Capítulo 21

106 17 0
                                    

Olhei para ela com o coração acelerado. De alguma forma, me sentia mais perto de Suzane!

Melissa e Érique saíram do trabalho naquela hora e foram até à residência do casal. Patrícia já havia ligado para saber o endereço e informar que alguém da família Donly já estava a caminho. Ela não conseguiu tirar muita informação de Melissa já que esta estava eufórica e apressada para encontrar logo o casal. Apenas deu as informações necessárias.

Para surpresa de Érique, o casal morava no mesmo bairro que ele, em uma rua bem retirada. A estrada era de terra, a casa ficava bem no fim da pequena rua. Era uma residência simples, pintada de verde claro. Uma casa bonita e muito bem cuidada.

Assim que estacionaram, logo avistaram o casal com o bebê, na varanda da casa. Melissa ficou emocionada ao ver a criança. Que linda!

Érique ficou imóvel ao vê-la. Lembrava muito sua irmã quando era pequena. Era como se fosse ela própria. Aquilo o deixou emocionado. Aproximaram-se da casa devagar, não tirando os olhos da menina.

— Olá! — Rebeca, uma moça alta, morena, cumprimentou hesitante.

Ela segurava a menina com muito carinho. Seus olhos estavam inchados, Melissa percebeu. Seu esposo Rafael olhava seriamente para Melissa e Érique.

— Vocês são da família de Suzane Donly?

Érique sentiu uma pontada no estômago ao escutar o nome de sua irmã.

— Sou irmão. Mas como você encontrou a criança? — Ainda estava confuso com aquela história.

O casal se entreolhou e a mulher respondeu:

— Estávamos passando na frente da casa onde ela morava e escutamos o choro de um bebê. A porta estava aberta e encontramos a mulher deitada e a criança ao seu lado.

Érique engoliu seco ao ouvir aquilo. Ler as palavras da irmã no diário sobre o que ela estava passando já era doloroso, e escutar alguém dizer que a viu daquele jeito atormentou-o ainda mais, mas continuou firme, querendo saber o restante da história.

Rebeca continuou:

— Pegamos o bebê e vimos um caderno aberto. Percebi que era algo sério, então peguei e vi o pedido desesperado da mãe... Ela já estava morta, não tínhamos mais o que fazer. — Ela suspirou profundamente, lembrando-se daquela triste cena. — Achamos uma bolsa de criança e trouxemos junto com o bebê. Não sabíamos se estávamos agindo certo, mas também não sabíamos o que iria acontecer com a menina. A polícia logo chegou na casa, constataram que o pai deveria ter levado a criança, por isso ninguém desconfiou da gente...

Rebeca não conseguiu mais falar. Aquilo estava sendo difícil pra ela. Rafael, vendo o sofrimento da esposa, tomou à frente.

— Nossa intenção era procurar vocês o quanto antes, mas acabamos nos apegando à Vitória. Deixamos o tempo passar, mas não saía da nossa cabeça que devíamos devolvê-la para a família... Por isso, nos perdoem pela demora. É que está sendo muito difícil pra gente.

Melissa se emocionou com aquelas palavras. Não sabia o que aconteceria a seguir, apenas sabia que era a decisão mais difícil e certa que o casal poderia ter tomado.

Rebeca, um pouco mais calma, encarou os dois jovens seriamente.

— Havia um diário dentro da bolsa, guardamos todo esse tempo, mas, alguns meses atrás, o apartamento em que morávamos foi arrombado e várias coisas sumiram, inclusive o diário da Suzane.

Melissa ficou surpresa, Érique a encarou, tentando entender como o diário chegou em suas mãos.

— Eu o achei — confessou com os olhos brilhando. — No parque, estava jogado, sujo e até um pouco molhado.

Rafael e Rebeca entreolharam-se boquiabertos. Os quatro ficaram em silêncio naquela hora, pareciam contemplar a forma como o diário foi parar nas mãos da própria família. Não era uma coincidência, mas um milagre. Um milagre que todos testemunharam.

— Não tenho mais dúvidas de que fizemos a coisa certa — Rafael concluiu, sorrindo pela primeira vez.

— Só gostaríamos de fazer dois pedidos.

Érique assentiu, deixando que Rebeca continuasse.

— Queríamos conhecer onde a Vitória vai ficar e saber se poderemos visitá-la.

— Mas é claro. — Ele levantou-se, animado. — Vocês poderão vê-la quando quiserem. Foram os pais dela, são parte da família.

De repente, parou de falar e fitou a filha de Suzane, emocionado.

— Posso pegar a minha sobrinha?

Em resposta, Rebeca aproximou a menina. Minha sobrinha! Como era bom ouvir aquela frase. Ainda parecia um sonho. Depois de todo sofrimento, finalmente uma luz, algo que jamais imaginavam. Seus pais iriam amar. Era como um renascimento na família.

Não aguentou mais esperar e convocou o casal a irem com eles em sua casa.

Eles seguiram de carro atrás de Érique e Melissa. Ela nunca viu Érique tão feliz. Olhou-o diversas vezes, seu semblante resplandecia de paz e alegria. Agora estava mais tranquila. Errou, mas as coisas estavam se consertando ao seu próprio tempo.

No entanto, ele ainda estava silencioso com ela e isso a intrigava. Queria abraçá-lo, pegar em suas mãos e dizer o quanto estava feliz com tudo aquilo, mas, simplesmente, não tinha coragem, temia que ele a tratasse friamente.

Manfred e Suelen pareciam não acreditar naquilo tudo. Assim como Érique estava sentindo, tudo parecia um sonho. Pegaram a pequena Vitória e sorriram, de fato, era muito parecida com Suzane. Tinha os olhos cor de mel mais meigos e lindos que já tinham visto. Transmitiam inocência e pureza. Era o que aquela criança tinha, muito diferente do que seus pais haviam passado.

Depois de algumas horas, quando ainda pareciam tentar compreender tudo; combinaram com o casal para ficarem alguns dias com eles, para a criança se acostumar. Afinal, Rebeca e Rafael foram os pais da pequena por mais de um ano. Não queriam que a criança sofresse com o distanciamento deles, mas também era da sua família, tinha o sangue dos Donly, desejavam que ficasse com eles. E foi isso que o casal quis desde o começo. Eles foram anjos maravilhosos na vida da Vitória e da família Donly. Não havia palavras de agradecimento que pudessem expressar a bênção que trouxeram.

Érique foi levar Melissa para casa, já estava muito tarde. Pela primeira vez, ouviu-o cantarolar. Ficou contemplando-o. Era lindo e maravilhoso. O homem que sempre pediu a Deus! Será que, um dia, se acertariam? Essa pergunta martelava sua cabeça sem parar.

Mas não entendia o que havia acontecido com o monstro que Suzane falava em seu diário. Como Érique estava tranquilo, resolveu perguntar. Ele respondeu secamente:

— Não sei, ninguém soube mais dele.

As dúvidas que Melissa tinha agora haviam se confirmado, ele ainda estava chateado.

Suspirou fundo, evitando que as lágrimas invadissem seu rosto. Não queria parecer fraca na frente dele. Mas doía esse distanciamento, essa frieza.

Simplesmente ameWhere stories live. Discover now