Capítulo 17

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Ele ainda despertava algo em mim. Não entendia o porquê de não conseguir esquecê-lo. Mas, a cada dia, ele me machucava mais pelo seu silêncio.

Não havia necessidade de usar social na empresa, então Melissa ia sempre de calça jeans com uma blusinha mais social e um sapatinho. Achava que ficava perfeito para trabalhar em um escritório, além de muito confortável. E também odiava usar calça social, tinha apenas uma para ser usada em caso de extrema necessidade.

Nas duas primeiras semanas, seu colega de trabalho, Murilo, foi quem a ensinou tudo. Começou pelo conhecimento das malhas, o tipo de trabalho que faziam até o estoque e, então, falou sobre o escritório. Ele era o responsável geral dos setores, por isso sabia tudo e sempre dizia "É essencial sabermos todo o procedimento". No fim, gostou dos novos conhecimentos. Da sorveteria direto pra uma malharia. Quem diria?!

Entretanto, o que não esperava naquela quarta-feira, era assumir o pagamento dos funcionários. A responsável por isso estava de cama, a dona teve uma emergência. Apenas deixou tudo explicado em uma pasta. Não tinha erro. Só tinha que tomar uma postura de líder. Bom, isso era uma prova de que confiavam em Melissa.

Chamou primeiramente as mulheres. Sentia-se melhor assim. No começo, se perdeu um pouco, mas elas sorriam, parecendo compreender, fazendo com que Melissa se soltasse mais e assim começou a pegar o jeito.

Homens tinham poucos. Tentou ser séria, direto ao ponto, mas este não era o seu jeito. Era do tipo amigável e não gostava de parecer muito séria.

— Chama o próximo, por favor — pediu a um senhor de óculos.

Pegou a última folha de pagamento, olhou para o salário e conferiu se o dinheiro estava certo. Suspirou quando a porta abriu. Finalmente, o último. Isso é cansativo!

Olhou o nome do funcionário e ficou surpresa.

— Érique? — indagou, ao mesmo tempo em que leu.

Ele a olhou, ainda mais surpreso.

— Melissa?

Ambos se entreolharam confusos por alguns instantes. Não acreditava que ele trabalhava ali. Como? Ela sacudiu a cabeça, tentando se recompor daquele encontro inesperado. Passado é passado, por mais que sua vontade fosse de colocá-lo contra a parede e falar tudo o que a sufocava, tinha que agir como profissional. Precisava se esforçar para isso, mesmo que seu coração estivesse batendo a mil por hora.

— É... Aqui está o seu contracheque e o pagamento — entregou uma folha, mas sem conseguir encará-lo.

Contou alto o dinheiro, para que ele mesmo conferisse. Sua voz começou a ficar trêmula de repente. Tentou não demonstrar o quanto se sentia fragilizada no momento. Não conseguiu.

Érique engoliu em seco ao ver aquele semblante doce demonstrar uma tristeza tão grande no olhar. Ele pegou sua mão e seus olhos se encontraram naquele silêncio estranho. Ele parecia querer dizer algo, mas hesitou em abrir a boca.

— Você não vai me contar o que aconteceu? — perguntou fitando-o.

Ele desviou o olhar. Melissa ficou indignada com sua atitude.

— O que você quer, então? Aconteceu aquilo e depois simplesmente sumiu da minha vida!

— O que você quer? — tentou ser agressivo. — Não percebeu que não sou mais seu namorado?!

Ela arregalou os olhos. Não esperava ouvir aquilo. Alguma coisa estava errada, ou então... Realmente não conhecia Érique. Aquilo a fez despertar para a realidade.

Simplesmente ameWhere stories live. Discover now