Capítulo 9

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Por que isso está acontecendo? O que ela está escondendo?

Algo havia acontecido. As três irmãs se entreolharam sem entender. Semanas atrás, a família parecia em ruínas, por causa das atitudes de dona Regina.

— Alguém sabe de alguma coisa? — Melissa perguntou, ainda sentada, terminando de tomar o café naquela manhã de domingo.

— Não sei de nada — respondeu Valéria.

— Muito menos eu — Fernanda resmungou, chateada.

Continuaram a olhar para os pais que estavam na sala. Dona Regina estava deitada com a cabeça no colo do marido, e ele lhe acariciava os cabelos curtos. Lembravam um casal jovem apaixonado.

Fazia alguns dias que as brigas pararam e, no lugar disso, era carinho toda hora. Ele a levava no serviço e saíam para passear. Coisa rara de fazerem.

— Bom, eles parecem felizes! Acho que é o que importa — Valéria ponderou.

Melissa e Fernanda continuaram em silêncio, tentando compreender aquela situação.

O jeito de Valéria era diferente de suas irmãs. Para ela, se estavam felizes, era o que bastava. Se tivessem segredos ou não, preferia não saber. Detestava entrar em discussão, por isso fazia o gênero paz e amor, onde sempre estava tudo bem e, se tivesse problemas, arrumava um jeito para esquecer.

Melissa não era assim, apesar de odiar discussão. Detestava segredos e assuntos mal resolvidos, mesmo que não tivesse coragem de falar o que pensava. O oposto de Fernanda, que gostava de dizer tudo o que lhe vinha à mente.

Ela olhava para Melissa procurando ajuda. As irmãs sabiam que, atrás da garota cheia de atitudes, havia uma menina carente e sensível.

— Nós vamos descobrir o que aconteceu, Fernanda. Uma coisa de cada vez. O importante é que se entenderam — Melissa acalmou-a.

— Quero ver até quando. Vai que a mamãe começa a surtar de novo.

Antes que Melissa e Valéria pudessem dizer alguma coisa, Fernanda foi para o seu quarto e bateu fortemente a porta. Essa era a sua forma de extravasar o que sentia.

— O que deu agora? — seu pai perguntou da sala.

— Nada de mais — Valéria respondeu e também foi para o seu quarto.

Melissa foi a única que continuou na mesa. Precisava saber o que havia acontecido, pelo bem da família. Mesmo que os pais estivessem bem, a relação das filhas com a mãe estava cada vez mais fria. Ficou um buraco entre elas, com as mentiras que a mãe havia contado para sair e voltar de madrugada.

Quem sabe, com o tempo, elas não esqueceriam isso? Mas Melissa sabia que era algo improvável, ainda mais para Fernanda. Preocupava-se muito com a irmã, mas não era fácil aproximar-se dela. Eram raras as vezes em que conseguia uma conversa decente como naquele café da manhã.

Mas, apesar de toda aquela nuvem escura, seu coração ainda estava saltitando. Érique viria falar com seus pais naquele dia. Levantando-se foi até a sala e sentou-se no sofá de um lugar, ao lado do seu pai. Era hora de preparar o terreno.

***

O primeiro beijo entre Melissa e Érique foi há dois dias. Hanna ficou surpresa e admirada pelo fato de Érique pedir a amiga em namoro para os seus pais. Tudo bem, algo raro de se ver hoje em dia. Mas também conhecia Melissa e sabia o quanto ela se guardava. Aquilo era especial, sabia disso.

Hanna estava ainda mais alegre, já que naquela noite de domingo, Érique falaria com os pais de sua amiga. Ainda estava toda boba com a notícia. Jamais imaginou que, um dia, sua melhor amiga, estaria namorando o seu primo. Isso era perfeito, ainda mais que ambos seriam os padrinhos do seu bebê.

Lembrou-se de quando conheceu Kevin, era tudo muito lindo e perfeito, até o dia em que levou o primeiro tapa na cara, mas sabia que Érique não era esse tipo de homem. Pelo menos alguém havia escolhido a pessoa certa.

***

Melissa já havia preparado o terreno para o pedido de Érique. Aliás, todos já suspeitavam mesmo. Enquanto isso, do lado de fora da casa, Hanna aguardava no fusca seu primo que estaria naquele momento "enfrentando" os pais de Melissa.

Assim que Érique chegou, ela o levou até a sala. O casal ficou sentado no sofá esperando uma brecha para falar. Mas isso não aconteceu durante vários minutos. Os pais dela assistiam o jornal tranquilamente, embora desse para perceber os sorrisos disfarçados. Quando, finalmente, o jornal acabou, Érique rapidamente entrou em ação:

— Pois é... — Dona Regina e seu Antônio caíram na gargalhada e Melissa acabou não resistindo.

Érique ficou perdido por um momento, estava nervoso por ter que falar com eles e não esperava essas risadas vindas do nada. Olhou para Melissa que apenas deu de ombros, achando graça daquilo tudo. Ele abanou a cabeça e, apesar do nervosismo, teve que abrir um sorriso ao ver aquela cena inesperada.

Como já conhecia um pouco os pais dela, a conversa foi mais tranquila. Seu Antônio concordou que poderiam namorar, no entanto ele enfatizou duas coisas:

— Compromisso e respeito.

Érique assentiu, comprometendo-se com aquilo. Isso já fazia parte do seu caráter. Jamais faria algo para magoar sua namorada.

Despediram-se, agora oficialmente como namorados e, ao sair pela porta, Érique a pegou de surpresa em seus braços.

— Até você teve que rir!

— Não sei o que aconteceu. — Ela abriu um largo sorriso. — Mas o importante é que deu tudo certo!

Ele não disse mais nada, apenas arrancou um bom beijo de seus lábios e de mãos dadas foram até o carro. Agora era hora de comemorar e foram na pizzaria com Hanna, que os aguardava impacientemente no fusca.

Melissa sabia que, para alguns, tudo foi rápido, mas, para ela, os meses em que passaram longe ou apenas conversando foram como décadas de amizade. Nutriam um sentimento forte e era apenas isso que ela sabia. Não diria que o amava, achava muito cedo para confirmar isso. Mas amava estar em sua presença. Podia ser ela mesma com Érique e era isso o que a deixava ainda mais apaixonada. Ele era o seu confidente e seu cúmplice, saber disso já bastava.

Simplesmente ameWhere stories live. Discover now