A Nossa Vez De Ter Uma História (FINALIZADA)

Capítulo 15 (Gabriel)

Os livros sempre me levaram a conhecer amizades incríveis, como o trio de ouro. E sempre fui muito grato por ter amizades, assim na minha vida. Por várias vezes nos últimos anos me peguei pensando em como eu estava entediado com a minha vida. Então lia, assistia filmes, ligava para meus amigos, ia para festas... Tentava fugir da realidade, eu me sentia como um coadjuvante. Contudo, nas últimas semanas tinha percebido como estava sendo bobo. Mesmo que nada extraordinário nunca tivesse acontecido. Qual era o problema? Eu tinha uma vida incrível e meus amigos também! Pensei várias vezes em contar a verdade inteira para eles, mas o receio era maior. Afinal o medo do meu pai era constante, principalmente porque eu sabia que ele não conseguia se controlar e infelizmente só eu tinha visto esse lado dele. Quer dizer, eu tinha contado a Enzo, porém ele não estava lá e não sentiu o pavor que eu senti... E nem compreendia a mesma pressão que eu sentia desde novo. Por que meu pai me tratava tão diferente, às vezes?

E aquela única explosão aconteceu, por causa de algo tão bobo... Eu havia enterrado aquela lembrança, mas agora ela passava na minha cabeça com frequência, pois tinha medo de acontecer novamente. Pelo menos, Felipe fazia as ações de meu pai sumirem da minha mente, quando pensava no meu principe negro...

Eu disse meu? Eu estou fudido mesmo e esse apelido é bobo... De qualquer forma, eu não entendia as ações do meu pai, por causa de coisas simples que eu fazia e me sentia mal por me ser tão afetado por suas ações.

Eu estava tentando cada vez mais me soltar da máscara que criei e desejava simplesmente conseguir ligar o modo foda-se para eu fazer o que tanto queria... Contudo eu era lerdo, burro e sem personalidade.

Eu ainda não achava que tinha uma história e também estava com medo dos meus últimos pensamentos... Sentia que estava dirigindo para um lugar desconhecido e que poderia ser melhor continuar com a vida monótona de antes. Porém Felipe me arrancou de lá e percebi muito tempo depois que talvez não tivesse mais volta. Eu sempre fui desse jeito? Finalmente eu me via sem a máscara?

Senti um cutucão de André nas minhas costas e o olhei assustado, já que estávamos no meio da aula de química e ele havia me despertado dos meus pensamentos. O garoto deu um sorrisinho e me entregou um papelzinho. Minhas amigas e ele sorriram como cúmplices quando abri o recado. Era um post-it rosa, provavelmente da Paula, já a letra era da Amanda... Li rapidamente e bufei irritado. Eles não desistiram? Depois que contei a meia verdade, meus amigos disseram que não insistiram em saber quem era a "garota" que eu gostava. Eu fiquei feliz por eles respeitarem meu espaço.

Que ingênuo...

Devia ter lembrado que nunca escondemos nada um do outro e que eles eram muito fofoqueiros! Assim que chegou o fim de semana, as perguntas começaram. Recebi mensagens o dia inteiro... No começo eu só ignorava, mas agora já estava me irritando. Eu tinha medo deles descobrirem a farsa, pelo menos, minhas conversas com Felipe me faziam esquecer deles.

Como você não percebe que estou apaixonado por você? Eu estou quase explodindo para ter controle ao seu lado...

- Porra! Já falei que não vou contar nada! - sussurrei com raiva. Apesar de muitas pessoas estarem conversando, eu tinha medo de alguém escutar a nossa conversa - não adianta me comprar com livros.

O bilhete dizia que se eu contasse, eles iriam à livraria comigo, provavelmente queriam fazer piada comigo. Mas eu já estava irritado... Eles começaram a rir da minha reação desproporcional. Afinal, um dos meus defeitos era que meu humor é meio volátil... Como diz Enzo, não tem como ser perfeito. Por isso, meus amigos amavam como era fácil me irritar e faziam isso com frequência. Infelizmente minha paciência podia ser igual à de Pandora.

- Quer dividir algo com a turma, Gabriel? - o professor de química perguntou.

Caralho, tinha várias pessoas conversando! Por que ele iria brigar comigo?