Capítulo 5

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Cada vez que olhava para ele, ficava fascinada. Queria ficar ao seu lado, queria que deixasse de ser um desconhecido. Mas a vida nem sempre é como queremos.

Hanna acariciava sua barriga. Estava grávida de doze semanas. Pela primeira vez, estava se sentindo mais calma com toda a situação. O medo de seu ex-namorado vir procurá-la, atormentou-a por algumas semanas, o que colocava sua gravidez em risco. Quase chegou a perder a criança, mas começou a fazer de tudo para ficar mais tranquila. Seu único refúgio era ouvir as músicas que tia Suelen escutava de manhã. Foi difícil admitir, mas estava gostando. Eram músicas calmas e com letras lindas que falavam do amor de Deus.

Quem a visse escutando aquilo quase o dia todo, iria chamá-la de cafona e sabe-se lá mais o quê. Mas era a única coisa que a deixava realmente em paz e estava feliz com isso. Sempre foi de ligar muito para o que as pessoas falavam, mas estava cansada. Poderiam falar o que quisessem sobre ela ouvir músicas de louvor, pois era isso que deixava ela e seu bebê tranquilos. E, sua única preocupação, era com a vida daquela criança em seu ventre. Amava aquela criança!

E ai daquele que se metesse com ela e seus novos gostos...

A única coisa que a deixava triste, era ter se metido naquela confusão. Nunca imaginou que Kevin seria capaz de lhe agredir. Sempre fora tão carinhoso, não entendia o porquê de ele agir assim de uma hora pra outra.

Não podia mais sair de casa sem sua permissão. De repente, ele havia virado seu dono e, por mais que quisesse se afastar, não adiantava, apenas piorava a situação e voltava pra casa com marcas em seus braços.

Um dia, depois de descobrir sua gravidez, decidiu acabar com tudo. Aquilo já havia ido longe demais. Era hora de dar um basta! Sabia que ele era o pai do seu bebê, e como se odiava por deixar que ele a seduzisse. Não foram uma ou duas vezes. Gostava daquilo, era apaixonada por Kevin, e estava tão cega que, mesmo sendo agredida, continuava o namoro.

Entretanto, pela primeira vez em sua vida, teve sanidade para fazer a coisa certa. Ficar o mais longe possível dele, mesmo que carregasse aquele filho sozinha. Abortar? Jamais! Nunca passou pela sua cabeça. Foi adulta o suficiente para se deitar com ele e, agora, seria madura o suficiente para assumir as consequências de seus atos.

Terminou tudo e, antes que Kevin fizesse alguma maluquice, foi direto para a rodoviária pegar o ônibus pra Jaraguá do Sul, sua cidade natal, onde seus tios a esperavam. Seus pais já sabiam que Kevin era perigoso, por isso apoiaram a decisão da filha e prometeram ficar de olho nele.

Ela ficou preocupada, com medo de que Kevin fizesse algo com seus pais, por ela ter saído da cidade, mas ele nem deu as caras. Não sabia se isso era algo bom ou ruim.

Hanna suspirou ao relembrar de tudo aquilo, estava tão perdida em seus pensamentos que nem percebeu Érique chegando.

— Trouxe um pedaço de bolo da mãe pra você.

Hanna arregalou os olhos, ultimamente estava com muito apetite. E sua tia, aliás, todos daquela casa, a estavam mimando muito. E aquele bolo... hum, era uma perdição.

— Que delícia! Bolo de laranja, o meu preferido.

— Como se ninguém soubesse — Érique sorriu e sentou na cama, ao lado da prima.

Os dois ficaram em silêncio, Hanna contemplando aquele pedaço majestoso que ela e o bebê tanto gostavam e Érique com os pensamentos longe. Como há três semanas vinha fazendo, desde o aniversário de Melissa.

Melissa era a melhor amiga de Hanna. Elas se falavam muito por telefone e, às vezes, Érique a deixava em sua casa. Não dizia nada, mas seus olhos se entregavam toda vez que sentia a aproximação dela. Não sabia o que fazer com aquilo. Odiava se sentir daquele jeito, sem ter poder sobre seus gestos e pensamentos.

