Capítulo 2 - Elly May

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Pov Camila

O travesseiro embaixo da minha cabeça é... fantástico pra caralho. Quero dizer, de verdade. Como uma nuvem ou algo assim. O que é estranho. Por que estou ficando excitada com um travesseiro?

Esse pensamento excêntrico me acorda o suficiente para me fazer abrir os olhos. A luz do Sol queima e eu estremeço, estreitando meus olhos por um segundo. 

O quarto é branco. Paredes com painéis de madeira caiadas brancas, lençóis brancos, cortinas brancas balançando com a brisa suave que entra pela janela aberta.

Pressiono meu rosto contra o travesseiro frio que parece uma nuvem e respiro fundo. Há um machado de dor dividindo meu crânio no meio. Minha boca tem gosto de torrada queimada.

Na mesa de cabeceira está um copo grande com alguma bebida vermelha. Está cheio de gelo, como se alguém tivesse acabado de trazê-lo. Próximo a ele estão quatro pílulas azuis transparentes e um bilhete: 

Para as criminosas estúpidas.

Apesar do fato de que o movimento faz meu estômago revirar, eu bufo. Lembranças da língua afiada da minha anfitriã e mãos ásperas invadem minha cabeça. Eu as ignoro, porque realmente não quero lembrar o quão bêbada estava e pego o copo.

A bebida lembra vagamente um Bloody Mary, mas também tem cheiro de algo cítrico. Não quero tomar isso, mas o machado está indo mais fundo e estou com muita sede.

Desce com tudo, engasgo ao longo do caminho, as pílulas que tomo com ele quase ficam presas na minha garganta. A mistura é efervescente, o que é uma surpresa. Eu suponho que é Bloody Mary misturado com refrigerante de gengibre e limões, mas diabos, talvez haja arsênico aqui também. 

Quando termino, gosto do sabor e sinto que posso viver. Me deito na cama de nuvens brancas, sinto o cheiro de salmoura no ar e ouço sinos de vento. Até que as batidas de panelas e de uma porta de armário prendem minha atenção. Elly May.

Se o nome dela realmente for esse, eu vou rir. Mas  a Elly May parece mais como uma garota sexy que anda de cavalo. O tipo que vai te secar e depois oferecer uma torta. Minha Elly May está longe disso.

Ontem foi confuso, mas me lembro bem dela: cara carrancuda. Boca suja. Comprovo isso novamente com um 'porra' abafado e outra batida de porta.

Grunhindo, me sento, respirando algumas vezes enquanto a sala gira. Estou pelada e tenho que sorrir para isso. O banho mais interessante que já tive em um bom tempo.

Demora uma eternidade para o quarto parar de girar e ainda mais para eu localizar minhas roupas. As encontro dobradas em uma cadeira cheirando a Tide. Minha avó usava Tide. Me visto e vou para a porta.

Dormi no quarto dos fundos de uma antiga casa de fazenda, aparentemente. Não me lembro como é o lado de fora, mas por dentro é um país livre com piso de tábuas e móveis desbotados.

Há um bom e usado Martin acústico encostado em uma parede inteira de estantes cheias de velhos vinis. Ela deve ter alguns milhares de discos. Fora o de alguns DJ's que eu conheci, nunca vi alguém ter discos de vinil reais. Eles dão ao quarto um cheiro de mofo.

Então, estou lidando com uma amante da música que toca violão. Por favor, Deus, não deixe essa garota ser uma espécie de Annie Bates psicopata. Mas então lembro do jeito que ela olhou para mim ontem. Eu duvido que seja minha fã número um.

Sigo o barulho e a encontro em uma cozinha, uma grande sala quadrada com uma daquelas mesas de fazenda clássicas no meio, que podem acomodar uma dúzia de pessoas.

Ela me ignora enquanto me sento à mesa, meus movimentos lentos e doloridos. Foda-se essa merda. Nunca mais vou beber tanto assim. Nunca. Mais.

No silêncio, eu a vejo mexer algo em uma panela no fogão como se estivesse tentando bater o que quer que seja até a submissão. Ela definitivamente não é uma caipira gostosa. Não é nenhuma Daisy Dukes. 

Uma Roqueira Em Minha VidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora