Cicatrizes

2.6K 356 43
                                    

Não podemos seguir a coruja agora, graças aos meus machucados, só iremos começar a viagem quando minha pata estiver cicatrizada ou quando eu parar de mancar.
Minha mãe saiu para pegar coelhos, Tikani foi caçar outro cervo e eu estou
com o Corvo, que está bicando a carcaça de um rato, e a Suindara, que dorme tranquilamente no chão.
Eu nunca imaginei que pudesse existir uma alcatéia inteira de lobos com eu, como conseguiram o território?
Como sobreviveram?
Suindara disse que o território fica muito ao norte, ou seja, é bem frio na maior parte do tempo.
Ela também contou que vai demorar toda a primavera para finalmente chegarmos lá.
As flores estão desabrochando e o zumbido das abelhas chega a ser insuportável, junto com o cheiro de pólen.
Lambo minha pata e a passo sobre minha orelha, que está cheia de pequenos calombos por causa das feridas.
O Sol de primavera é tão agradável, que rolo sobre a terra para ficar de barriga para cima.
Minha mãe chega com uma lebre branca na boca.
- Tome. - diz largando sua caça no chão.
- Não mãe, isso é seu, não sou mais um filhote. - digo afastando a lebre.
- E Tikani está caçando, daqui à pouco ele traz alguma coisa.
- Deixe disso e coma um pedaço.
- Não, mãe.
Ela logo leva a lebre para o fundo da toca, e a deixa para comer mais tarde.
Somos interrompidas por um som de respiração.
Um lobo desconhecido.
Ahhh, não...
- Tem algum rio por aqui? - fala ofegante, parece perdido.
- Há um riacho logo ali. - minha mãe fala ríspida.
- Obrigado. - ele segue até o riacho e ficamos o observando, logo depois de beber água ele volta.
- O que essa coisa quer... - Suindara diz, espera, ela não estava dormindo?
Minha mãe entra na toca, afinal, ela é só uma raposa e a grande maioria dos lobos as matam.
O estranho desconhecido se senta na minha frente e começa a roer os ossos do cervo. Mas que ousadia!
Ele sabe que não posso me defender e sorri de leve.
Suindara fica ao meu lado.
- Olhe só! Uma coruja perto de um lobo.
- Você é louco? Saia logo daqui seu desocupado!
- Não. Me diga uma coisa, você tem companheiro?
- Não vou te dizer nada! - grito alterada com os pelos das costas arrepiados e as orelhas rentes a minha cabeça.
- Algum lobo estava por aqui dá pra sentir o cheiro. - ele fala passando o focinho na carcaça.
- O que você quer? - falo salivando de raiva por causa desta coisa que apareceu.
- Uma loba... - ele começa a se aproximar de mim.
- Vá embora! - rosno para ele e minha mãe também.
- Quieta raposinha, ou lhe tiro daí.
Arranho seu focinho, ele rosna de volta, mas não me ataca.
- Eu disse para você ir embora.
- Não quero ir. - ele diz se sentando novamente perto dos ossos do cervo.
Onde está Tikani?! Toda vez que ele some aparece uma peste dessas.
Tenho que concordar com você dessa vez, consciência.
- Suindara? - sussurro para ela. - Onde o Corvo está?
Aquele pássaro havia sumido de novo.
- Acho que ele foi chamar Tikani, não se machuque mais, é só esperar.
Ele está se levantando de novo.
- Não gosto de perder tempo...
- Saiba que vai continuar perdendo, se você encostar em mim, eu arranco suas orelhas.
- Estou morrendo de medo... olhe para você, está toda machucada.
- Não sabe do que eu sou capaz... - na verdade, nem eu sei, já ceguei um lobo, posso arrancar a orelha de outro.
Ele tenta se aproximar novamente, arranho sua orelha.
Ele rosna de volta.
- Sua...
Escuto um rosnado familiar.
- Sua o que? - era Tikani, sua cara estava suja de sangue, ele conseguiu caçar algo.
- Sabia que havia um lobo por aqui. - ele rosna com os pelos eriçados.

Tikani o ataca primeiro, me afasto mancando dali, eles se movimentam rápido demais, se mordem, já posso ver pequenos cortes no lobo desconhecido, que derruba Tikani

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Tikani o ataca primeiro, me afasto mancando dali, eles se movimentam rápido demais, se mordem, já posso ver pequenos cortes no lobo desconhecido, que derruba Tikani.
Rosno para ele, Tikani aproveita a oportunidade e morde seu pescoço, ele se levanta sem se soltar do outro que já está sufocado.
O derruba, ele tenta respirar mas não consegue, por um momento, pensei que Tikani fosse matá-lo, mas ele o solta.
- Não apareça aqui de novo! Senão eu lhe mato! - diz rosnando e mordendo seu focinho, arranca um pedaço de carne, deixando os dentes do outro expostos.
Esse ferimento com certeza, vai virar uma grande cicatriz.
O lobo recupera o fôlego e se afasta de nós cambaleando.
Seu sangue cai na terra escura.
- Acho melhor você ir comigo até aonde está o cervo. - Tikani diz, enquanto sacode a poeira que ficou em suas costas.
- Mas eu estou mancando...
- Vamos assim mesmo.
- Mas...
- Vamos! - ele me responde alterado.
- Calma! - o respondo do mesmo jeito, ele apenas balança a cauda e mexe as orelhas contrariado.
- Já vou... - me levanto e tento me apoiar normalmente, a dor na minha pata é terrível mas respiro fundo e continuo.
Ela vai ter que melhorar, cedo ou tarde ela vai.
- Mãe? Quer vir conosco?
- Eu vou comer minha lebre, vá.
- Tem certeza?
- Sim, pode ir sem mim.

Cada passo que dou, é uma tortura, mas continuo tentando andar normalmente.
- Onde está o cervo?
- Logo ali.
Vejo o animal morto com o Corvo mordiscando seus olhos.
- Ele te avisou de novo, não foi? - o pergunto inclinando a cabeça para onde o Corvo está.
- Foi, não sei como ele conseguiu me achar tão depressa.
- Você caça muito bem, quem te ensinou?
- As pessoas, elas me levavam para um bosque onde havia muito cervos, elas os assustavam e esperavam que eu corresse atrás de algum, e era o que eu fazia, eu me lembro que o primeiro 
cervo que matei tinha enormes chifres.
- Interessante, minha mãe me ensinou
a pegar camundongos e coelhos, mas nunca aprendi direito como pegar os orelhudos dos coelhos.
Devoramos todo o cervo em questão de minutos.
- Talvez devêssemos começar a seguir a coruja amanhã, quanto mais cedo chegarmos lá, melhor.
- Mas e sua pata? Esperar mais um dia não vai nos matar. - ele diz
- Se você está dizendo...
- Não sei de onde aquele lobo surgiu, quando eu acordei não havia ninguém ali.
- Ele parecia cansado, acho que correu até lá.
- Bom, acho que ele nunca mais vai querer passar por ali de novo. - Tikani 
fala bocejando e exibindo suas enormes presas.
- Está cansado não é?
- Um pouco, não dormi muito bem à noite.
- Por que?
- Eu estava me lembrando de algo, nada de importante.
- Vamos voltar para a toca, é melhor descansar lá do que aqui.

Assim que chegamos, Tikani logo se deitou e adormeceu.
- Raksha?
- Sim mãe?
- Quero conversar com você, sobre o que eu vi hoje.
- Claro...

Oiii pessoas! Eu vou tentar escrever capítulos maiores, eu sei que eles estão muito pequenos 😔
Mas me digam o que acharam desse 😀😀 Desculpa se tiver algum erro.
Eu estou escrevendo uma estória nova, daqui à alguns dias eu publico também terá lobos nela.
😙😙😙

RakshaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora