Capitulo 2

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Os meus dedos agitavam-se freneticamente sobre as minhas pernas revestidas pelo tecido de ganga preto que formava as calças.

Estava sentada sobre a cama do meu actual quarto. Aquele onde iria dormir a partir de agora e teria de partilhar com alguém que eu não conheço. Não me sentia confortável em relação a isto. E se a pessoa com quem tinha de dividir este espaço fosse alguém com uma personalidade desprezível?

A minha mãe estava sentada ao meu lado. Os seus olhos percorriam o quarto, embora ela não prestasse atenção ao mesmo. Estava só à espera do momento certo para dizer algo. Já o meu pai passeava o seu corpo pela divisão, apreciando cada canto da mesma.

A minha cama encontrava-se encostada a uma das paredes brancas, a qual descobri poder decorar ao meu gosto se assim o desejasse. É evidente que eu o faria. Não trouxe fotografias minhas e dos meus amigos à toa. Ao lado da cama, permanecia uma mesa-de-cabeceira de madeira branca. Do lado oposto do quarto, de dimensões razoáveis, encontrava-se uma cama exatamente igual à minha, acompanhada por uma mesa-de-cabeceira.

Branco não era uma cor que eu gostasse de ter na mobília de um quarto. Muito pelo contrário. Preferia que fosse madeira preta ou então castanho-escura.

Ao lado da porta, de madeira castanha clara, encontrava-se uma secretária, também branca. Na sua superfície apenas se encontravam alguns livros, nos quais não tencionava mexer. Provavelmente eram da minha companheira de quarto.

Dois guarda-roupas encontravam-se frente a frente nos extremos do quarto. Obviamente que um deles me iria pertencer, enquanto o outro já devia estar ocupado com algumas peças de roupa deixadas pela rapariga.

A minha mãe aclarou a voz, fazendo-me dar-lhe a atenção que ela queria.

"Não te esqueças de ir buscar o teu uniforme." Revirei os olhos. Era a terceira vez que ela me avisava sobre isto desde que saímos do gabinete do director. Ele parecia ser um homem simpático, mas ao mesmo tempo um controlador obsessivo. Tinha espalhado câmaras de vigilância por toda a escola, que lhe forneciam as imagens em tempo real para o seu computador. Os únicos espaços que não eram filmados eram os dormitórios e as casas-de-banho ou balneários.

"E por favor. Não te esqueças que não estás no colégio da tua tia. Lá fazias o que querias e não eras castigada devidamente, mas aqui não tens quem te defenda." Assenti. Sabia que o que ela dizia era verdade. Mas não tencionava ter essas atitudes nesta escola. O que eu mais queria era passar despercebida, e responder torto aos professores iria ter o efeito contrário.

"Não te preocupes. Não me vou meter em sarilhos." Tentei descansá-la. Embora soubesse que as minhas palavras não fossem suficientes para o fazer. Várias vezes lhe prometi mudar o meu comportamento para com os professores mas acabei por não respeitar a promessa. Nunca fui muito boa a controlar o que me saia pela boca. Normalmente, só depois de ter dito algo é que pensava na gravidade da situação.

O silêncio voltou a instalar-se no espaço, o que era muito constrangedor. Podia ver nas caras dos meus pais que eles queriam dizer algo, mas não sabiam como o fazer.

O meu pai puxou a cadeira que se encontrava à frente da secretária e sentou-se nela à minha frente. Passou a língua pelos lábios, humedecendo os mesmos. Suspirou e focou os seus olhos nos meus, ganhando assim coragem para falar.

"Sabes que eu só estou a fazer isto para o teu bem, não sabes?" Quebrei o nosso contacto visual. Acenei afirmativamente com a cabeça.

Eu sabia que ele queria o melhor para mim, queria que o meu futuro fosse promissor, e para isso não se importava de me colocar numa escola diferente para que as minhas notas melhorassem. Eu percebo o seu lado, mas ele podia pelo menos ouvir os motivos que eu tinha para não mudar de escola. Eu tenho um namorado e um grupo de amigos em Bradford e a minha mudança de escola não me vai fazer feliz, muito pelo contrário. E não sei até que ponto é que o objectivo do meu pai se vai cumprir, visto que a minha mente vai estar a acompanhar os meus amigos e não na escola. Nunca me vou conseguir focar nos estudos enquanto as pessoas de que gosto estiverem longe de mim sobre perigo eminente. Tenho medo que a minha saída da cidade facilite ainda mais as coisas para o lado do Luke. Já não estou lá para fazer com que o Ashton se sinta culpado pelas suas acções nem para fazer com que ele pense nas suas atitudes e no que é melhor para ele.

You and I 2 - Changes Where stories live. Discover now