Capítulo 3

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O dia não foi perfeito, mas não me esquecerei do toque quente de suas mãos.

Dona Regina estava estressada. Os dias anteriores foram difíceis na malharia onde trabalhava. Era gerente de produção e, nos últimos meses, o cargo conquistado com tanto sacrifício a estava esgotando. Se já não bastasse isso, tinha a casa para cuidar. Suas filhas, Fernanda e Valéria, não ajudavam muito e isso sempre a chateava. No entanto, Melissa, a filha do meio, sempre estava ao seu lado disposta a ajudar.

Seu temperamento já não era fácil, e ultimamente estava ficando mais impaciente. Qualquer palavra a mais de que não gostasse, retrucava. Sabia que não era certo agir assim, mas no momento estava sem forças para simplesmente sorrir e fingir que estava tudo bem, quando, de fato, não estava.

Ninguém imaginava a dor que dona Regina carregava dentro de si. Até quando seria possível esconder, não sabia. Mas pedia forças a Deus a cada nova manhã.

Seu marido desconfiava que ela não estivesse muito bem, mas sabia o quanto a esposa era teimosa e orgulhosa para admitir tais coisas. Entretanto, a relação com as filhas não estava sendo das melhores, principalmente com Melissa.

Novamente, mais uma discussão. Melissa falou de algo que não gostou e sua mãe já olhou com cara feia. A menina acabou escutando um monte de coisas e no fim foi quase tachada de ser a culpada.

Ela realmente não compreendia, suas irmãs retrucavam e falavam o que queriam e, ainda assim, se entendiam com dona Regina. Afinal, o que há de errado? Será que se eu for como elas, as coisas vão melhorar?

O máximo que conseguia na sua maratona de falar as coisas era mais discussões, e disso já estava bastante cansada. Achou melhor ficar na sua e evitar ao máximo cair nesse buraco da discussão. Só ela sabia o quanto isso a fazia mal.

Era hora do jantar, Valéria e Fernanda já haviam saído da mesa. Melissa, como sempre, comia devagar e ainda estava terminando sua refeição.

— Fernanda, pega um copo pra mim? — ela pediu.

A irmã estava à toa, ao lado do armário.

— Ah, não enche! — respondeu, após um palavrão. Depois foi pro quarto e ligou o som, bem alto.

Melissa olhou para seus pais procurando apoio, mas eles só ficaram com cara de aborrecidos e não disseram nada.

— Vou sair — anunciou Valéria, pegando um copo no armário e entregando pra irmã.

Essa é a minha irmã. Fazia as coisas quando menos esperavam.

— Vai aonde? — seu pai perguntou.

— Ao shopping com minhas amigas.

Dizendo isso, mandou um beijo pelo ar e saiu cantarolando pela porta. Dona Regina meneou a cabeça.

— Essas minhas filhas... Cada uma com seu jeito!

Levantou e pediu para Melissa tirar a mesa e lavar a louça. Ela ficou perplexa ao ouvir aquilo.

— A Fernanda não pode ajudar?

Sua mãe a olhou brava.

 — Eu disse pra você fazer isso. Sua irmã está muito nervosa, melhor deixá-la em seu canto.

            A vontade que teve naquela hora foi de gritar, chutar, pegar suas coisas e ir pra outro lugar. No entanto, não teve coragem. Apenas deixou que as lágrimas quentes fossem o seu refúgio.

                                                                                      ***

A semana foi de muito trabalho na sorveteria. Quase todos os dias, Melissa e seu Cristóvão ficavam até às dez da noite trabalhando. Tinham que lutar contra o tempo para pagar as contas, por isso aproveitavam ao máximo a época do verão, pois, no inverno, o que faltava sempre era trabalho, o movimento caía drasticamente.

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