Capitulo 9

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Louis' POV

Bradford, 1923

Podia sentir o vento nocturno percorrer cada milímetro dos meus braços descobertos e a agitar ligeiramente os meus cabelos castanhos. Podia ouvir perfeitamente as vozes das pessoas que passavam por mim, mesmo que estas fossem a sussurrar ao ouvido do companheiro.

Eu era um vampiro, um ser sobrenatural cuja existência poucos conheciam. E estava feliz com isso. Gostava de conseguir fazer coisas que nenhum ser humano conseguia. Gostava de ouvir todo o tipo de sons durante os meus passeios ou então antes de adormecer. Gostava de poder chegar de uma ponta à outra da cidade em poucos minutos. Adorava todos os meus poderes sobrenaturais. Adorava ser vampiro. Apesar de existirem dois factores que impedem os vampiros de serem perfeitos, os benefícios conseguem ultrapassar tudo.

O mais benéfico era, na minha opinião, o facto de poder salvar a vida das pessoas com o meu próprio sangue. Era muito gratificante poder ajudar pessoas, principalmente aquelas de quem eu gosto.

Percorria as estradas vazias de Bradford. Os poucos candeeiros públicos davam uma luminosidade reduzida à rua. As luzes das casas que me rodeavam estavam apagadas e, pelo que conseguia perceber através da minha audição, já não existia movimento destro destas. Não era de admirar. Era uma hora e, tendo em conta que as pessoas teriam de ir para os seus empregos pela manhã, era importante que descansassem.

Ouvi um grunhido. Os meus passos cessaram, para que o som dos meus sapatos entrar em contacto com o chão não me incomodassem enquanto tentava perceber que barulho era aquele.

Outro grunhido, este mais forte e desesperado, atingiu os meus ouvidos. Mesmo que abafado, não deixava dúvidas de que estava perto de mim.

Decidi seguir a tosse que se tinha formado, acompanhada por gemidos de dor. Pelo que parecia, alguém estava em apuros.

Corri à mesma velocidade que um ser humano. Apesar de a estas horas quase não existirem pessoas nas ruas, não podia correr o risco de me mostrar. A existência de vampiros não é desconhecida para toda a população desta cidade, e a de caçadores não é desconhecida para mim.

Virei a esquina e deparei-me com um cenário terrível. Um rapaz estava estendido na valeta da rua, com a cabeça escondida entre os seus braços. Havia sangue espalhado à sua volta, não sendo em grande quantidade. A sua tosse enfraquecia a cada momento, tal como a sua respiração.

Dirigi-me a ele, agora mais lentamente. O seu batimento cardíaco começava também a enfraquecer e a sua respiração a escassear.

Rodei o seu corpo, de modo a que a sua cara ficasse destapada. Por momentos fiquei surpreendido ao ver quem era. Não esperava encontrar um conhecido meu a morrer na estrada. Mas tudo aquilo que via, todos os insultos e ameaças de morte que ele recebia faziam prever esta situação.

A sua face estava uma lástima. Os olhos negros, provavelmente dos murros que levou, o lábio inferior rachado e o nariz a sangrar mostravam que ele tinha sido espancado brutalmente.

Mordi a minha mão e, sem hesitar, levei a mesma à boca do rapaz para que o meu sangue o pudesse curar.

Zayn. Era esse o seu nome. Um rapaz solitário, sem amigos, desprezado por uns, julgado por outros. Tudo isto por pertencer a um país diferente, por ser muito pobre, por usar roupas escuras e, segundo aqueles que não têm o que fazer à vida, por se achar superior. Eu sabia que não o era. Apesar de aparentar ter um ar duro, eu sabia que ele era humilde.

Senti os seus lábios reagirem e, quase imediatamente, chuparem o meu sangue. Sempre achei isto sinistro. Preferia meter o meu sangue num copo e dar a beber às pessoas.

You and I 2 - Changes Where stories live. Discover now