Capitulo 34

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Larguei a alça da minha mochila, deixando-a cair no chão do meu do meu quarto, e atirei-me para cima da cama. Estava exausta. Esta tinha sido a segunda semana na escola da minha tia e, apesar de não gostar do colégio interno onde andei, preferia ter continuado nele. As pessoas não me conheciam, logo, eu não receberia os olhares que recebo. As pessoas olham-me com pena. Passei a ser a rapariga cujos pais foram atacados por um animal. E o facto de viver com a minha tia não ajudava a minha situação. Graças a isso, as pessoas pensavam que eu ia ser favorecida na escola. 

Era difícil ir para a escola todos os dias, sabendo que terei de lidar com esses olhares, com palavras de apoio que não significavam nada. Além disso, a ausência dos rapazes na escola deixava as coisas mais difíceis. Ainda tinha a Danielle e a Bea, com as quais voltei a falar, mas os rapazes costumavam oferecer-me uma segurança e estabilidade que nunca tive. 

O meu telemóvel emitiu um som que me fez limpar estes pensamentos da minha cabeça. Peguei no aparelho, que se encontrava no bolso das minhas calças, e desbloqueei-o. Tinha recebido uma mensagem do Luke: Apanhamos a Cece. Vamos mantê-la presa até chegares. 

Levantei-me de imediato da cama e saí de casa o mais depressa possível. 

Não demorei mais de quinze minutos a chegar a casa do Luke. A porta estava entreaberta, por isso não me preocupei em bater antes de entrar. Apenas o fiz, indo direta para a sala de estar.

Deparei-me com a Cece sentada numa cadeira, com os pulsos e as pernas presas à mesma. Ela estava inconsciente, com os olhos fechados e a cabeça caída para o lado direito. O Calum estava sentado no sofá, a olhar atentamente para o telemóvel.

O cabelo dela estava despenteado e a roupa era a mesma do último dia em que a vi: umas calças de ganga e uma camisola de malha cor de rosa.

"Há quanto tempo é que ela está aqui?" Perguntei. O Calum, que parecia não se ter apercebido da minha presença até agora, olhou para mim. Bloqueou o telemóvel.

"Há algumas horas." Ele respondeu. "Mas decidimos avisar-te depois de saires da escola." Anui. Aproximei-me dela, relutante, não fosse ela acordar e atacar-me. 

"Onde é que vocês a encontraram?" Perguntei curiosa. Ela estava desaparecida há algum tempo e os rapazes demoraram mais de uma semana a encontrá-la. 

"Estava em Londres." Uma voz familiar, que não era a do Calum, chegou aos meus ouvidos. Olhei para o local de onde a voz tinha vindo e encontrei o Luke. O seu rosto mostrava cansaço, já a sua voz impaciência e arrogância. Parecia que os dias em que ele estava minimamente simpático com as pessoas ao seu redor tinham acabado. "Graças a uma bruxa que eu encontrei, conseguimos apanhá-la antes que ela fosse para França." Acenei afirmativamente. O Luke mostrava não estar preocupado com o que tinha acontecido, não estava feliz por ter apanhado a Cece nem se mostrava orgulhoso de si próprio, por ter uma nova aliada. "Agora decide o que fazer com ela porque eu já estou farto desta história." As suas palavras tinham um tom meio agressivo, assustador. Ele parecia querer bater em alguém.

"Está tudo bem?" Perguntei com uma voz calma. Mostrei-me preocupada com ele. Mas tudo o que eu recebi foi uma resposta típica de um Luke de mau humor. 

"Mate-te na tua vida." Revirei os olhos perante a sua atitude. Decidi ignorá-lo e voltei a minha atenção para a Cece, que permanecia inconsciente. 

"Já sabes o que vais fazer com ela?" O Calum perguntou. Ergueu-se finalmente do sofá e aproximou-se de mim. Eu sabia exatamente o que queria. Não sabia se ia sentir remorsos no futuro, se me ia arrepender, mas neste momento era tudo o que eu queria. 

"Eu quero que ela morra." O moreno arregalou os olhos perante a determinação com que falei. Ficou surpreendido com o meu desejo e eu percebia o motivo. Ele, tal como a maior parte das pessoas que me rodeiam, sempre me viram como uma pessoa sensível, indefesa, talvez mimada. Provavelmente eles têm razão nesses aspetos, mas eu consigo mudar completamente quando algo de mau é feito à minha família. 

Observei o Luke pelo canto do olho. Ele estava a olhar na minha direção, mas a sua face não mostrava qualquer tipo de emoção. 

"Tens a certeza?" O Calum inquiriu. Eu acenei afirmativamente. Cruzei os braços ao peito e voltei a olhar para a rapariga sentada, ainda inconsciente, na cadeira. 

"Como é que queres que ela morra?" O Luke avançou na direção da Cece. A sua voz não mostrava nenhum traço de incerteza. Ele falou como se o que estava prestes a fazer fosse algo completamente normal, que não o afetaria de nenhuma maneira. 

Fiquei em silêncio durante alguns segundos. Não estava à espera desta pergunta. Não sabia bem o que responder, no entanto, sabia perfeitamente como tinha imaginado a sua morte. 

"Arranca-lhe o coração." Sem hesitar, o Luke fez o que lhe pedi, enquanto o Calum nos observava um tanto surpreendido. Vi a mão do loiro entrar no peito da pessoa que matou os meus pais e, poucos segundos depois, vi-a no ar, a exibir o sangue e o coração da Cece. 

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⏰ Last updated: Dec 30, 2016 ⏰

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