Capítulo 15

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Por que você não me abraça? Por favor, Érique!
Por que está fazendo isso? O que aconteceu?

Sua cabeça latejava. Sentia-se tonta e com náuseas. Tentou abrir os olhos, em vão. Não sabia o que estava acontecendo. Conseguiu murmurar algo, mas nem sabia dizer o quê. Em alguns instantes, sentiu uma mão quente e forte passar em seus cabelos.

— Está tudo bem, Melissa — disse uma voz fraca, masculina.

— Quem... — não conseguiu completar a frase.

— Psiu! Tente descansar um pouco. Estou com você!

Reconheceu a voz, era Érique. Sua voz estava cansada, demonstrava um tom de preocupação, mas não conseguiu pensar muito, acabou apagando novamente.

Não sabia quanto tempo havia passado e nem onde estava, mas, finalmente, Melissa conseguiu abrir os olhos. A luz estava fraca. Lentamente ergueu a cabeça e olhou ao redor, reconhecia aquele lugar. A casa da árvore. Mas... como vim parar aqui? O que aconteceu? Percebeu um homem encostado na parede, do lado de fora. Tinha uma expressão horrível, com certa dificuldade, percebeu quem era.

Érique virou o rosto para dentro, surpreso em vê-la acordada. Rapidamente foi ao seu encontro, preocupado.

Seu semblante parecia triste, perdido. Estava tenso.

— Que bom que acordou, Melissa. Como se sente?

— É... — fitou-o, estudando a sua face. — Estou bem, só um pouco tonta — respondeu cautelosamente, tentando compreender o que estava acontecendo.

— Imagino que sim. Come isso aqui, vai ficar melhor — estendeu uma marmita.

Apesar de estar com fome, não sentia vontade de comer. Estava confusa. O que estava fazendo ali? Não se lembrava do que tinha acontecido, mas algo dentro dela dizia que coisa boa não era. Tentou forçar a memória, mas nada conseguiu, a não ser uma grande dor da cabeça.

Ela ficou com a marmita em suas mãos, encarando-a por um momento. Não estava gostando daquilo. Observou Érique por um instante. Ele desviou o olhar.

— Érique, o que aconteceu?

Ele não respondeu. Olhou de um lado para outro, parecia procurar as palavras, queria encontrar uma resposta, mas a única coisa que conseguiu dizer foi:

— Come! Você precisa comer pra ficar melhor. Depois conversamos.

Melissa suspirou. Acreditou em suas palavras e comeu, só então percebendo que já estava anoitecendo. Quanto tempo será que fiquei aqui? E por que ele está com essa cara tão estranha? Queria abraçá-lo, sentir-se protegida. Precisava daquilo, mas, antes que pudesse ir ao seu encontro, percebeu que algo parecia estar entre eles.

Com um pouco de dificuldade, conseguiu descer da casa da árvore, sozinha. Érique a acompanhava como podia, temendo que ela caísse por estar um pouco fraca. Mas esforçou-se ao máximo pra chegar ao chão, esperando pela conversa que enfim teriam.

Para a sua surpresa, seu pai a esperava ali embaixo. Seu semblante demonstrava preocupação. Percebeu que ele ficara aliviado em vê-la. Quando menos esperava, o pai a abraçou fortemente. Ela retribuiu, mesmo sem entender o motivo daquilo. Seu Antônio abriu a porta do carro pra ela entrar. Melissa então parou e olhou para Érique, que estava atrás dela. Seus olhos se encontraram, mas nada disseram, havia apenas tristeza e uma distância inexplicável entre eles.

Uma lágrima desceu sobre a face dele. Melissa engoliu seco e, então, quando ele simplesmente acenou, ela bruscamente entrou no carro, deixando as lágrimas invadirem sua alma. O que estava acontecendo? Por que Érique estava agindo daquele jeito? Parecia uma despedida. Como se algo ou alguém tivesse roubado tudo o que tinham vivido e não sobrasse nada.

Em casa, todos a receberam de braços abertos. Melissa deixou que todos a abraçassem, mesmo não compreendendo o que havia acontecido e a razão de eles agiram daquela maneira. Nunca foram de abraçá-la.

Seu Antônio não abriu a boca pra falar sobre o que havia acontecido. Melissa tentou argumentar, em vão. A única coisa que seu pai disse foi que estava feliz por ela estar salva. O que a deixou ainda mais intrigada. Afinal, o que aconteceu comigo? Por que ninguém me responde? Por que Érique estava tão frio e estranho comigo?

Olhava para suas irmãs, sentindo-se magoada. Passou por seus pais, encarando-os. Ficou triste por aquele silêncio. Sem dizer nada, foi para o seu quarto, pegou uma toalha e foi tomar um banho. Quem sabe isso a ajudaria a relaxar e então se lembraria de alguma coisa? Era sua esperança, já que todos decidiram manter segredo sobre o que havia acontecido.

Melissa deitou-se na cama e ficou olhando para o teto, perdida no olhar. Demorou em pegar no sono, mas, quando finalmente adormeceu, teve um pesadelo. Um homem alto de cabelos compridos veio em sua direção. Pelo canto dos olhos avistou uma arma escondida ao lado da calça. Antes que pudesse falar alguma coisa, sua boca foi tapada e sentiu um cheiro forte de álcool. Começou a gritar em pânico, debatendo-se fortemente...

Não! Não! Socorro!

— Melissa, calma, foi só um sonho! — escutou a voz de seu pai, distante.

— Minha filha, está tudo bem — era a voz aflita da mãe, fazendo-a acordar.

Olhou espantada ao seu redor. Um frio percorreu seu corpo. Abraçou os pais fortemente enquanto chorava, angustiada e com medo. Demorou em perceber que não foi apenas um pesadelo, mas que de fato isso havia acontecido.

Fui sequestrada!

Aquilo a pegou desprevenida. Por que ninguém me contou? O que aconteceu? Temia com a resposta, pensando em um milhão de possibilidades e com receio de cada uma delas.

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Simplesmente ameWhere stories live. Discover now