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No outro dia de tarde...

Tá aí uma coisa que você odeia quando mora em uma comunidade são as invasões, é bala para todo lado acertando crianças, idosos, adolescentes, pessoas inocentes... E quando você tem pessoas lá fora no meio de toda essa guerra, meus irmãos, o Metralha... Todos que estão lá fora. Oh meu pai, proteja os meus meninos, sei que eles são apenas meros pecadores mas ainda sim são seus filhos e merecem a sua piedade, eu posso estar sendo egoísta, mas... Eu acabei de reencontrar os meus irmãos, eu acabei de encontrar alguém que eu goste de verdade, eu acabei de descobrir o que é esse tão falado amor, então pai, não me tire isso agora, por favor.

Reportagem: hoje no complexo do Alemão está acontecendo uma tentativa de pacificação, por enquanto temos a informação de apenas cinco vítimas, três jovens entre vinte e vinte e um anos, e duas crianças entre três e cinco anos- fala e eu já sinto as lágrimas rolando soltas pelo meu rosto
Eu: por favor meu pai, eles não- falo desesperada andando de um lado para outro na sala da casa dos meus pais enquanto a minha mãe se enfiou na cozinha para fazer alguma coisa para gente comer e o meu pai foi até o morro atrás de informações.

Como eu estou despreparada para uma invasão o Metralha mandou dois vapores me trazer para casa dos meus pais e me entregou um radinho e uma corrente do Pesadelo que ele fez questão de colocar no meu pescoço, não tenho um irmão preferido mas o eu e o Pesadelo sempre fomos os mais próximos, sempre mesmo.

Radinho:

- Cobra- me chama no radinho e eu já vou num pulo pegar o mesmo
Eu: Cobra na voz, qual é a situação aí na favela?- pergunto preocupadona já
- Metralha, Pesadelo e Menor tão no postinho esperando a ambulância poder subir chefe, a coisa tá feia para o teu irmão- fala e eu sinto um aperto no peito
Eu: tô a caminho- falo pegando a arma que eu o Menor esconde em baixo do sofá
- o patrão mandou deixar você longe da favela
Eu: eu falei que estou a caminho dessa porra, não perguntei a opinião do seu chefe- falo e desligo o radinho.

Radinho:

Prendo o radinho no cós do short e coloco a arma na parte de trás da cintura, pego a chave da moto que eu vim e já saio direto para o morro acelerada, a favela não é longe daqui não, para a minha sorte, deixo a moto na estrada deserta que dá acesso ao morro e já pego a arma na cintura destravando a mesma, entro na favela me esquivando pelos becos e pelas vielas até o postinho, entro vendo o Metralha na sala de espera com o braço encaixado e uma cara muito da boa não, o Menor numa cadeira de rodas com a perna encaixada e o único que eu não vejo é o Pesadelo.

Eu: cadê o Lucas?- pergunto fazendo os dois me olharem
Metralha: eu falei que queria tu longe da favela caralho- fala levantando putão
Eu: tu cala a tua boca e senta aí, cadê o meu irmão?- pergunto já alterada
Menor: tá na cirurgia, subiu uma ambulância mas não dá para levar ele num pronto socorro- fala e eu esfrego o rosto nervosa.

Fico andando de um lado para o outro nervosona e aos poucos os barulhos de tiros fora diminuindo e logo os fogos começaram, não demora muito e o Lucas sai apagado numa maca direto para a ambulância.

Eu: para onde vão levar ele?- pergunto para um médico
- para um pronto socorro, ele precisa de uma cirurgia urgente- fala e sai correndo para a ambulância.

Olho para os médicos colocando o meu irmão na ambulância e a ambulância saindo acelerada, meu chão sumindo dos meus pés, meu mundo foi perdendo a cor e foi desmoronando a minha volta, sinto braços me rodeando e viro vendo o Metralha me olhando preocupado e trato logo de me recuperar para não chorar ou demonstrar fraqueza.

Metralha: você está bem?- pergunta e eu confirmo com a cabeça me soltando dele- tem certeza?- pergunta e eu novamente confirmo com a cabeça
Eu: vão para casa tomar um banho pelo menos, vou atrás do pronto socorro que ele está- falo e saio andando de lá.

Pego o endereço do hospital que levaram o Lucas e corro para aonde eu deixei a minha moto, monto na moto e saio acelerada para o tal hospital, chego e deixo a moto na frente do hospital entrando no mesmo desesperada, vou até o balcão atrás de alguma informação e só me falam que o estado dele é delicado e que ele ainda está em cirurgia.

[...]

Minha família já chegou no hospital e já foram embora, agora deve ser umas três da manhã e eu ainda estou aqui qualquer notícia que seja do Lucas. Tivemos que trazer ele para um hospital particular com capacidade de tratar o caso dele, no pronto socorro público ele ia acabar morrendo.

Médico: parentes do paciente Lucas Montenegro- chama e eu já me levanto num pulo indo até ele
Eu: aqui doutor- falo e ele me olha em dúvida
Médico: tem mais alguém com você?- pergunta e eu nego com a cabeça- você é o que do paciente?- pergunta olhando a prancheta
Eu: irmã- falo e ele confirma com a cabeça
Médico: seu nome por favor- pede ativando a caneta
Eu: Letícia Montenegro- falo e ele anota na ficha do Lucas- como o meu está doutor?- pergunto desesperada
Médico: seu irmão está em estado grave, o caso dele é bastante delicado, se ele não demonstrar nenhuma reação em até vinte e quatro horas vamos decretar o óbito dele- fala e eu começo a me sentir graça- a senhorita está bem?- pergunta e eu confirmo com a cabeça
Eu: obrigada doutor- falo e ele me olha com dó
Doutor: gostaria de ver o seu irmão para pelo menos se despedir?- pergunta e eu confirmo com a cabeça
Eu: eu posso?- pergunto e ele confirma com a cabeça
Médico: na verdade o horário de visitas acabou, mas como o estado do paciente é bastante delicado eu abro uma excessão para você- fala e eu confirmo com a cabeça.

Ele me leva até o quarto e eu entro vendo o Lucas todo cheio de fios, respirando por aparelhos, oh meu pai amado, o que fizeram com o meu irmão?

Médica: vou deixá-los a sós- fala e sai do quarto fechando a porta
Eu: o que fizeram com você meu irmão?- pergunto segurando a sua mão enquanto aliso o seu rosto com delicadeza- acorda Lucas, pelo amor de Deus, acorda, eu não sei e não quero viver sem você agora que eu te encontrei, por favor Lucas não me deixa, por favor- falo quase chorando.
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Hey babys, gostando do capítulo? Espero que sim! Não esqueçam de votar, comentar o que estão achando da história e até segunda-feira.

Meu Glorioso PecadoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora