Solitária

Capítulo 33

O lugar era realmente assustador, só o nome já causava panico “Presidio de segurança máxima”. Em comparação com aquilo ali, o presidio de Washington era praticamente um SPA.

Eu não irei sobreviver nesse lugar. Sobrevivi no presidio anterior por pura sorte. Mas aqui não, esse lugar é diferente.

Era somente o que Alice pensava.

As detentas daquele lugar não pareciam nem um pouco amigáveis. Alice estava completamente atordoada, assustada com tudo que acabou de lhe acontecer.

Após uma semana naquele lugar, tudo parecia correr normalmente. Nada de brigas e desentendimentos, apesar da aparência de todas ali, estavam se mostrando bastante sociáveis. Talvez por conta da administração do lugar, que era conhecida como a mais rígida do pais. Alice ainda não percebeu, mas estava começando a deixar de lado o mau habito de julgar o livro por sua capa, afinal ela mesmo era uma prova viva de que isso não deve ser feito, uma vez que ela se enquadra totalmente nesse clichê.. Uma loirinha dos olhos claros com cara de bem cuidada, porém esta cumprindo pena por trafico de drogas e assassinato.

Neste meio tempo, houve uma breve conversa com seu advogado, um rapaz que Alice mal conhecia. Enviado por seus pais, seus honorários também seriam pagos pelos pais da loira. Estranho, pois Alice jamais ouviu falar desse homem, ele se apresentou apenas dizendo que conheceu por acasa os pais da moça e que queria ajudá-los naquela história.

- Bom Alice, por conta da distancia e de tudo que anda acorrendo com seus pais, será bastante difícil você ter a visita deles por aqui. Porém  estão cuidando de tudo para que sua estadia aqui seja a melhor possível... E quanto a mim, sinto muito mas não posso lhe tirar daqui. Você assassinou uma mulher na frente de varias testemunhas, você realmente foi indiciada e terá que cumprir onze anos aqui dentro. Na verdade seria até mais, porém consegui uma aceitável redução de sua pena. Você deveria estar feliz por ser apenas uma década. Mas enfim, ainda assim tentarei trabalhar o máximo para achar alguma brecha em que eu possa fazer sua pena reduzir-se ainda mais.

Foi basicamente isso que seu advogado a informou. Alice sabia que ninguém poderia fazer muito por ela naquele lugar. Já estava se acostumando a ideia de ficar por ali.

Mas e seus pais? O que o advogado quis dizer com “ Por conta de tudo que anda ocorrendo com eles?” O tempo de conversa entre os dois foi tão minimo que  não deu tempo de tirar varias duvidas. Mas antes de sair o homem deixou uma carta escrita a mão por Clarice, mãe de Alice. Ian, seu pai também ajudou a confeccioná-la.

Alice minha pequena, nós realmente sentimos muito por tudo o que houve com você, com a nossa família. Nunca podíamos imaginar que a nossa linda e doce Alice passaria por algo assim. O futuro que esperávamos de você era brilhante, realmente eu e seu pai chegamos a acreditar que você seria uma brilhante mulher. E ainda será... Porém as coisas nem sempre é como sonhamos, na verdade nunca é. Não culpamos você por tudo que vem acontecendo, culpamos apenas suas escolhas. Sabemos que nossa doce Alice jamais seria capaz de tirar a vida de outra pessoa, porém nas condições que você se encontrava e ainda se encontra, tudo é levado até as ultimas consequências. Nós temos certeza de que nunca foi sua intenção fazer o que fez, assim  como também nunca foi de se envolver com drogas. Mas por algum motivo se envolveu. Enfim, agora você está presa na Virginia, muito longe de casa, eu e seu pai não temos condições e nem condicionamento para visitá-la sempre. Claro que sempre que surgir uma oportunidade tentaremos visitá-la, mas não a prometemos nada. Já estamos muito velhos para isso e não preparados para passar pelas humilhações que acontecem para que essas visitas sejam feitas. Nós amamos você mais do que qualquer coisa nessa vida, independente de tudo que aconteça, você sempre continuara sendo nossa doce e pequena Alice. Porém você erradamente fez suas escolhas e agora está pagando por elas, nossos corações doem ao dizer isso, mas está pagando merecidamente por isso. Esperamos que esse tempo em que você ficar por ai, coloque sua cabeça no lugar e repense em tudo enquanto cumpre sua pena. Ainda nos comunicaremos muito por cartas. Você precisa amadurecer e aprender o quão severa a vida é com quem faz escolhas erradas. Mas enfim, pode ter certeza que estaremos te esperando de braços abertos assim que sua sentença seja cumprida, mas só quando isso acontecer. E também tenha plena certeza que aceitamos você do modo que é, assim como aceitamos de braços abertos qualquer pessoa que nos mostre estar do seu lado.

