Thenas

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Azul.

Minha visão conseguia apenas distinguir uma luz azul e embora minha consciência estivesse falhando pela falta de ar, sabia o que estava acontecendo.

Consegui chamá-los. Senti suas almas próximas a mim.

Fui empurrada para cima por alguma loba do meu grupo, quando um deles empurrou o lobo que me sufocava para longe, seu corpo tombou e rolou, fazendo com que o lobo se coloca-se de pé novamente e dessa vez mais enfurecido que antes.

Era uma fêmea - eu já a havia visto uma vez conversando com Denzel, a ancestral que havia me libertado segundos atrás.

Ela parecia ser uma loba gigante - conseguia ser maior do que o lobo que me atacava.

A ancestral me olhou por pouco tempo, um misto de sentimentos em sua expressão e saiu, atacando com brutalidade os lobos que saiam das sombras e se deparavam com sua luz.

A loba ao meu lado ofegava, era Niar, o cheiro de sangue destilava do corpo dela, assim como cobria seus pelos, não sabia dizer se era o sangue dela ou de outro lobo. Seus olhos arregalados refletiam a luz azulada que agora dominava a clareira.

- Vamos, conseguimos pegar os filhotes. - ela retornou para eles, segui de perto, vendo que mancava um pouco quando apoiava seu peso na pata posterior, o cheiro de sangue vinha dali, das garras daquela pata, pareciam ter sido arrancadas. - Hora de fugir.

Não respondi, olhei para o caos que a clareira havia se tornado, o cheiro de sangue tão forte quanto pólen na primavera.

Os lobos da alcatéia, sem sombra de dúvida, são resistentes, se afastando apenas pelo espanto de ver os ancestrais pela primeira vez e ainda assim voltando para atacar com una ferocidade implacável.

Quando todas nós nos reunimos próximas a loba que acabou de dar a luz, a mesma nos observou com os olhos vidrados e sem ao menos dizer uma palavra, ela parecia farejar os filhotes e estar perdida em seus próprios pensamentos.

Dikeledi recupera o fôlego para falar. A alfa também colecionou algumas feridas nessa noite, umas mais profundas que outras. Os lobos agora já afastados pelos ancestrais urram de raiva.

- Cuidaremos deles. - É a primeira coisa que Dikeledi fala, se dirigindo a loba assustada, ela não responde, não esboça qualquer emoção, a alfa respira fundo e começa a nos dar direções para onde ir.

A luz dos ancestrais ilumina delicadamente tudo ao nosso redor, também brilha sobre as poças de sangue que se acumularam no chão, essa luta foi intensa me pergunto o que seria de nós se os ancestrais não chegassem a tempo.

Meu pescoço parece queimar de dor e o resto do meu corpo manifesta pico de dores aqui e ali.

Dikeledi pede para que algumas das corujas levantem voo e nos guiem, vejo cada uma delas esticar as asas e ir em direção ao céu - Suindara está entre elas e no momento que ela contrai suas patas para se impulsionar um vulto cinza e preto salta sobre ela, um lobo inimigo. Ele estraçalha sua asa esquerda e Suindara guincha de dor.

Antes que eu possa formar qualquer pensamento, estou sobre eles, rasgando a carne do lobo, seu sangue quente escorre goela abaixo e com esforço consigo fazer com que ele solte Suindara, ela tenta se levantar atordoada, de relance a vejo cair de lado novamente, pontos brancos de ossos despontam de suas asas encharcadas de sangue.

Ouço passos e asas, alguém a tira dali, mas não sei se alguém vai tirar o lobo das minhas garras.

Avanço novamente, perdida na minha própria fúria, ele ou ela não fica para trás e me recebe com uma boca coroada de dentes afiados como agulhas de pinheiros.

RakshaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora