Capítulo 11 (Gabriel)

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Eu me sentia sujo, apesar do alívio.

Enzo havia me contado que ninguém se lembrava do beijo, então fiquei muito feliz. Pois era menos uma preocupação na minha lista, eu queria muito continuar próximo do Felipe, apesar do alerta que meu cérebro me dava, por causa disso. Então pedi desculpa pelo beijo, provavelmente ele estava bêbado. Já que nem havia ligado, talvez só eu tenha sentido tanta coisa com apenas alguns toques... Com certeza Felipe não sentia nada por mim.

Acabei mentindo ao falar que eu estava bêbado, porque eu não queria deixá-lo sem graça ou arranjar outro sentido para o que eu tinha feito, afinal um garoto hétero não escolhe beijar um menino e muito menos sente alguma coisa no beijo. Deveria ter sido algo mecânico ou sem graça, mas foi tudo, menos isso.

Eu me sentia culpado por mentir, principalmente para Felipe, ele não merecia nenhuma mentira, porém eu não queria aceitar que aquela decisão tinha sido totalmente consciente. Pelo menos ele não lembrava que eu só tinha ingerido pouco álcool, nada que me fizesse ficar bêbado...

Ainda bem que o princípe negro estava disposto a deixar esse constrangimento de lado e virar meu amigo.

Eu apenas queria ele próximo de mim...

Infelizmente, eu ainda sonhava com Felipe me beijando, o que isso significava? Será que eu tinha ficado traumatizado?

Enzo me respeitava e nem falava do assunto, eu agradecia a Deus por isso! Afinal não ia aguentar ele me enchendo com algo que não entendia ainda.

Já era quarta-feira e eu não conseguia desviar meus olhos de Felipe. Eu tinha pedido para ele ler um poema em voz alta para conseguir interpretar melhor, o garoto tinha suas dificuldades, mas eu estava confiante que ele ia conseguir superá-las!

Apesar da professora ainda estar ensinando sobre o trovadorismo, eu tinha pedido para Fê ler um poema de Luiz Vaz de Camões do classicismo, pois estava tentando ensiná-lo sobre a estrutura de um poema e como identificar. Finalmente, ele estava entendendo!

Felipe recitando aquele poema em voz alta é quase um sonho para minha alma de leitor, por isso, eu não conseguia olhá-lo de uma forma mais natural ou ficar menos agitado.

Porra Gabriel se controla! É só o Felipe, o melhor amigo do seu irmão!

- "Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor"

Eu quase suspirei alto quando ele terminou de falar, Felipe recitava com uma voz aveludada tão calma que fazia meu coração se descontrolar. Como um garoto tinha esse efeito em mim? Eu só tinha sentido algo assim com as minhas ex-namoradas, contudo a sensação ainda era diferente.

O pior é que eu estava duro...

Sério? Que porra está acontecendo? É só um garoto recitando um poema sobre amor!

Peguei um livro e coloquei no meu colo para disfarçar. Além de tentar acalmar minha respiração.

- Conseguiu ver as rimas? - perguntei, enquanto pedia a Deus para não estar corado.

- Consegui sim, foi bem melhor ler em voz alta. É um poema bonito - ele falou olhando para mim com intensidade.

Que porra é essa?

A Nossa Vez De Ter Uma História (FINALIZADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora