quarenta e dois

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— Ir para Seattle? — pisco algumas vezes, ainda tentando processar. — Eu moro aqui, John.

— Eu entendo que sua família está aqui, mas... e nós? Eu moro lá, meu trabalho é lá.

— Eu sei, John. Eu sei. E eu me estabeleci aqui. — suspiro. — Não pretendo ir embora. Não estava nos meus planos.

— Mas pode estar, não é?

Encaro John e seu semblante esperançoso. Era nítido o amor que ainda acontecia entre nós, mas a última coisa que eu queria no momento, era meter os pés pelas mãos e fazer tudo desandar.

— Vamos com calma, tudo bem? — peço, me aproximando dele. Passo meus braços pelo seu pescoço e brinco com seu cabelo. — Eu amo você, mas vamos devagar. Nós ainda precisamos conversar direito e... decidir quais serão nossos próximos passos.

— Você quer ter próximos passos comigo?

Eu adorava quando ele bancava o homem bobo apaixonado e fazia essas perguntas ainda mais bobas. Era sua melhor versão.

— Eu quero o mundo com você, John Christopher Davies. Mas eu quero com cautela. Nós não podemos nos machucar daquela forma nunca mais.

— Não vamos.

Ele gruda nossos lábios e me beija de uma forma, que seria capaz de me manter ali por muito tempo. Mas bateram na porta.

— Emma? — era Ryan. — Preciso de você. É a mamãe.

Olho alarmada para John e abro a porta depressa. Como Ryan já não estava mais ali, desço as escadas e o encontro ajoelhado perto do sofá.

— O que aconteceu?

— Não é nada. — Ingrid murmura, sem nem abrir os olhos. — É apenas uma dor de cabeça.

— Ela ficou tonta e quase desmaiou, Emma. Precisamos levá-la ao médico.

— Que exagero, Ry. — ela toca o braço do filho. — Emma está ocupada com o namorado e eu estou bem!

— Você está bem mesmo? — pergunto, olhando-a do outro lado do sofá e tocando sua testa, procurando algum sinal de febre. — Não finja que não é nada.

— Estou bem, filha. — Ingrid sorri e move os olhos lentamente para John. — É um prazer finalmente conhecê-lo pessoalmente.

— Igualmente, senhora. Eu vou deixar vocês a sós. Emma?

— Eu já volto. — digo para Ryan e Ingrid.

Vou com John até a calçada e suspiro, preocupada com o que Ingrid possa ter.

— Eu queria que você viesse comigo até o hotel onde estou. — ele diz, brincando com o meu cabelo rebelde. — Mas a sua mãe precisa de você. Fico feliz de vocês terem se acertado.

— É. Eu ainda tenho muito para superar e... um dia eu conto tudo para você.

— Vai me encontrar amanhã na gravação? É sábado, você não deve trabalhar.

Sorrio pela sua astucia.

— É, não trabalho, mas... eu vou ver. Não sei como Ingrid estará amanhã.

— Me avisa? Meu telefone é o mesmo.

— Aviso.

Ele me beija brevemente e se afasta ainda segurando a minha mão.

— Eu te amo. — diz, com um sorriso. — Muito.

— Eu também amo você, John.

Como ainda segurava minha mão, John me puxa para o seu corpo e me beija mais uma vez.

— Nunca mais me deixe assim. — ele murmura. — Mesmo que eu seja um idiota.

— Está bem. Agora vai!

Empurro-o de leve e espero que ele entre em um táxi. Quando o carro se vai eu volto para casa com o coração repleto de alegria.

[...]

— Como ela está hoje? — pergunto a Ryan, que bebia seu café.

— Disse que estava bem e só queria dormir até mais tarde. Leona levou o café da manhã dela na cama.

— Ah. — sorrio, aliviada. — Que bom. Ela é forte.

Eu estava acostumada com ver todo mundo partindo e ficar sozinha, mas Ryan não. Seu pai tem outra família e vive em outra cidade, onde ele nunca se encaixou. Nós nos amamos tanto, que meu maior medo é ver ele perdendo a mãe e sentindo exatamente o que senti quando meu pai morreu.

— Já viu as notícias das celebridades? — ele questiona, com uma risada no final. — Está bombando.

— Qual a novidade dessa vez?

— Você.

Ryan me estica o celular, visto que eu o encarava como se fosse louco. E estampado em vários tipos de revistas virtuais, estávamos eu e John aos beijos na porta de casa.

— Ah legal. — murmuro, devolvendo o celular para ele. — Se antes eles ficavam se perguntando por onde eu andava, agora essa pergunta está respondida. Todo o esforço que tive para me manter escondida, acabou de ir pelo ralo.

— Bobeira. Vocês voltando, essas aparições vão ficar ainda mais constantes.

— Eu ainda não sei se vamos voltar.

— Por quê?

— Ele quer que eu vá para Seattle. — abandono a torrada que comia e caminho de um lado para o outro, tentando acalmar minha mente. — Eu não consegui dormir essa noite, com a cabeça rodando nesse assunto.

— Sabe que nós sempre te apoiaremos em qualquer decisão. Você ter vindo morar conosco, ter feito as pazes com a mamãe, foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela. Na nossa.

Volto a me sentar e pego nas mãos de Ryan.

— Eu que digo isso. — sorrio. — Achei que minha família tinha terminado com a morte do meu pai, mas... eu tenho você. Apesar de tudo, sei que tenho a In... a nossa mãe.

— Sim, você tem. Então se quiser voltar com o ator para Seattle, está tudo bem. Sabemos que lá é sua casa de verdade.

— É... eu vou ver isso direitinho. Agora eu vou encontrar com John lá na gravação dele. Quem sabe eu decido durante o caminho.

Antes que eu pudesse me levantar, Ryan me puxa para um abraço apertado e cheio de amor.

— Obrigado por ser a melhor irmã possível. — diz, afagando minhas costas. — Não fique pensando que vai nos magoar se for embora. A única coisa que queremos é a sua felicidade e convenhamos, Emma, você só é feliz ao lado dele.

Após beijar seu rosto e dizer que nada está decidido, saio de casa rumo ao local onde John está gravando sua nova série. Eu precisava vê-lo mais uma vez e decidir o que fazer da minha vida.

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