Entretanto, por mais que Melissa chamasse sua atenção, reunia forças e descartava esse tipo de pensamento, pois percebeu que não era quem pensava ser. Lembrava muito bem da festa de aniversário na casa da árvore. Quando ele e Hanna a pegaram em sua casa, tinha certeza que havia batido uma química gostosa entre eles, algo que nunca aconteceu. Porém, foi só virar as costas e lá estava ela com um cara desconhecido, deixando-o tocar em seu rosto. Pareciam íntimos... Não gostou daquilo.

E, desde então, ele tentava afastar-se de Melissa, que parecia persegui-lo sem saber.

Desde o seu aniversário, Melissa não conseguiu conversar direito com Érique. Pelo semblante dele naquele dia, não havia gostado de ver o cara loiro sem-noção tocar em seu rosto. Mas que culpa ela tinha?

Foi tudo tão rápido que, quando percebeu, Érique já estava indo embora zangado e, desde então, desapareceu do seu mundo. Quer dizer, não totalmente, porque quando Hanna vinha em sua casa, Melissa sabia que era ele quem a trazia. Várias vezes tentou chamá-lo para tomar um café, aproveitando a ocasião, no entanto, sempre levava um não meio grosso. Isso estava começando a deixá-la nervosa e por isso passou a ficar em seu canto, como se isso resolvesse o problema.

Era estranho aquele sentimento. Por um momento sentiu que algo estava nascendo, mas tudo foi apenas imaginação da sua cabeça. O melhor mesmo era ignorá-lo e fingir que nada aconteceu... Afinal, realmente nada aconteceu. Apenas em seu coração!

Seu Antônio estava impaciente. Andava de um lado para outro enquanto esperava a esposa chegar em casa.

Hoje, as tentativas de suas filhas de manter a cabeça ocupada enquanto Regina estava fora não ajudou. Na verdade, há dias as meninas estavam cansadas de ficar forçando um sorriso que não era sincero. Todo aquele silêncio da mãe, as mentiras, as desculpas que ela inventava, a estavam afastando de suas filhas.

Já Antônio enfrentava uma luta por seu casamento, por mais que tentasse não pensar em sua suspeita, a mesma invadia sua mente a cada minuto, como uma perseguição inalcançável. Não... Ela não seria capaz de me trair. Repetia a si mesmo, apegando-se a isso. E, se não fosse traição, o que seria?

A porta abriu lentamente e Antônio encarou sua esposa.

— Já é quase meia-noite. Onde você esteve até essa hora?

Ela não esperava aquilo, ficou totalmente desnorteada. Tentou falar, mas apenas gaguejou e não saiu nada de sua boca, apenas um suspiro de frustração. Sabia que, uma hora ou outra, teria que enfrentar seu marido, mas não estava preparada para isso. Já fazia meses que estava agindo assim, saía toda quarta-feira, sempre com uma desculpa, e não sabia mentir, o que piorava as coisas.

Sentou na cama, esperando Antônio falar, mas ele não disse nada, apenas a observou. Ele conhecia suficientemente a mulher, para saber que algo de errado estava acontecendo. E, apesar do temperamento difícil, tinha um coração de ouro.

Não... Ela não pode estar me traindo. Repetiu mais uma vez, como se isso o fortalecesse, mesmo que por poucos minutos. Não iria suportar a ideia de sua amada esposa ter feito isso.

Antônio continuou a fitá-la seriamente, sem coragem de falar. Por dentro, estava gritando para que ela explicasse o que estava acontecendo, e com muitas indagações do Por quê Regina estar fazendo isso!

Sabia que não era um marido perfeito. Tinha suas falhas, mas se esforçava para dar o melhor de si. Amor e carinho nunca faltaram. Então... Onde estaria o seu erro? Estava sem forças para conversar e até mesmo para brigar, mesmo que tivesse a razão. Apenas perguntou antes de deitar:

— Você está bem?

Regina ficou surpresa com a pergunta. Como ele poderia ser tão gentil, depois da maneira como ela vinha agindo? Não merecia nada disso, mesmo que fizesse um esforço para deixar as coisas mais tranquilas.

Percebendo que Antônio esperava sua resposta, apenas disse um fraco sim, e foi para o banheiro. Sua vontade era de agarrá-lo, ajoelhar-se, e pedir para as coisas voltarem ao normal, mas, naquele momento, o silêncio perturbador de seu marido a deixou sem chão.

Afinal, o que estava fazendo com sua vida? Será que estava agindo da maneira certa? Achava que sim, mas, agora, estava com sérias dúvidas.

Simplesmente ameWhere stories live. Discover now