Arrasado de um jeito quase impossível, Thomas entrou no seu dormitório, bateu a porta e se jogou na cama, afundando o rosto no travesseiro para abafar os soluços que tinha segurado até ali. Por sorte, o seu dormitório era do outro lado do subsolo, então Nancy não poderia sequer imaginar o seu choro.
- Ei, Thomas. - Teresa entrou no quarto devagar. - O que aconteceu? Jurei que você ia quebrar a porta.
Ele tinha esquecido que o dormitório de Teresa ficava logo ao lado do dele.
- M-Me... Me deixa em paz... T-Teresa. - o menino soluçou, afundando a cabeça no travesseiro ainda mais.
- Não. - a menina respondeu firmemente, puxando a cadeira que havia ali para se sentar. - Fala comigo, Thomas! Por que você tá chorando?
- Você sabe muito bem! - ele exclamou em meio a soluços, sentando-se e dando um murro no colchão. - Você sabe muito bem, Teresa.
- Ah, isso de novo? A gente já falou sobre isso.
- Você não entende...
- Para de falar isso! Eu entendo, sim. - ela interveio, assustando Thomas por um momento. - Acha que não também não me sinto mal por saber onde a família da Nancy está e pelo o quê eles estão passando? Principalmente o Newt, que nem imagina que teve dois irmãos!
- Ele não teve, ele ainda tem. - Thomas corrigiu com firmeza. - O Newt só não se lembra. E foi a gente que deixou isso acontecer. Não era pra ele ter esquecido de nada! Imagina se Nancy descobrir?
- Ela não vai. - Teresa se levantou. - Ela não vai descobrir porque você sabe que é melhor pra ela assim.
- Eu sei! Eu sei! - Thomas também se levantou, quase histérico e voltando a chorar. - Mas eu não sei até quando eu vou aguentar. Eu não sei até quando eu vou conseguir conversar com a Nancy sem abrir a boca para dizer o que houve com os irmãos dela e principalmente com a mãe dela. Agora a pouco, ela me disse que tá morrendo de saudades da Megan. Você sabe o que eu queria fazer? Eu queria levá-la pro subsolo seis, contar que a Megan passou os últimos três anos fazendo um tratamento especial por causa do Fulgor e deixar a Nancy lá pra elas conversarem como uma mãe e uma filha têm o direito de fazer, além de poder acabar com essa agonia que eu sei que as duas sentem por não saber onde a outra está. E eu me sinto um… Um… Eu me sinto uma pessoa horrível fazendo isso! Eu não mereço nem ouvir a Nancy me chamar de melhor amigo, porque eu deixei que destruíssem a família dela por uma porcaria de cura!
- Você diz que eu não entendo, mas é como se você tivesse lido a minha mente falando tudo isso. - Teresa respondeu com a voz dura, segurando as lágrimas na beirada dos olhos. - Sabe de uma coisa, Thomas? Eu entendo como é sentir falta de ter uma mãe também, assim como vocês dois. E por causa do Fulgor, eu a vi enlouquecer no quarto da nossa casa ao ponto de arrancar os próprios olhos.
A expressão de Thomas se abrandou, o que só encorajou a menina a continuar.
- Essa porcaria de cura que estamos procurando poderia ter salvado a minha mãe, a sua e ainda pode salvar a Megan. Sim, é muito duro não poder contar nada disso pra Nancy, mas é o melhor que podemos fazer por ela. Você não queria protegê-la? Eu também quero! E eu acho que eu pouparia muito da minha melhor amiga se eu não contasse sobre a mãe dela até que ela estivesse curada, porque eu não quero que a Nancy passe pelo o que eu passei, entendeu? Eu não quero que ela veja como essa doença consegue consumir a mente da Megan, mesmo que isso signifique manter tudo em segredo. Sacrifícios têm que ser feitos de vez em quando, Thomas. É assim que eu penso.
- Mas tem que ter outro jeito. - Thomas respondeu depois de pensar um pouco. - Tem que ter outro jeito de encontrar uma cura. A gente não pode matar, torturar… Mesmo que seja por uma causa nobre com encontrar uma cura pra esse maldito vírus, nós não temos esse direito.
- Você está sendo egoísta!
- Egoísta?!
- Sim! Egoísta! - ela repetiu. - Você só tá preocupado em se livrar dessa culpa e dessa… Dessa agonia! Você já parou pra pensar quantas pessoas lá fora também estão sofrendo por causa do Fulgor?
- Independentemente disso, eu não tenho o direito de esconder uma coisa dessas da minha melhor amiga!
- Mas você vai. - Teresa afirmou, mais dura e severa a cada palavra. - Você vai porque sabe que é o melhor pra Nancy e pra todo mundo. Por mais que isso te doa, você não vai contar nada para ela.
Antes que Thomas pudesse argumentar, Teresa se virou e saiu, balançando aqueles cabelos pretos no ar enquanto passava pela porta para batê-la com força.
O menino estava atordoado com toda aquela discussão, ainda mais porque nem sabia a razão dela ter começado. Ele entendia que o objetivo do CRUEL não era tão ruim, mas tinha quase certeza de que os fins não justificavam os meios e encontrar uma cura através de tantos sacrifícios - dos quais muitas pessoas não tinham nem opção - não valia a pena. Porém, Thomas também se sentia ingrato. O CRUEL havia dado tudo o que ele precisava: roupas, uma cama, comida, cuidados, escola, amigos... Isso tudo o confundia.
A única pessoa no mundo que o compreenderia tão bem quanto qualquer outro ser humano era Nancy, mas Thomas, depois de todo aquele sermão de Teresa, não tinha coragem nenhuma de voltar a dizer um piu sobre aquele assunto para absolutamente ninguém.
YOU ARE READING
Before I Forget You《 Maze Runner Fanfic 》
Fanfiction[4/4] ▪ [CONCLUÍDA] Apesar de ter recuperado a memória, Nancy se lembra vagamente da sua vida antes do Labirinto, como se fosse outra encarnação sua, algo tão vago quanto um quarto vazio e tão sombrio quanto um porão sem luz. E ela não gostaria de l...