Os assuntos que se seguiram foram inúmeros. Ministério, Hogwarts, as crianças. Por um descuido, Draco, que havia pego um bolo coberto de chocolate, deixou o cair no sapato do pai, que levantou em um rompante e esbravejou para o menino.

-Seu idiota! Olhe o que fez! Vai envergonhar sua família desde cedo? RESPONDA!- Gritou sem se importar com as visitas ou com o fato de que Draco tinha pouco mais de um ano e a coordenação motora ainda em desenvolvimento.

-Não!- A resposta veio automaticamente, observou Severus, como se o garoto tivesse ouvido muito aquela pergunta. Lucius se aproximou do filho e, segurando a mão suja de chocolate, deu um tapa nela, fazendo os olhos claros do menor se encherem de lágrimas. O que aconteceu em seguida, ninguém conseguiu acreditar.

Lucius não teve tempo de desviar de todos os bolos de chocolate que voavam em sua direção, sujando os cabelos loiros, o terno caro e, principalmente, o rosto esnobe. Narcisa escancarou a boca em choque, enquanto Severus tentava manter uma expressão neutra. Draco, ainda com os olhos cheios de lágrimas foi o primeiro a notar a menina de cabelos escuros sentada no meio da sala, chorando como se ela mesma tivesse levado o tapa. Com cuidado, o menino ignorou todos e caminhou até a prima, abraçando ela, que continuava chorando, deixando a pele e olhos claros, vermelhos.

-Nine? Nine! - O menino loirinho não sabia como acalmar a menina, chamando a atenção dos adultos com sua fala assustada. Severus, no mesmo instante, levantou do sofá e pegou a afilhada no colo.

-Jean? O que foi, você se machucou?- Mas não recebeu resposta nenhuma além dos soluços sôfregos- Jean, preciso que se acalme, estrelinha.

Usando de uma habilidade desenvolvida ainda em Hogwarts, Severus conjurou baixinho legilimens. Tendo, desse modo, acesso a mente da menor.  O que encontrou ali, deixou o homem assustado.

A primeira coisa que viu e ouviu, foi o rosto retorcido de ódio de Lucius, seguido por seus gritos. Depois, Bellatrix, com suas roupas escuras e seu sorriso psicopata, acompanhada de Rudolph Lestrange, seu marido. Jeanine, de quem Severus tinha a visão, estava no chão da antiga casa dos Lestrange. Ao lado da menininha, um corpo coberto de sangue, os olhos abertos e sem vida. A frente da mãe, uma mulher desconhecida chorava, implorando palavras incompreensíveis para uma menina de um ano. Então Bellatrix gritava, fazendo a filha se encolher ao lado do corpo, e gritava novamente. As feições distorcidas, assim como as de Lucius. Quando saiu da mente da menor, Severus entendeu o que havia acontecido.

-Não gritem perto dela- Fora a única coisa que dissera. Seja lá o que aquilo significasse, Lucius não ligava, apenas saiu da sala se sentindo humilhado. Narcisa, que agora segurava o filho no colo, concordou, se aproximando da sobrinha, que parava de chorar. Com um carinho nos cabelos da menina, a mulher depositou um beijo em sua testa, sendo imitada por Draco.

-Tudo bem, Jean. Vamos cuidar de você, estrelinha. -O resto da tarde, Draco e Jean brincaram em silêncio, as vezes o primo arrancava uma risada gostosa de se ouvir da menina, sendo observados pelos adultos que mais os amavam.

Em um tom baixo, Narcisa questionou Severus.

-O que você viu?

Com um suspiro que não pode ser identificado como de cansaço ou tristeza, o pocionista respondeu sem tirar os olhos das crianças.

-Sabia que Bella e Lestrange torturavam pessoas na frente dela?- Narcisa, com seus belos cabelos loiros e olhos claros, se  endireitou na cadeira, tensa- Imagino que isso signifique que não. Quando Lucius gritou com Draco e o bateu, foi como puxar um gatilho para a memória.

-Merlin! Eu nunca... Não achei que Bella fosse capaz de fazer essas coisas na frente da própria filha!- Massageando as têmporas, a loira continuou- O que pode desencadear a memória além dos gritos?

-Qualquer cena minimamente parecida, eu imagino. Vamos ter cuidado com o tom de voz perto dela a partir de agora. Se puder pedir a Lucius que se controle- A mulher concordou. Tudo o que importava era o bem estar de Jeanine e de Draco- Acho que seria melhor se ele fosse até a nossa casa, a partir de agora. Imagino que Jean vá se sentir mais confortável.

-É claro! Com certeza!- Depois de alguns minutos em silêncio, Narcisa tirou de dentro do boldo do vestido verde que usava, um envelope já aberto- Andrômeda me enviou. Perguntou se podia conhecer Jeanine. Eu ainda não respondi, já que é você quem deve decidir.

Severus ponderou o assunto, enquanto lia a carta escrita pela irmã mais velha de Narcisa.

Cissy,

Sei que Bella lhe deu esse apelido, mas sempre gostei muito. Sei que não gosta das decisões que tomei e que concorda com a queima do meu nome na tapeçaria dos Black. Tudo bem.

Mas não estou escrevendo para relembrar o passado. Em primeiro lugar, imã, está bem? Como vai Draco?

Em segundo, gostaria de saber se eu poderia conhecer minha sobrinha, Jeanine. Sei que Bellatrix não concordaria e entenderei se pensar assim, mas eu gostaria muito de poder ver, ao menos uma vez, o rosto dela. Jeanine. 

Por favor, Cissy.

Com todo o amor que eu tenho, Andrômeda Tonks.


-Não vejo motivo para negar o pedido- Foram as palavras de Severus depois de terminar a carta.

-E se Jeanine gostar de Andrômeda ou daquele... Tonks ou de Ninfadora?- Narcisa, que tinha os olhos arregalados, questionou. 

-Então a levarei para visitar os Tonks mais vezes- Olhando para a mulher, Severus continuou- Entenda, Narcisa. Bellatrix me escolheu como padrinho, deixou para mim a responsabilidade de educar Jeanine, sendo assim, vou fazer o melhor que puder. 

E, sem delongar a conversa, ficou decidido que Narcisa responderia a irmã dizendo que Severus levaria Jeanine para conhece-los no final de semana seguinte. Quando a noite se aproximou, Severus e Jeanine se despediram dos Malfoy (um Draco choroso implorava dizendo 'Nine', para que a prima ficasse) e voltaram para a rua da Fiação, onde o pocionista deu um banho na menina, que caia de sono. Quando a deitou no berço, não pode conter um sorriso triste ao lembrar dos horrores que tinham se passado pela mente da menina.

Se Severus tivesse usado o dom da legilimência novamente na afilhada, veria que o que rondava a mente da menina eram os braços gordinhos de Draco ao seu redor, levando o medo embora, assim como o carinho que encontrava nos braços do padrinho e o beijo de sua tia. Ele veria que eles eram a promessa de um futuro feliz para Jeanine.

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Oioi!

Gente, como vocês puderam ver, os primeiros capítulos vão ser dos primeiros anos da Jeanine com o Sev, como eu tinha dito. Algumas coisas sobre o tempo que ela ficou com os pais biológicos vão aparecer, além de mostrar toda a visão que a nossa protagonista tem da família Malfoy, Tonks e do próprio padrinho.

Serão cerca de cinco capítulos da primeira parte, de 1981 a 1990 e, depois, inicia-se a segunda parte. De 1991 a 1994. A terceira parte é de 1995 até 2000.

Espero que tenham gostado!

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Nox!

Sweet CreatureWhere stories live. Discover now