Asas

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Preciso contar a Raposo que vi um ancestral. A ideia soa urgente nos meus pensamentos vagos com a lembrança do ancestral.

Mas acho que não vou poder ir agora.

Dikeledi começa a caminhada até as Pedras das corujas e tudo que me resta fazer é segui-la, com Tepi e Azul, que vai correndo ao nosso redor e eventualmente para e dá saltos que fazem sua coluna se mexer da direita para a esquerda.

- Cuidado Azul. - a alfa fala observando o movimento do filhote. - Você pode bater em uma árvore ou cair.

Ela diz com um tom de voz rígido e Azul logo para com as orelhas baixas e as garrinhas fincadas no chão.

- Desculpe. - diz baixinho, com os olhos bicolores mostrando emoções distintas novamente. Dikeledi não percebe e a única coisa que faz é baixar um pouco o olhar, se arrependendo de ter falado com o lobinho daquele jeito.

Tepi, assim como eu, apenas observa e depois volta a encarar as árvores que se aglomeram ao nosso redor.

Umas estão começando a mudar levemente de cor, já outras continuam com a mesma cor verde que a primavera lhes deu.

A coruja branca de Dikeledi surge sobre as nossas cabeças, cortando o ar fino da brisa com as asas compridas. Tepi olha assustada para cima mas logo se acalmar ao notar que é apenas a coruja.

Olho para trás para saber onde a coruja de Tepi está, mas não consigo achá-la, apenas escuto seu leve bater de asas se misturar com o som das folhas balançando.

A conversa da alfa entre sua coruja faz minha atenção voltar para elas.

- As lobas já estão se preparando. - diz numa voz calma e baixa, com as penas sobre a cabeça se mexendo.

- Ótimo, e quanto as corujas? - Dikeledi pergunta enquanto desvia de uma raiz que surge preguiçosamente no solo.

- Também estão quase prontas, vou vê-las novamente daqui a pouco.

A coruja salta do solo e volta a voar entre as árvores.

- Espero que Suindara esteja bem, ela será de grande ajuda para nós. - Dikeledi aumenta suas passadas e continua a falar: - Já que ela já partiu para o Sul, conheceu lugares novos e retornou. Deve ter conhecido alguns territórios perigosos.

Não me lembro de Suindara ter me avisado sobre locais perigosos enquanto me guiava para cá.

Mas nós encontramos poucos lobos no caminho...

- Também espero que a asa dela esteja melhor, aquilo parecia doer muito. - digo me aproximando mais, a terra fofa amaciando minhas patas.

- As corujas devem ter consertado aquilo num instante. - a alfa responde. - Era só uma torção, não era?

- Sim, por causa da tempestade, o vento estava muito forte.

- Espero que não tenhamos problemas com chuvas fortes durante a viagem. - a sua voz fica preocupada. - Pode nos atrapalhar muito.

Engulo seco e me lembro do meu passado recente quando estava sozinha na floresta, no frio do inverno.

Dikeledi nota minha mudança e continua a falar.

- Mas nada que não possa ser resolvido. - diz com um sorriso amarelo, o olho nublado um pouco mais seco que o normal.

● ● ●

Seguimos o resto do caminho em silêncio, até chegar na Pedra das Corujas, onde Geas vem animada nos receber.

A coruja salta entre os galhos batendo um pouco as asas até tocar o solo onde estamos.

RakshaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora