Capítulo 11 - ADMDA

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Leone Monteiro Fazzano.

O retorno era silencioso, eu ainda não havia acredito que ouvi aqueles absurdos em pleno século vinte e um. Entro na empresa cabisbaixo e derrotado, o quão eu sou fracassado por não ter conseguido o terno, já imagino a próxima surra de palavras que irei aturar do meu chefe. Suspiro antes de entrar em sua sala.

- Com licença, senhor Luís. – Adentro ainda cabisbaixo, na esperança de não ouvir nada desagradável. Ele me olhava com dúvidas, como se estivesse procurando algo que ele havia esperado.

- Onde está meu terno? - Ele se ergue da poltrona, colocando sua mão direita suavemente em seu bolso, exigindo uma resposta.

- Bem, eu... – Ele me interrompe de uma maneira ríspida e estúpida.

- Sem rodeios, Leone! Eu quero saber aonde está o meu terno. Era um trabalho simples, ir lá e trazê-lo para mim. – Ele cerrou o punho, dando um soco firme na mesa de vidro que estremeceu os objetos que estavam na mesma. Ele ainda estava sério, exigindo uma explicação.

- Então? – Ele insiste, eu suspiro olhando para o solo e sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto, eu não queria que ele me visse assim. Mas eu precisava dar uma explicação.

- Eu não consegui, senhor. – Digo em súplicas.

- Como assim não conseguiu? – A raiva e a decepção que ele sentia era perceptível em seu tom de voz. – Eu achei que você fosse excepcional, que levava o seu trabalho à sério. Mas você retorna e simplesmente diz, que não conseguiu, e ainda por cima chora... com um drama patético, no intuito de me comover.

- Eu deveria te demitir, Leone. Mas, eu tenho muitas pendências para resolver e não posso ficar sem um assistente, mas parece que você não dá conta de muitos afazeres.

- Eles disseram que não tinham o terno. – Minto.

- E quem disse isso? – Ele contorna a mesa, tornando a nossa aproximação não muito distante um do outro, apenas dois ou três metros de diferença.

- Uma moça loira, alta, ela tinha olhos azuis e magra. A única atendente que tem essas características.

Ele fica mudo por alguns instantes. – Então foi a Alice quem te atendeu, para o seu azar, sou sempre muito bem atendido por ela. Vou entrar em contato com a loja e falar com ela para confirmar essa sua... história. Saia da minha sala. – Ele diz seco.

Sem dizer uma palavra, me retiro de sua sala como ele ordenou, voltando para meu espaço. Me acomodo na poltrona, deitando minha cabeça na mesa, para que assim pudesse me aliviar através do choro. Minha cabeça começa a latejar e aquelas ofensas preconceituosas não desgrudavam da minha cabeça. "Parece que veio do subúrbio, de onde negros nunca deveriam ter saído." Quanto mais eu pensava nesses dizeres, mais inferior eu me sentia, não por ser o que sou, mas como as pessoas me viam... até que calcem nossos sapatos ninguém poderá sentir o que estou sentindo agora.

Depois de quinze minutos, ele me chama novamente, com uma voz ameaçadora. Seco minhas lágrimas com a manga da camisa e sigo até sua sala. Ele estava de costas, avistando o horizonte da enorme janela de sua sala.

- Estou aqui. – Digo.

- Deve imaginar o porquê de estar aqui. – Ele ainda analisava a vista da janela, o que me deixava cada vez mais receoso.

- Não senhor, não faço ideia.

- Bem, então faço questão de dizer o motivo. – Ele se vira para mim. – Eu liguei para a Velmond, e falei com a Alice, a funcionária quem lhe atendeu. Ela me disse que você foi extremamente arrogante simplesmente por trabalhar para mim... Quem você pensa que é, Leone?

- Eu não...

- NÃO ME INTERROMPA! – Ele altera o tom de voz, o que me resulta em um susto. Meus olhos arregalam e o observo. – Pegue suas coisas e vá embora, daqui.

Antes de me virar para sair, somos interrompidos, por Rodrigo, que chegou de surpresa no intuito de apaziguar a situação.

- Espere, senhor! – Dizia ele super ofegante e com agitação. – Não o expulse daqui, ele não tem culpa de nada. – Eu o olho surpreso.

- Como não tem culpa? Você não sabe o que ele fez, ofendeu uma das funcionárias mais querida da loja. – Ele afirma decidido.

- Ele não fez nada, Fernando. – Rodrigo não falava mais como um funcionários, mas como um amigo íntimo. Já que ambos se consideravam bastante. – Ouça, Leone saiu comigo, estava muito alegre e fomos conversando, mas, quando ele voltou, estava chorando e triste, daí o trouxe para cá. Mas voltei para o Shopping e fui até a Velmond, e dei as características exatas de Leone, até as vestes que ele está usando para uma vendedora. – Com vergonha, abaixo a minha cabeça e torço meus lábios.

- E ela me disse que ele foi absurdamente destratado por uma tal de Alice. Não queria atende-lo por ser negro e que ele não tinha condições de comprar um terno dali. Óbvio que ela foi discreta, mas nada profissional, além de que foi racista e preconceituosa. Não estou inventando nada disso, ela observou detalhadamente o momento e por sorte, não falei com Alice, mas sim, com essa moça. Ela pode afirmar isso, e tem as câmeras de segurança com microfones, é só você ser incisivo.

- Agora, com licença. Meu trabalho está feito. – Ele sai da sala. Tento fazer o mesmo mas, sinto meu pulso sendo prensado. Era uma das mãos pesadas de Fernando, que suavemente subia para os meus ombros, ele estava com um olhar de ternura dessa vez.

- Isso é verdade, Leone? – Ele dobra uma de suas pernas, se abaixando para atingir o topo da minha altura. Ainda com uma de suas mãos em meu ombro e outra segurando a ponta do meu queixo, para olha-lo.

- Sim, é verdade...

- Por que não se defendeu, Leo? Me sinto um infeliz por ter te julgado daquela maneira, me desculpe, por favor. – Ele lança um olhar arrependido que me faz chorar por conta do ocorrido. Ele junta nossos corpos me abraçando. – Me desculpe... Eu agi feito um lixo com você, não vai mais acontecer. Ouça, você é um jovem lindo, não há nada de errado com seu tom de pele, ok? – Ele se ergue novamente.

- Obrigado. – Ele forma um sorriso, depositando um beijo em minha testa.

- Vamos até à Velmond, quero que ela diga isso na sua cara. Vou exigir ver as câmeras e processá-la como ela merece. – Ele diz cerrando os punhos firmes, indignado.

- Não, eu não quero voltar mais naquele lugar. – Recuo. – Aquele lugar não é para mim, senhor. Também não quero causar problemas, é melhor eu continuar trabalhando, esquece isso.

- Negativo. Além dela ter cometido um crime, ela mentiu para mim. Preciso que você venha comigo, e se ele te disser algo, eu vou te defender. Não precisa ter medo, tudo bem? – Acabo assentido e seguindo com ele até o carro, junto com Rodrigo. Nos acomodamos da parte traseira, enquanto Rodrigo nos guiava até lá. Eu estava muito tenso, porém, ansioso.


A DIFERENTE MANEIRA DE AMAR - (Romance gay)Where stories live. Discover now