— Essas últimas semanas de aula, sabe como é.
— Tá nervosa.
— Não. Por que você acha?
— Por nada — suspira, guardando as coisas na minha mochila. — Posso pedir um favor teu?
— Claro.
— Tu podia perguntar para o Nathan se ele tem cordas novas de violino sobrando? Eu acho que esqueci de pedir novas.
— Você não acha melhor tocar em um violino novo?
— Violino não tem prazo de validade, boba. Acho que já tem uns... 3 meses? — Coça a nuca.
— Não tem prazo de validade, mas ele já passou por tanta mão que duvido que alguém cuidou tão bem quanto você — retruco, puxando o zíper da mochila. — Centenário quase.
— Eu gosto dele. Talvez o som não seja completamente igual a um novo, mas...
— Você pode tocar em um novo quando for coisas importantes e deixar o outro pra tocar em casa — sugiro e ela ri.
— É, tô pensando nisso, mas preciso juntar dinheiro pra comprar o violino que quero, que a data de fabricação vai ser tão velha quanto a do meu.
Seguro o sorriso. É óbvio que eu sei o violino que ela quer. Não porque saiu da sua boca, mas pela Tia Jô e o presente debaixo da cama.
— Mês que vem tu pede pro papai noel, talvez ele te dê — brinco, apertando o tecido da saia.
— O presente de natal que eu ganhei sem saber já valeu por todos.
— Qual?
— Não sei, a existência de alguém que nasceu na madrugada de natal — brinca, me fazendo rir. — Estou te irritando, mas sou grata por tua companhia. Novamente.
Céus. Viro o rosto, em direção a ela. Pam sorri, franzindo o rosto. Eu aliso o braço em puro modus operandi, sem perceber, antes de desviar o olhar. Talvez eu tenha apressado o andar também, implorando por bolsos pela milésima vez para disfarçar que minha mente também não sabe mais lidar com Pandora me olhando.
Só olhando.
Noto que Pam está brincando com o meu celular, de tela bloqueada. Ela bate com cuidado na palma da outra mão.
— Não trabalho mais essa semana. Vou treinar até sexta. Tô muito ansiosa. Quer ver como eu tô até agora?
— Não sei sobre música — digo, de antemão, e ela ri.
O riso bobo de alguém sem jeito. Ela ri pra disfarçar ou tardar sua resposta. Mas eu também não consigo entender o motivo da vez. Pandora ri, morde os lábios e não está olhando em minha direção antes de continuar.
— Companhia enquanto toco? Tenho mais três dias, sem contar com hoje, mas...
— Hoje... é terça? — pergunto, surpresa
— É.
Merda. Consegui me esquecer de um convite de sábado. Que beleza. Claro, passei os últimos dias fantasiando bobeiras. Pandora arqueia as sobrancelhas ao ver meu espanto, sem entender o motivo de eu estar absorvendo que hoje é terça-feira. Isaac. Como eu pude esquecer?
— Hoje tenho compromisso.
Um grande compromisso.
— Ah, tudo bem. Nada importante pra falar. Nada mesmo.
Ela tem bolsos no uniforme, mas consigo ver o movimentos dos dedos acentuando o tecido deles. A voz meia enrolada, falando algo que nem ela mesma parece entender. Assim que termina, ela enche a boca de ar antes de olhar para o lado oposto ao que estou.
VOUS LISEZ
A Origem de Gênesis
Roman pour AdolescentsGênesis tinha vários objetivos para o seu ensino médio, bem organizados em uma to do list. Só que alguns, em especial, eram mais importantes. Primeiro, entraria para o tão sonhado grupo de cheerleaders Furiosas do colégio Quartzo. Segundo, ficaria b...
29 - Espuma
Depuis le début