Asas pt.2

1.6K 201 79
                                    

- Raksha! Raksha! - Suindara grita e  dessa vez bate as asas sobre minhas patas para chamar atenção.

Funciona, ou quase funciona.

Olho para ela boquiaberta, mas ela não entende o porquê de eu estar assim.

Ninguém aqui entende.

Eu vi um ancestral buscando alguém, mas ninguém que estava perto do corpo sequer notou a presença dele e a alma do outro lobo deixando o seu cadáver.

Respiro fundo tentando digerir tudo que acabei de ver.

Fale com Suindara, ela ficou esses dias aqui, tenha a decência de perguntar se ela está bem.

Minha consciência me lembra de que estou encarando Suindara com os olhos vagos e distantes, sem dizer uma mísera palavra para ela.

- Suindara, como você está? - pergunto, balbuciando as palavras, o olhar voltando ao normal e o choque de ter visto aquilo tudo se dissipando mais rápido do que eu imaginava ser possível. - Sua asa está curada? Fiquei preocupada com você...

- Eu estou bem, Raksha, as corujas fizeram um ótimo trabalho com ervas e camundongos frescos. - ela abre as asas e voa ao meu redor. - Viu?

Faço um "uhum" baixo e ela volta a ficar na minha frente, me encarando.

- Bem... agora quero saber porque estava boquiaberta olhando para o nada. - ela fala com os olhos saltando de mim para o aglomerado de corujas e uma única loba entre elas.

Sinto como se ela já soubesse o porquê de eu estar assim, mas minto ao dizer que fiquei chocada com a morte do lobo.

Ela me olha incrédula, mas depois sua expressão se desfaz e ela aceita a mentira mal contada.

Sabe que eu vi algo.

E sinto que só posso falar sobre isso com Sune. Agora já é a segunda vez que vi um ancestral.

O aglomerado de corujas se desfaz, todas sussurram algo umas para as outras e Dikeledi se afasta do corpo já frio do lobo, ela fala algo para a coruja  branca que apenas abaixa a cabeça solenemente e voa rápido para longe dali.

Não consigo ler a expressão de alfa quando ela se aproxima, os passos silenciosos e curtos.

- Para onde Tepi levou Azul? - ela pergunta, mudando sua expressão indecifrável para uma preocupação evidente.

Não me lembro da direção que Tepi tomou, apenas me lembro de ouvir ela e Azul se afastando.

- Não me lembro, ela se afastou rápido demais. - respondo rapidamente. - Mas não deve estar muito longe daqui, talvez estejam depois dessas árvores.

Viro a cabeça e aponto com o focinho para as árvores afastadas de nós.

- Hmmm. - ela murmura e seu olhar volta a encarar o corpo frio do lobo. - Tenho que chamar alguém para me ajudar a levá-lo para o bosque. Nix*, pode avisar aos familiares mais próximos?  - Dikeledi chama sua coruja e ela concorda sem hesitar, desaparecendo entre a copa das árvores.

O silêncio se torna pesado como o manto da morte sobre todo o local, me sinto sufocada.

Dikeledi parece perceber minha expressão de desconforto e diz que posso procurar por Tepi e Azul, em seguida fala com Suindara.

Me viro para ir embora quando a voz da alfa me chama mais uma vez.

- Raksha, por que não acompanhou Tepi? - sua voz é curiosidade pura, como se soubesse que algo aconteceu.

RakshaWhere stories live. Discover now