Capítulo 03

36 0 0
                                    

Dois anos de regime fechado, essa foi sua sentença.

Calça e camiseta laranja cor de abobora. Esse era o conjunto que Alice usará daqui pra frente, pelo menos no período de adaptação ao presidio feminino.

“Meu Deus, eu não irei sobreviver a isto. Olha o que me aconteceu, olha esse lugar, olha essas pessoas” Pensava a garota enquanto em fileira atravessava o patio do presidio.

- Como vocês podem perceber, este é o nosso patio. Logo a direita esta o refeitório. Atrás daquele muro é a área do banho de sol e do outro lado é nosso centro de recreação.

Uma carcereira apresentava milimetricamente cada local do presidio. O que seria a nova casa de todas aquelas detentas dali pra frente.

Os olhos de todas as outras detentas que já estavam por ali, se viraram para o novo grupo que faria parte daquela comunidade. Eram mulheres de todos os tipos, tanto as que acabaram de chegar, quanto as veteranas do local.

Os pelos do braço de Alice se arrepiaram ao perceber que estava sendo encarada por quase todas as presidiarias. Afinal, não era muito comum por ali uma garota como ela. Branca, loira e dos olhos azuis.

+ Onde iremos dormir?

Alice focou seus olhos na carcereira e tentou se distrair.

- Levarei vocês lá agora, sigam-me.

A funcionaria a respondeu com secura em suas palavras, caminhando até os alojamentos onde as novatas iriam passar as noites.

- Você ficará neste quarto, e estas são suas companheiras de quarto. Aproveite a estadia. Tchau tchau!

A senhora retirou um pequeno estojo de uma bolsa e o entregou para Alice, nele havia uma escova de dentes, creme dental e um sabonete. Saiu.

A sensação que a loira tinha era de que seu coração sairia pela boca, somente o fato de saber que ali seria sua casa por no minimo dois anos a apavorava. E que aquelas seriam suas companheiras de cela a apavoravam ainda mais.

- E ai loirinha, o que te trouxe aqui? - Uma voz grossa ecoou.

Quem perguntou foi uma moça gorda e negra, usava um cabelo Black Power bem cuidado e vestia um conjunto marrom, o conjunto que a maioria ali vestia. Era a roupa padrão das veteranas, das condenadas.

- É,  qual sua historia?

Agora era uma linda moça magra de cabelos negros bem cuidados e olhos mais negros ainda que perguntava. Sua autoconfiança impressionava.

- Na verdade foi tudo um grande mau entendido, eu sou inocente.

Alice respondeu ainda de cabeça baixa, não tinha coragem de encarar aquelas garotas. Ainda estava dominada pelo medo.

- Ah, todas somos! Eu sou Brittany, essa é Lia – Apontou para a negra. Continuou.

- E aquela é Mariah. Você pode dormir na cama abaixo dela – Indicou  a outra moça dormindo no beliche de cima.

- Prazer, meu nome é Alice. - A loira repousou seu cobertor e travesseiro sobre o primeiro beliche e sentou-se.

Não chore Alice! Você não pode parecer fraca diante dessas mulheres! Não chore!” Este era a prioridade de Alice naquele momento. Não queria parecer frágil perante todas elas.

- Relaxa loirinha. Aqui você vai ficar legal, teve sorte de ficar nesse quarto. No quarto do lado direito tem uma senhora que obriga as novatas a cortar as unhas do pé dela, fazer suas sobrancelhas, depilação intima e tudo mais, do contrario ela raspa o cabelo das garotas. - Lia riu. Continuou

- E no quarto da esquerda quem manda é uma travesti... Transexual eu acho. De vez em quando ele...ela tem suas recaídas e avança de noite nas detentas de lá.

Alice arregalou seus lindos olhos azuis visivelmente assustada. Não fazia nem mesmo dez minutos que estava naquele lugar e já ouvira as mais bizarras historias sobre as detentas dali.

- Para Lia, assim você vai assustar a garota!

Olhos nos olhos de Alice, se aproximou  e sorriu.

- É mentira dela, essas historias são falsas.

Britanny acalmou a novata, sentando-se ao lado dela. Alisou seus cabelos

- Gostei do cabelo. Loira natura?

- Sim! Obrigada!

- Ainda bem, seria meio difícil manter essa cor aqui dentro né. Sorte já ter nascido assim. Eu peno pra deixar o meu totalmente preto, é castanho claro na verdade. As vezes tenho que fazer um oral na mulher da venda... Brincadeira.

Lia e Mariah que acabará  de acordar riram. Brittany era bastante engraçada, e bonita também

- Tem uma venda aqui dentro?

Alice se impressionou com o relato. A sua visão de presidio era completamente diferente daquilo. Achava que as únicas coisas que poderiam usar eram as cedidas pelo próprio presidio.

- Claro que tem, você não sabia? - Brittany repousou sua mão esquerda sobre a coxa de Alice e continuou a conversa.

- Funciona assim: Sua família ou qualquer pessoa por você lá fora deposita o dinheiro na conta do presidio, ou algo parecido. E automaticamente esse dinheiro se transforma em crédito na mercearia lá do refeitório. Legal né? - Sorriu.

- Legal mesmo, pena que não vou poder desfrutar. Meus pais estão com raiva de mim, não virão me visitar e muito menos mandar dinheiro.

- Normal, é assim no começo. As coisas vão melhorar, pode acreditar.

Britt apertou a coxa esquerda da loira e se levantou, saindo do quarto.

- Brittany gostou de você loirinha! - A negra piscou para Alice e também saiu do quarto acompanhada de Mariah, deixando a bela sozinha.

SolitáriaWhere stories live. Discover now