36 - Caixas de Panetone

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Eu comprei um biquíni. Colorido. Não é como se eu fosse usar muito, mas usarei hoje. Eu coloco algumas coisas a mais na mochila de praia de sempre, espátulas velhas de bolo, um isqueiro e o arco do violino, que impede o zíper de ser fechado. Acho que Eos e Morgana estarão lá, junto com meu tio, já que não foram nos últimos dias. Espero que ela veja Pandora. E as duas conversem. Mas hoje preciso focar em resolver, antes de tudo, do início.

É engraçado como, parando pra pensar, faz um bom tempo que não vejo os filmes estadunidenses que me fizeram inventar uma cápsula do tempo. É engraçado também dizer que eu nunca cogitaria fazer uma dessas agora e que, enquanto tudo que escrevi está na minha mente, não me lembro de nenhum objeto que deveria lembrar agora, com tamanha importância. Aposto que Pandora não faz ideia também. A gente não bolou muito a lista, o que traz tantos erros na minha, e duvido que haja qualquer coisa real importante pensada em uma única tarde pós filme da sessão da tarde.

Eu espero.

— Oi! — digo, deixando a mochila ao lado das duas.

Enquanto Morgana usa biquíni completo, Eos usa apenas a parte de cima, algo tão simples que combina com ela, e um calção.

— Pensei que você estivesse incomodada com o mar — Morgana me observa. — Já eu, vou simular um afogamento no raso para não ter erro. Tua amiga é linda, ein?

Eos ri.

— Você conversou com ela?

— Ainda não, mas Morgana topou com ela e está apaixonada — brinca, levando um soco no ombro.

— Só estava observando. Liga não, a Eos está com ciúmes.

Eos a olha incrédula, abrindo a boca sem dizer nada.

Nunca. Além do mais, aprendi quando você está blefando nos seus flertes e quando está falando sério.

— Até porque rola só com você, né? Eu sei diferenciar porque fui a única que você trouxe pra conhecer a família, né? — Morgana provoca, beijando Eos antes que ela revire os olhos. — Vai entrar no mar, Gênesis?

— Vou. Se virem a Pam de novo, diga que preciso falar com ela — aviso, tirando a camiseta e vendo de soslaio as mãos das duas se entrelaçarem minuciosamente.

Como moradora da ilha, mesmo que eu não fosse a melhor nadadora, seria quase pecado não saber nadar. Mas é tanto tempo sem realmente querer entrar no mar que sou cautelosa quando chego no fim do cais, como fazia antigamente, e coloco as pernas dentro da água. Fresca. Não só eu e o drama pra entrar na água, mas o que ela causa, combatendo o calor que o sol me faz sentir. Entro de uma vez, balanço os pés para não me fazer ir direto para o fundo.

Eu estou duvidando da minha capacidade de nadar ou mergulhar agora.

É impossível esquecer algo que aqui a gente nasce sabendo, praticamente, certo? Mesmo que eu não tenha nascido aqui.

Eu entro por inteira na água, fechando os olhos e soltando a respiração devagar. A sensação é esquisita e me faz voltar em poucos segundos, recuperando o fôlego. Não é medo do mar, mas sem uma mísera conexão que parece me repelir para fora. Tento de novo. Mais uma vez. Não ultrapasso uma linha imaginária na minha mente que me afaste demais das pessoas mais próximas.

Não tem objetivo algum. Eu não estou pensando em nada. Só estou inteiramente focada em normalizar minha relação com o mar. Devagar. Minhas pernas balançam, tento lembrar das aulas de natação. Não esqueci como nadar, só estou com medo.

— Deveria tentar mais perto de uma superfície mais palpável. Ou um lugar menos fundo — Ouço Pandora dizer, na décima tentativa.

A roupa de mergulho, as pernas balançando enquanto ela me observa sentada no cais.

A Origem de GênesisWhere stories live. Discover now