Nós te amamos incondicionalmente, beijos. Mamãe e Papai.

Uma lagrima rolou sobre o rosto de Alice

“Então é isso, eles estão certos. Não devem se submeter as humilhações exigidas para virem me visitar. Eu escolhi, eu errei e eu vou pagar.”

A moça com grande pesar conseguiu entender o ponto de vista de seus pais, mesmo sem ter a presença deles por perto, não sentiria ódio, raiva ou qualquer tipo de sentimento ruim por eles. Em toda aquela história, as maiores vitimas sempre foram eles, os pais de Alice.

Alice e seus pais passaram a trocar cartas, não com tanta frequência, mas ainda a faziam. A moça sem muito entusiasmo falava sobre sua vida ali, e por outro lado seus pais a incentivavam a continuar firme naquela árdua caminhada. Nas primeiras cartas, Alice tentou saber de Brittany através de seus pais mas não obteve sucesso. Os dois pareciam   não ter qualquer tipo de noticia da mulher. Alice enfim desistiu.

E quanto a Brittany... Nunca falou sobre ter alguém por ela fora dali, seu padrasto estava morto, sua mãe foi embora. A moça certamente aprenderia a se virar sozinha fora da prisão, e certamente também iria querer esquecer qualquer coisa que a fizesse lembrar do lugar. É triste tentar aceitar, mas teria. O fato é que de agora em diante Brittany faria parte apenas de seu passado. Uma fase amavelmente turbulenta de sua vida que jamais poderia voltar.

Os dias foram se passando, os meses também. Agora Alice estava por ali fazia alguns anos, as vezes nem se lembrava mais a quanto tempo estava presa. Cinco? Seis anos? Isso não importa mais. Estranhamente não importa mais. Alice via presidiarias irem e virem, alguns funcionários se aposentarem, e alguns outros serem contratados. Mesmo com todo aquele tempo de casa, nunca conseguiu fazer qualquer amizade verdadeira.. Algumas colegas no máximo, nada além disso. E somente porque ela mesmo não queria. Fixou a ideia de não se prender a mais ninguém, para evitar possíveis decepções. Quase sempre suas únicas companhia eram suas lembranças, e por mais que lutasse contra isso, Brittany estava sempre presente nelas. O que viveu ao lado da morena jamais poderia ser esquecido.

Alice já não era mais uma ingênua garota de dezenove anos. Agora já tinha vinte e seis. Era uma bela e enigmática mulher, espantosamente continuava com a aparência de menina, porém não mais era. Sobreviveu a poucas e boas naquele lugar, algumas brigas, duas ou três pequenas rebeliões e mais um bocado de coisas completamente normais para uma presidiaria que cumpria uma pena como a dela.

Seus dias eram religiosamente iguais, acordava as sete, tomava seu banho gelado, fazia sua higiene, tomava seu intragável café da manhã quase sempre sozinha. Trabalhava até as seis também na lavanderia pausando apenas para o almoço. Após o trabalho fazia sua ultima refeição do dia e voltava a ser encarcerada na sua pequena cela. Dia após dia, ano após ano.

Agora a bela loira já se encontrava completamente habituada aquela rotina, mesmo ainda pensando em Brittany sabia que jamais a viria de novo. Aquele intenso amor acabou no momento em que a viu sendo liberta da prisão. Não nutria mais qualquer tipo de esperança de a rever e também sabia que jamais se apaixonaria de novo. Nem por um homem e nem por uma mulher. A única linha de raciocínio que Alice seguia era a de “Só mais um dia” Mesmo não os contando. Sabia que mais cedo ou mais tarde sairia dali, e a única coisa que pensava quando esse dia fosse chegar era “Rever meus pais, me desculpar por tudo e recomeçar minha vida do zero.”