Caça

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A medida que entramos cada vez mais na floresta, os cheiros de lobos desconhecidos fica mais forte.
São machos e fêmeas de todas as idades.
- Talvez devêssemos procurar uma coruja para Tikani. - Dikeledi diz para Torfus.
Ele para e olha de relance para nós.
- Preferem comer primeiro ou procurar uma coruja? - nos pergunta continuando seu caminho pela floresta.
Olho para Tikani, esperando que ele se decida, mesmo que a pergunta tenha sido feita para nós dois.
- É melhor comer primeiro. - o responde.
- Ainda irão realizar o juramento. - Dikeledi olha para a lua. - Mas isso pode ser feito depois, mais tarde.
O vento fresco da noite é agradável, assim como o solo coberto por uma fina camada de minúsculas gramíneas.
A luz da lua é delicada com os nossos olhos.
Só agora percebo o quanto estou exausta, meus músculos mexem-se forçadamente, parecem estar ressecados.
A viagem até aqui conseguiu esgotar todas as nossas forças, embora Tikani negue isso.
- Estão sentindo? - A voz de Torfus me chama para a realidade. - Sangue fresco, conseguiram caçar algo.
Dikeledi olha para o seu companheiro com carinho.
Tikani mexe o focinho rapidamente.
- Sangue de um alce. - ele diz e para de mexer o focinho.
- É melhor adiantarmos nossos passos
ou o sangue já terá esfriado. - Dikeledi aumenta a velocidade dos seus passos,  fazemos o mesmo.

Chegamos a uma espécie de clareira, com um grande alce morto no meio dela, cercado por lobos.
Não há rosnados, apenas o ruído de carne sendo mastigada e ossos quebrando, todos os lobos têm o seu devido lugar não empurram uns aos outros.
Observo a cena boquiaberta, é admirável ver tantos lobos reunidos e nenhum rosnado.
O pescoço e as patas dianteiras do alce permanecem intocados, já o resto dele
é uma mistura de ossos expostos, pelos escuros e sangue.
Ouço o grito de Suindara em algum lugar na copa das árvores.
Meus olhos movem-se para cima e me deparo com uma gigantesca e velha árvore com várias corujas nos galhos, próximas umas das outras, algumas seguram camundongos nas garras, são dos mais variados tamanhos e cores.
Elas produzem um " uh uh" baixo.
Olham para mim com as pupilas dilatadas, seus olhos assemelham-se a uma noite estrelada e sem lua.
- Raksha. - Suindara bate um pouco as asas para descer delicadamente até o solo sem relva. - Essa árvore é chamada de Ninho das corujas, linda não?
- É sim.
- É melhor comer agora, vá.
Tikani olha para cima também.
- Essa árvore já deve ter visto muitas estações. - diz.
- Caçaram muito bem. - Torfus fala alto chamando a atenção dos lobos.
Todos viram-se rapidamente e olham para Tikani primeiro e depois para mim. - Esses são os nossos novos irmãos, viajaram de muito longe para chegar até aqui.
Todos respondem em uníssono:
- Bem-vindos. - vozes de lobos e lobas se misturam na saudação.
- O lobo chama-se Tikani e a loba, Raksha. - O alfa fala.
Nos encaram com curiosidade.
Fico parada e não consigo pensar em nada agradável para falar.
- Vamos nos alimentar primeiro. - Dikeledi fala rapidamente, os lobos voltam a devorar o animal morto.
Os dois mordem as patas que restaram.
- Podem ficar com o pescoço. - Torfus diz, sua voz um pouco diferente por estar mordendo a carne.
Tikani senta-se primeiro e da um mordida forte para arrancar um pedaço, assim que consegue, deita e começa a devorar o forte músculo.
Me deito perto do que restou e mordo a carne de uma forma estranha.
É estranho estar ao lado de vários lobos e nenhum deles tentar me atacar.
Essa é sua nova vida, acostume-se logo com isso.
Tem razão, consciência.
Respiro fundo e mordo a carne com mais força.
Nada irá me atacar aqui.
Sinto garras finas e me levanto sobressaltada.
Era apenas Suindara.
- Calma, Raksha. - Ela sussurra. - É apenas a sua coruja.
Instantaneamente viro minhas orelhas para trás, fico envergonhada pela reação exagerada que tive.
- Não precisa ficar assustada. - olho para a loba que disse isso, seus pelos possuem a mesma cor que o meu, noto que ela não tem nenhum dos caninos. - Você é parte da alcatéia.
Ela volta a devorar o seu pedaço de carne.
Fico um pouco mais calma.
Olho para o resto do meu pedaço, o mordisco algumas vezes e o engulo.
Lambo minhas patas e tiro todo o sangue que havia se acumulado sobre o meu focinho.
Pouco à pouco, todos os lobos também se limpam.
- Acho que é uma boa hora para achar a coruja dele. - Torfus olha para Tikani e depois para mim. - E logo depois o juramento.
Alguns lobos permanecem deitados ao redor dos ossos do alce, já outros se aproximam de nós.
A loba sem caninos me encara por um longo tempo.
- O novo lobo precisa de uma coruja. - Dikeledi fala para as corujas na copa da árvore. - Alguém?
Uma coruja semelhante a de Kiff desce de um dos galhos.
Kiff... ele não estava aqui com os lobos...
Talvez ele devesse estar com outros lobos, há vários por aqui...
Talvez...
- Posso ser o guia dele. - o jovem macho diz e encara Tikani. - Meu nome é Sert.
Sorrio ao ver o rosto de Tikani esboçar um expressão sem graça.
Ele não sabe o que dizer.
- Está na hora do juramento. - Dikeledi
aponta para outro lado da floresta.
Todos nós a seguimos até um local onde é possível ver a lua sem galhos de árvores atrapalhando a visão.
Os lobos - dez no total - formam uma espécie de círculo.
Torfus e Dikeledi ficam no meio assim como Tikani e eu.
- Isso é algo rápido, é uma tradição aqui na alcatéia. - a alfa diz com o olho brilhando.
Um longo silêncio se instala, é quebrado pela voz do alfa:
- Vocês vieram de longe, para encontrar lobos, que assim como vocês não uivam. - ele continou. - Nós os aceitamos, lembrem-se disso.
Ele para de falar e cada lobo começa a dizer algo.
Diferentes vozes.
- Proteger a alcatéia.
- Ser leal.
- Cuidar dos mais novos e dos anciãos. - a loba sem caninos fala.
Mais frases ecoam no ar frio.
Depois que todas as frases são ditas.
A repetimos.
- Somos irmãos agora. - o alfa diz.
Somos parte da alcatéia agora.
Posso descansar tranquilamente hoje.

Oiiii, desculpa se houver algum errinho e se esse final ficou meio 😝😝😝
Até o próximo capítulo 😊😊😊😊
















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