▪︎ quarantaquattro

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— Ela não é uma bastarda – meu pai entra na conversa — É minha neta, e vai ser muito amada aqui. Já passou da hora de parar de se martirizar com o que as pessoas dizem.

— Seu pai está certo Lorena, você precisa se reerguer – indaga Vicente me dando um beijo na testa.

— Eu não tenho mais motivos para me reerguer – falo com os olhos molhados.

— E aquele trabalho de gestante que te contrataram para fazer, hum? Ficou incrível e vão te pagar bem.

— Eu nunca mais conseguirei um trabalho descente depois dessa gravidez – as lágrimas começam a cair — Minha carreira mal começou e já acabou.

— Um dia você vai se lembrar dessas palavras e vai saber como foi cruel consigo mesma. Tudo vai ficar bem, confie em si mesma.

— Obrigada por estar aqui, mesmo depois de tudo ter a sua amizade em um momento como esses me dá muita força – falo puxando-o para um abraço.

Logo afasto nossos corpos e me levanto com dificuldade, saio do ambiente com a desculpa de ir ao banheiro e caminho até o meu quarto. Quando chego no cômodo fecho a porta atrás de mim e me permito desfalecer. As lágrimas caem sem que eu consiga controlar, olho para o berço do lado da minha cama e tudo parece se intensificar ainda mais.

Eu não estava pronta para isso, não podia ter me tornado mãe aos 21, tinha tantos sonhos e tudo acabou. Não há mais expectativas, não há mais planos, não há mais esperança para mim.
Essa criança não tem culpa, ela não é culpada por eu ter me envolvido por um homem casado e tampouco por eu ter me apaixonado por ele, mas isso não poderia estar acontecendo, esse bebê não deveria estar dentro de mim.

Porque fui tão irresponsável?

Não consigo me perdoar por ter permitido que isso acontecesse, designei um futuro injusto a uma criança e a culpa é toda minha. Ninguém merece crescer sem pai sendo apontada por todos como fruto de uma traição.

Porque ele não está aqui? Eu precisava dele! Onde ele está? Meu Deus! Onde ele está?

Pego o telefone e disco seu número sabendo que não serei atendida. Então o toque da caixa da mensagens soa e mais uma vez me disponho a falar tendo consciência de que provavelmente nunca serei ouvida.

— Eu queria tanto você aqui italiano. Sei tudo o que fiz, mas não imaginava que você tinha deixado uma sementinha aqui e ela está crescendo, crescendo muito. Estou tentando a deixar florescer, mas é muito difícil porque sozinha não consigo ter raízes sólidas – meus soluços se intensificam cada vez mais — Como vou fazer isso sem você? Qual vai ser o futuro dessa criança sem você aqui Luigi?

Nesse momento um líquido quente começa a escorrer por minhas pernas, deixo o celular cair no chão e uma dor aguda no abdômen me invade por inteiro, solto um grito alto quando mais uma vez outra contração vem ainda mais forte q a anterior.

Logo toda minha família está no quarto, Vicente me pega no colo e me coloca no banco de trás do seu carro, logo minha mãe e minha avó também entram no veículo. O fotógrafo arranca com o carro sem olhar pra trás e logo chegamos no hospital, com a ajuda do rapaz entro no ambiente e sou rapidamente atendida, enfermeiras me ajudam a tirar a roupa e colocar o traje hospitalar e então sou levada para sala de parto.

Ela está chegando.

Chego no cômodo deitada na maca aos gritos, a dor que está no meu corpo é incomparável e não consigo sequer respirar direito. Com a ajuda do médico começo a fazer força, meus ossos parecem se desmontar enquanto tento forçar meu corpo mais uma vez.

SFOGARSI Where stories live. Discover now