• 🌧 || 04. pegas no mauricinho

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LILI REINHART

Artista, o que foi aquilo na porta da escola? — Vanessa me pergunta assim que entramos em seu carro.

Nessa, um apelido carinhoso dado, fora a minha única amiga durante os últimos 8 anos. Conheci ela no primeiro dia de aula do quarto ano, estava sozinha e com medo de tudo a minha volta, e Nessa fora a única garota que se aproximou de mim e tentou uma amizade, que existe a 8 anos.

Eu tentara fazer amizade com outras meninas ao longo dos anos mas como sempre estive sozinha e na minha, as adolescentes da escola me taxaram como estranha, fazendo-me ficar meio excluída da sociedade. Mas gosto disso, ser o centro das atenções nunca foi e nunca será meu forte. Relacionar-me com outras garotas e garotos é meio vergonhoso para mim, e nunca sofri algum tipo de trauma ou coisa do tipo, por isso Vanessa está chocada pela cena de hoje.

Até eu fiquei chocada, não posso negar.

Nunca imaginaria que Cole Sprouse, o clássico popular babaca pegador e rei dos joguinhos da escola está, realmente, querendo ficar comigo. Quando Berna colocara nos como uma dupla quase me levantei e a esganei na frente daquela sala mesmo, já não bastava ele ter me visto dançando e ter todos os seus amigos me caçoando, ele agora queria inventar uma amizade. Pedi para trocar de dupla com a professora, mas ela explicou que fez isso de propósito, para podermos ter contato com outras pessoas sem ser nossas "panelas".

— O que, Nessa? — jogo minha mochila nos bancos de trás de seu Jeep. Nessa veio de uma família de classe alta, mas nunca fora uma daquelas garotas que esfregam seu dinheiro na cara dos outros comprando bolsas que pagariam metade de minha faculdade ou estragando seu rosto fazendo milhares de cirurgias. Vanessa não é assim, é totalmente ao contrário; não liga se a sua roupa e de marca ou não, ou se sua unha está de acordo com a estação do ano, ela é apenas ela.

— Não se faça, Lils! — diz, batendo em minha coxa coberta pelo jeans desgastado. — Cole Sprouse?! "Quero lhe dar um beijo..."! Não sei se aquele beijo era pra ser na bochecha!

— Vanessa! — exclamo, sentindo meu rosto queimar, enquanto minha amiga fingia beijar alguém — Não, pare! Nos conhecemos a dois dias.

Seguro seus braços, ela começa da rir da minha cara, fazendo-me rir também. Passamos um tempo paradas apenas nos olhando até que ela respira fundo e começa a ir em direção a minha casa.

— Mas, Lili? — ela começa a dizer. Insistência sempre foi o forte de Vanessa. Uma criança perderia para ela.

— Sim? — começo a mudar o rádio, tentando achar algo realmente bom.

— O que o Sprouse queria com você? — reviro os olhos e deito a cabeça no banco. Fecho os olhos e penso por um momento.

— Trabalho de arte. — falo, querendo parecer meio indiferente. Todos na escola sabiam que Cole Sprouse não se importaria com um simples trabalho de arte.

— Engane quem você quiser, mas não a mim. — ela dá uma risadinha discreta. — Está dando um pegas no mauricinho da escola?

— Vanessa! — arregalo os olhos. Quando vejo a esquina da minha casa e agradeço por já estar perto dessa sessão acabar.

Nessa para o carro ao lado da minha casa. Desligando o carro e pegando sua mochila ela desce e entra em minha casa, faço o mesmo. O cheiro tradicional e gostoso Nag Champa entra em contato com meu nariz assim que entro em casa.

Tiro o sapato e deixo no pequeno móvel e adentro em casa. Vejo meu cavalhete, quadros em branco e estante de tintas. A mesa de jantar estava posta com quatro pratos e copos, os sofás com as almofadas de sempre e a mesinha de centro com o xadrez estavam intactos. O cantinho preferido de mamãe estava limpinho e transbordava uma fumaça de cheiro bom. Na cozinha, minha mãe cantarolava uma música qualquer enquanto vazia alguma coisa.

— Lili, Nessa! — minha mãe olha com os idênticos e claros olhos em nossa direção. Dou um sorriso e atravesso o balcão de dou um beijo em sua bochecha. — Como vão minhas garotas preferidas?

— Ótimas, Mad. — Vanessa se joga no sofá e olha na direção da minha mãe, o balcão dívida a cozinha da sala. — Sabia que hoje Lili estava com Cole?

— Pelo amor de Deus... — sussurro adentro mais. Subo as poucas escadas da minha casa e entro no primeiro quarto.

Meu quarto era empestado por quadros meus. Mamãe e papai sempre me apoiaram muito com isso, não é por nada que tudo ao meu quarto é sujo de tinta assim como o resto da casa. Minha cama fica no canto do quarto, paralela ao guarda roupas. Ao lado do roupeiro meu cavalhete e tintas diversas estão espelhadas pela mesa que deveria ser de estudos.

Tiro meus sapatos e roupa e coloco um short e camiseta, depois vou até a sala.

Tinha escutado meu pai chegar em casa, e ele realmente chegou. Ele tinha um curto período de almoço e ia até em casa almoçar e ficar conosco antes de voltar a escola.

— Quem é Cole, Lili? — minha mãe me pergunta assim que nós quatro - eu, Nessa, papai e mamãe -, sentamos na mesa. Na minha lateral, Vanessa começa a rir, dou lhe um chute na canela.

— Meu parceiro de arte. — dou de ombros e começo a remexer a salada que tinha colocado no prato.

— Cole Sprouse? — meu pai se mete no meio. Conhecia metade da escola, e, por sorte, conhecia Cole também. Sempre chegava reclamando de que o mesmo o irritava na sala de aula.

— Sim, papai. Mas Berna colocou-me com ele! — olho em direção ao meu pai. Daniel podia ser professor, mas não tinha a aparência cansada ou rugas. Sua aparência juvenil sempre esteve com ele.

— Quer que eu peça para mudar de dupla? — privilégios de ter o pai professor na escola. Muitas da vezes que fiz um trabalho sozinha foi por causa dele.

— Não precisa, pai. Eu acho até bom fazer um trabalho com alguém que não seja a Nessa ou eu mesma. — pisco e começo a comer, tentando esquecer da sensação de ter sentido os lábios de Cole em minha bochecha mais cedo.

Imagino que por trás desse interesse todo tenha um de seus muitos joguinhos, levar a esquisitona para a cama, coisa que não vai acontecer.

Enquanto comia de cabeça baixa podia sentir os olhos deles diretamente em minha direção, acompanhando cada movimento meu. Era como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo e eles tinham que manter a sua atenção em mim para não perder nada, era tudo o que eu mais queria.

— Vocês podem parar? — digo, largando o garfo ao lado do prato. Nessa murmura um "desculpa", mamãe e papai também, e continuam a comer.

Após meia hora de silêncio, meu pai finalmente se pronuncia, explicando que já devia estar saindo de casa indo para a escola. Eu, mamãe e Vanessa arrumamos a mesa e nos sentamos nos sofás em frente a TV.

— Me falaram que esse programa é muito bom. — Vanessa diz quando paramos em um canal qualquer.

— Então é esse que vamos ver! — mamãe joga as pernas na mesinha de centro e me abraça de lado.

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Nag Champa é um incenso da India, muito bom aliás

storm.Where stories live. Discover now