Batendo o martelo.

377 34 3
                                    

Callie:

Tivemos um intervalo entre a primeira e a última sessão e Arizona começa a ficar preocupada e me chama em um canto para conversar.
- O que foi meu amor? Preocupada com algo? - pergunto.
- Com tudo. Esse advogado tem tudo nas mãos. A gente depende muito do restante dos depoimentos, principalmente do meu! - diz ela.
- Ei, calma! Vai dar tudo certo, você já sabe o que dizer. Só precisa ter firmeza nas suas palavras, evita gaguejar que nem eu. - digo, tentando acalmá-la.
Seguro em sua mão e o restante das meninas se aproximam.
- Gente, Drª Chandra veio me desejar boa sorte na minha carreira. Assinou meu atestado de demissão na cara mesmo! - diz Caterina.
- É muita cara de pau... - diz Arizona.

Passado alguns instantes, o responsável do fórum nos chama para a segunda e última sessão.

~ dentro da sala ~

- Caso Hospital The York, segunda e última sessão irá se iniciar. Em seus lugares, juíza preside no local.
- Podem se sentar. Irei iniciar os demais depoimentos e peço a gentileza de que não interrompam com discussões paralelas. Em ordem de sorteio, Drª Chelsea inicia os depoimentos com a testemunha de sua escolha. - diz a juíza.

- Obrigada, excelência. Gostaria de chamar o Dr Justin, por favor. - diz a advogada.
Justin se senta.

- Bom, você ainda é cirurgião do The York, confere?
- Confere.
- Certo. E há quanto tempo está lá?
- Uns dois anos.
- É verdade que você estava cogitado para ser mandado embora pois o hospital precisava de verba?
- Na teoria sim mas na prática não fui mandado, a Drª Chandra me deu uma outra oportunidade.
- Entendi. Todo mundo precisa de uma segunda chance, né?! Mas eu puxei alguns arquivos do hospital e reparei que você tem mais faltas do que presenças e em muitas situações era substituído pela Drª Arizona Robbins, e isso seria um motivo plausível para uma demissão por justa causa. Agora as meninas que foram mandadas sem saber o porque, eram médicas presentes e plantonistas. Tem algo a dizer sobre isso, Dr?
- O hospital inteiro só falava em Arizona Robbins, na esposa da deusa da ortopedia que era cirurgiã em Seattle. Eu sabia que meus pacientes ficariam em boas mãos caso eu não estivesse presente.
- Era o que eu esperava ouvir. Obrigada, meritíssima. - diz Drª Chelsea se afastando.

O advogado do hospital se levanta.
- Dr Justin permaneça em seu lugar. Tenho perguntas a fazer. Como citou, está a pouco tempo no hospital comparado as outras doutoras. Você se sentiu ameaçado quando a Drª Robbins começou a trabalhar por lá?
- A princípio não, ela estava cogitada para trabalhar no departamento da fetal, aqui ela era a única que tinha essa especialidade no currículo. Mas a Drª Chandra havia deixado claro para ambos de que ela me substituiria quando eu não pudesse atender.
- Entendi. Você disse que a princípio não, porque? Depois começou a ficar preocupado com a fama da médica?
- Sim. Ela estava roubando meus pacientes pra ela atender, eu nao estava conseguindo ter mais controle dos meus atendimentos. Ela confundiu substituir com roubar os pacientes do colega.

- Meritíssima, eu protesto. - diz Drª Chelsea se levantando.
- Motivo? - pergunta a juíza.
- A minha cliente é também cirurgiã pediatra, ela tinha total direito de atender os pacientes do Dr Chambers com a autorização da chefe do hospital, autorização essa que existiu assim que a minha cliente começou a trabalhar lá dentro.
- Protesto aceito. Prossiga, Dr Steven.
- Tudo bem, meritíssima. Encerro as perguntas por aqui.

- Chamo para depor a senhora Arizona Robbins-Torres, processada por injúria, difamação e abandono de emprego. - diz a juíza.

Arizona se levanta.
- Em ordem, Dr Steven é a sua vez.
- Obrigado, excelência. Tudo bem, Drª Robbins? Ou devo lhe chamar de Arizona?
- Drª Robbins.
- Ótimo. Vamos lá, a senhora se declara dona do Grey-Sloan?
- Sim, declaro.
- E por qual razão esteve em NY?
- Vim por questões pessoais.
- Imagino que seja a mesma questão citada pela Drª Torres. A senhora esteve no acidente que causou o ganho de milhões de dólares a vocês?
- Estive.
- E foi a senhora que declarou a compra do hospital com a ajuda de uma das maiores fundações médicas do estado?
- Foi eu mesma.
- Seja mais complexa nas respostas, Drª Robbins.
- Sou objetiva e direta.
- Tudo bem. Prosseguindo: a senhora por ser dona de um hospital enorme, tendo uma responsabilidade grande de comandar até mesmo a distância esse local, sabendo da postura que uma chefe precisa ter, foi acusada de injúria e difamação contra a sua chefe atual. Assume o processo? Assume que errou? E assume ainda mais que o seu contrato não pode ser quebrado por questões empresariais? A senhora deveria saber disso, contratos rodam em hospitais direto.
- Não assumo nada.
- Porque não? Os processos estão aqui em mãos. Dos três, um deles você precisa assumir pra juíza.
- Não preciso. Como minha advogada citou, não existe fidelidade em contrato quando se vai trabalhar em algum lugar. Meritíssima, me escuta! Eu tinha uma vida em Seattle invejável. Eu errei com a minha esposa mas eu vim consertar e consertei. Hoje somos mães de duas crianças maravilhosas. Tudo bem essa questão de ser dona de um hospital mas o que isso tem a ver? Não sou dona solo, existem mais quatro pessoas que cuidam de tudo. Iniciei meu trabalho no The York extremamente empolgada com a inclusão do meu departamento de fetal, e eu fiquei tão feliz. Mas chega a ser uma piada ter que escutar que o contrato que eu assinei não poderia ser rompido caso eu desistisse. Meritíssima, aqui eu vivi, aprendi e chorei muito. Aqui eu tive traumas, quase morri e quase perdi meu filho e a dor foi grande pra minha esposa, meus pais e meus amigos principalmente. E esses mesmos amigos estão longe. Tudo bem, eles também fazem parte do ciclo de donos do hospital mas deixa a ganância um pouco de lado e foca no carinho, no afeto, na proteção e no cuidado. Eu não tive eles por perto para abraçar minha esposa quando ela mais precisava, pra segurar meu filho quando ele chorou sem mim, para brincar com a minha filha mais velha só pra ela esquecer o que estava acontecendo. Eu assumo que errei feio quando entrei na sala da Drª Chandra, batendo na mesa e querendo explicações, eu assumo esse erro e vou arcar com a consequência disso. Mas eu não quero e não vou aceitar que a consequência seja viver presa em um lugar onde estou refém. Eu não vou aceitar amigas que cultivei aqui em NY serem prejudicadas por algo sem sentido, elas fizeram absolutamente nada. Se possível eu levo elas comigo para Seattle, dou um jeitinho e converso com a Drª Bailey e incluímos elas nas grades dos médicos. Mas eu preciso voltar a ter minha vida e eu preciso ter meus amigos de volta! - diz Arizona aos prantos enquanto falava.

- Vossa excelência não foi isso que perguntei... - Dr Steven é interrompido pela juíza.
- Não há necessidade de ouvir as demais testemunhas presentes. Tenho argumentos suficientes para a minha decisão. Aguardem por 20 minutos e retornaremos para eu dar meu veredito final. Licença. - diz a juíza saindo da sessão.

Corro em direção a Arizona e lhe dou um abraço.
- Você disse que não ia falar tanto e arrebentou meu amor. - digo pegando em seu rosto.
- Não queria ter desabafado dessa forma mas... eu não consegui segurar. Não foi proposital, só saiu as palavras da minha boca. - diz ela, ainda chorando.
- Você só disse o que estava preso no coração. Vai dar tudo certo! - digo, lhe abraçando.
- Não é o recomendável mexer com o psicológico da juíza mas, você fez muito bem em dizer o que estava sentindo, Arizona. - diz Drª Chelsea.

~ passado 20 minutos ~

- Juíza preside no local. - diz o representante do fórum.
Todos voltamos aos nossos lugares.
Coração acelerado.

- Após um dia de depoimentos, consegui analisar todos que foram ouvidos e cheguei ao veredito. Declaro que o hospital The York, situado em Nova York (Estados Unidos), terá que interromper os devidos contratos: Drª Calliope Iphigenia Robbins-Torres e Drª Arizona Robbins-Torres. O hospital terá até 6 dias para interromper os contratos citados acima sem cobrar algum tipo de multa ou taxas. Declaro também, que as médicas comentadas no caso, são INOCENTES das seguintes denúncias: difamação e injúria contra Drª Chandra Wilson. Cheguei nessa conclusão após escutar que duas médicas que não teriam relação direta com caso, estariam sendo prejudicadas com a decisão tomada pela gerência do local. Após isso, declaro também que, Drª Chandra Wilson irá ser afastada da gerência do local e se não houver a resposta positiva, será processada pelo estado por posse de cargo. O hospital The York precisará escolher outro médico para seu posto e o novo chefe terá que se apresentar ao fórum para mudanças no contrato atual, transformando ele em "contrato sem fidelidade ao local".
Sem mais delongas agradeço a compreensão de todos. Decisão tomada por mim e não haverá volta. Caso a atual chefia decida recorrer, o tribunal está a disposição. Estão todos dispensados, tenham uma ótima tarde. - diz a juíza batendo o martelo e saindo da sala.

Todas nós comemoramos mais essa vitória!
Não acredito que vamos poder voltar com as nossas vidas normalmente!!!
Enquanto comemorávamos, ouvíamos Drª Chandra indignada com a decisão:
- ISSO É UM ABSURDO! EU VOU... EU VOU RECORRER E ISSO NÃO VAI FICAR ASSIM! - diz ela, gritando.

- Meninas não liguem pra ela, foquem nesse veredito. Vocês ganharam a liberdade de voltar a Seattle! - diz Drª Chelsea.

Kim e Caterina vem nos abraçar.
- Obrigada pelo que fez pelo The York! - diz Kim, com os olhos cheios de lágrimas.
- O que eu disse é verdade! Se puderem ir pra Seattle com a gente, será um prazer ter vocês no time do Grey-Sloan. Teddy, Maggie e Amelia ficaram felizes com as novas parcerias! - diz Arizona a elas.

Todas rimos e ficamos felizes por tudo aquilo ter acabado.
- É meninas, tá tudo muito bom mas não querendo estragar o clima, porém agora vocês precisam esperar trocar a chefia do hospital pra assinar a quebra contratual. Porque com a Drª Chandra vai ser impossível da mesma forma. E vocês precisam ajudar aquele lugar a escolher alguém de confiança, antes de irem embora. - diz Caterina.

Ficamos pensativas.
E agora?
Quem será o novo chefe do The York? Será que deixaremos o hospital em boas mãos?

O QUE NOS ESPERAVAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora