A resposta

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Me afastei ainda mais do grupo, seguindo até um pequeno espaço circular entre arbustos repletos de amoras selvagens e vermelhas como sangue.

Apenas Suindara havia me seguido, pedi que Tepi esperasse com as outras, em silêncio, ela pouso nos galhos de um carvalho próximo.

- Espero que venham. - murmurei sentindo o ar quente da minha respiração se misturar com o ambiente. 

O vento que circulava por mim e entre as árvores, se tornou mais forte e meu chamado pelos ancestrais parecia puxar algo distante, que de alguma forma estava vindo até esse lugar.

E não demorou muito até uma única e pequena esfera de luz azulada, chegasse até mim.

Pude sentir o olhar fixo de Suindara para a forma que a luz estava tomando bem na minha frente, se expandindo e se movendo para criar um lobo ancestral.

- Aprendeu bem rápido como nos chamar, não foi, Raksha? - a forma falou, ainda completando sua transformação, a luz azul se desprendendo do seu corpo luminoso, como pelos de um lobo velho.

- Sim... - respondi baixo, olhando as últimas partes da transformação do ancestral e reconhecendo sua face no mesmo instante. O menor dos ancestrais, de alguma forma, ele parece o único que pode ou apenas quer, se comunicar comigo.

- Mas não vejo nenhum perigo iminente por aqui. - o ancestral se sentou como faria qualquer lobo de carne e osso, e voltou os olhos de pura luz azulada para os meus amarelos arregalados.

- Eu queria perguntar algo à algum de vocês. - o respondi, organizando as palavras da minha mente olhando de um lado para o outro da floresta. - Aconteceu uma coisa estranha, com um filhote da nossa alcatéia e como pareceu algo sobrenatural, sugeriram que eu perguntasse o que pode ter causado aquilo.

Ele apenas concorda balançando a cabeça, um sinal silencioso para que eu prossiga com toda a história.

Então comecei a falar sobre tudo que aconteceu a Azul, sobre como ele havia chegado a alcatéia, seu comportamento e o mais importante - a mudança de emoções nos seus olhos bicolores e seu ataque a loba que estava cuidando dele e dos outros filhotes.

- Disseram que ele parecia outro lobo e seu ataque, por pouco não foi letal a loba. - termino de contar tudo que ouvi a coruja descrever sobre o estado de Azul e olhei esperançosa para o ancestral, pois ao contrário do corvo, ele parece responder as coisas sem muita enrolação e mistério.

Se ele ousar fazer isso, vamos fazer que ele morra de novo com arrependimento de não ter nos contado.

Me assusto com o súbito comentário violento da minha consciência, mas concordo em partes com ela, não aguento mais ter respostas e explicações negadas tão duramente.

O ancestral fica em silêncio por alguns segundos, fazendo meu coração acelerar devido a ansiedade pela resposta.

E finalmente olha pra mim.

- Eu já havia presenciado poucos casos como o desse filhote, um ou dois durante toda a minha vida e mais dois depois que me tornei um ancestral. - ele volta seus olhos azulados para o céu. - não imaginava que ele fosse causar mais danos novamente. Espero que tenha paciência para longas histórias e tempo também, pois vai demorar um pouco até que eu te conte tudo.

- Sou todo ouvidos. - falo e me sento numa posição confortável. - Finalmente alguém irá me dar uma resposta.

- Você só saberá de uma parte dessa história pelo ancião da alcateia, prometi à ele que o deixaria contar isso. - ele responde e controlo uma careta, comemorei cedo demais, a falta de mistério, além de ficar ainda mais curiosa pelo que Sune mantém em segredo. -  E mesmo assim ainda levará um tempo para que eu conte tudo com detalhes.

Suspiro aguardando a continuação do que ele tem a dizer e com uma pontinha de frustração se apossando de mim.

- Tudo isso teve origem, quando um ancestral, que durante sua vida, nunca havia sido um bom lobo e mesmo após sua morte, sua alma conseguiu se manter apenas com seu ódio e desejo por sangue, vingança e todas outras coisas que podem ser listadas como ruins nesse mundo. - o ancestral olha para o céu novamente, talvez para se lembrar de uma memória distante e que deveria ser esquecida. - Foi ele que manteve a reputação de que os lobos nascidos em noites sem lua, eram perigosos.

A declaração do ancestral me deixa em choque, por que durante muito tempo acreditei que fosse apenas um preconceito sem fundamento algum, apenas desprezo por não podermos uivar como os outros.

- Ele acompanhava as alcateias e os lobos nascidos sem luar, principalmente, os que possuíam os olhos com cores distintas, pareciam ser os únicos que esse ancestral podia manipular o suficiente ou até mesmo, como no caso de filhotes, tomar seus corpos. Os dois olhos são como dois lobos distintos, duas almas e é isso que dá espaço para o Airo agir, sua alma se funde temporariamente com a do lobo vivo e ele age.

Pela primeira vez o nome do ancestral maligno é pronunciado e sinto uma arrepio por todos os meus pelos, e a pergunta de como vamos ajudar Azul surge imediatamente.

O lobo Azul a minha frente, contou ainda mais, contou sobre cada ataque, sobre coo um deles foi com seu irmão e de outros que levaram caos as suas alcateias.

- Nós já tentamos apagar ele daqui, mas nada parece resolver, absolutamente nada. - o ancestral parece ter visto minha cara de desolação enquanto falava, pois logo depois completou sua frase: - Porém há uma forma de afastá-lo do filhote por enquanto.

Assinto com a cabeça para que ele continue.

- Vocês devem achar uma Coruja do Fogo, ela, para a sorte de vocês, aparece durante o outono, que já se aproxima, nas florestas mais vermelhas pela cor das árvores. Uma coruja que também é uma ancestral, ela pode afastá-lo do filhote, embora quando ele se tornar adulto, será sua própria força de vontade que irá contra Airo.

- Essa é a única opção? - pergunto com a voz trêmula. É melhor que nada pelo menos.

- Infelizmente sim, porém quando retornar para a sua alcateia se você perceber que ele está agindo, chame qualquer um de nós, pode ser a chance que tanto esperamos para acabar com ele. - O ancestral se levanta e é a minha vez de olhar para o céu, as cores do Sol se ponde já o preenchem, realmente toda a história levou um tempinho para ser contada. - Lembre-se, você achará a coruja na floresta mais vermelha, com as cores do outono mostrando todos os seus tons até lá avise ao seu alfa para manter Azul sob vigilância.

- Vou fazer isso... - falo e só agora percebo que ainda não sei o nome do ancestral. - Qual o seu nome?

- Denzel. - ele me fita com o olhar suave. - Eu realmente queria conversar mais, porém os outros estão me chamando de volta.

- Te chamarei assim que for preciso. - o respondo e em seguida faço uma pergunta que surgiu sorrateiramente: - Por que só consigo chamar você, Denzel?

Ele me olha, como se pudesse ver minha alma no processo, a luz do seu corpo começando a se reorganizar para tomar a forma esférica e soltando fiapos que desaparecem logo em seguida, como pétalas no vento da primavera.

Antes que todo seu corpo mude de forma ele reponde.

- Porque sou seu ancestral. 


OI pessoaaassss, o que acharam desse cap. (pessoalmente eu acho que viajei demais porém gostei kkkkkkkkkkkkkkkk) comentem aí ^-^, já vou começar a escrever o próximo yeeeeyyy e obrigada por acompanharem isso aqui *-*



RakshaWhere stories live. Discover now