mesmo assim, ele conseguia dialogar melhor do que qualquer outra pessoa.

— Comparação estranha, isso é bom?

— Eu não faço ideia — deu de ombros, se aconchegando em um dos travesseiros. — Trago fatos, não explicações.

— Gosto de quando você me diz essas coisas de sabe tudo.

Meu corpo amoleceu enquanto a cabeça esvaziou, como se eu caísse no sono, ainda que estivesse tão acordada quanto antes. Despercebida, um suspiro escapou por entre meus lábios, quase num sussurro, quando vi o rosto de Elliot virar em minha direção. O rosto corado me chamando a atenção, emoldurado pelos fios de cabelo que caiam sobre a testa e os olhos, desta vez tão escuros e tão brilhantes que me prenderam. Ele, que nunca falou coisa com coisa, que esteve sempre interessado em me cantar de brincadeira, nunca me pareceu tão sério e atraente quanto naquele instante. Então ele sorriu, como se fosse um maldito demônio capaz de ler meus pensamentos.

— Amélia — meu nome escapou de sua boca quando fiz menção de me mexer. Elliot repetiu três vezes, como se quisesse ter certeza de que ele não se perderia em nenhuma outra palavra. Entregue às sílabas, à fonética. Disse primeiro o Amé, demorando no Lia. Pela primeira vez, eu achei meu nome bonito. — Gostaria de poder te beijar.

Meu coração parou por um segundo.

Você se encaixa, Amélia — E me segundos pelos ombros, repetiu: — Você se encaixa em mim.

Minha mente me castigou com seus próprios pensamentos quando senti os olhos de Oliver pesarem em mim. Deus sabe o quanto eu queria aquilo. Queria beijá-lo pelo resto da noite e dizer que era sua pelo menos uma única vez antes de ir.

Tão perfeitamente que mal tenho palavras para usar.

Eu odiava, mais do que tudo no mundo, não conseguir esquecer dos lábios de Gilbert. Me odiava ainda mais por estar pensando nele quando deveria estar concentrada no garoto a minha frente.

Eu sorri para Elliot, num sinal de aprovação, me sentindo uma hipócrita por fazer isso.

Eu não estava brincando com seus sentimentos, estava?

Seus lábios tocaram os meus e eu não pude evitar pensar no quão diferente aquilo era. Tomei fôlego pelo nariz, na surpresa, e busquei sua destra, a apertando. Não havia língua, mas sua boca colocada na minha era o suficiente para me fazer suspirar. Um selinho casto, inocente.

Beijos eram difíceis de descrever; eu nunca saberei ao certo o que senti naqueles poucos segundos — a única coisa que sabia era que queria que ele me beijasse outra vez, apenas para entender.

blue boy, gilbert blytheOnde as histórias ganham vida. Descobre agora