trinta e seis

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[Emma]

Bato o pé no chão, nervosa por tal demora. Olho o celular mais uma vez, checando a hora e procurando alguma mensagem. Só então lembro, que não tinha como chegar mensagem alguma, já que eu tinha desativado minha linha telefônica.

Olho em volta, encarando todas aquelas pessoas felizes e sorridentes pelo aeroporto, em busca de um rosto conhecido. Já estava a ponto de me arrepender das escolhas feitas, quando eu o vi.

Me levanto e ajeito as malas ao meu lado, enquanto assisto Ryan andar apressadamente em minha direção.

— Caramba! — ele resmunga, ofegante. — Você podia ter sido clara com o local onde estava.

— Eu fui. Disse que estaria ao lado de uma lanchonete.

Ryan bufa.

— Já viu onde estamos? Tem milhares de lanchonetes aqui dentro. Você podia ter pelo menos tirado seu celular do modo avião.

— Ele não está.

— Bem, algo está errado. — ele diz, puxando uma de minhas malas. — Tentei te ligar e não ia.

— É. Eu sei.

Ele apenas me olha de lado. Imagino que minhas respostas monossilábicas, tenham dado a ele a resposta de que não quero conversar no momento.

Nós ficamos em silencio por um bom tempo. Aquilo me fez pensar em John e estava me deixando melancólica mais uma vez.

— Eu fiz uma reserva em um hotel. — Ryan diz, fazendo com que eu o olhe. — Pensei que você precisaria de um momento antes de ir até em casa.

Olho para o outro lado e esboço um sorriso.

— É. — respondo. — Mas pode deixar que eu pago pela reserva.

— Não estou cobrando.

— Eu sei.

— Aconteceu algo? — ele pergunta. — Quer dizer, com você e o cara lá. Notei que sua voz estava estranha quando me ligou.

Olho para Ryan e penso por alguns segundos. Ainda não confiava nele, mas não me restava mais ninguém. Ele era minha família.

— Nós terminamos e foi bem... doloroso para mim. E pior do que isso, foi a traição que recebi de uma pessoa que considerava minha melhor amiga.

— Estamos chegando ao hotel e se você quiser... nós podemos conversar.

— Ryan eu aprecio muito isso, mas não quero remexer essa história por agora. Eu amava... eu amo o John. Muito. — sinto meus olhos arderem, ao mencionar o nome dele. — Não quero reviver tudo aquilo de novo.

Ele para o carro, ao mesmo tempo que solta um suspiro.

— É. Nós somos mais parecidos do que eu pensava. — diz, com um sorriso no final. — Bem, é esse o hotel. Diz seu nome na recepção que vão dizer qual quarto é.

— Obrigada, Ryan. Mesmo depois de ter sido grossa, você me ajudou a sair de Seattle.

— Somos família, Emma. Temos que nos ajudar.

[...]

Depois de dois dias em total reclusão, apenas comendo e chorando, resolvi aceitar o convite de Ryan, para almoçar em sua casa e conhecer a mulher que me deu a vida.

Para quem viveu a vida toda em uma cidade nublada e fria, estar em Malibu era definitivamente, estranho. Usando apenas uma blusa simples e short jeans, deixo o hotel e entro no uber que meu novo irmão havia mandado.

Pelo que ele havia dito, era uma viagem de menos de dez minutos. Tudo era muito perto, ali naquela cidade. E no caminho, vejo um outdoor com o rosto de John.

Estava evitando olhar fotos ou mensagens antigas, para não sofrer ainda mais. E ali estava o rosto dele. Era como se ele estivesse olhando diretamente para mim.

— Chegamos, senhorita. — o motorista diz, chamando minha atenção.

— Oh... quanto deu?

— Já está pago.

Olho pela janela e percebo que Ryan está a minha espera na calçada. Sorrio para o motorista e desço do carro.

— Acha que eu não tenho dinheiro nem para o uber? — pergunto, sem dar um bom dia sequer.

— Que isso, garota? — ele ri. — Meu cartão estava cadastrado no app. Apenas isso.

Olho-o de soslaio e acabo sorrindo. Ryan era peculiar, mas a cada gesto, eu me via mais naquele garoto.

— Vem. Mamãe está te esperando.

— Ainda acha uma boa? — questiono, parada na porta de entrada.

— Você que sabe, mas... ela ficou aparentemente melhor, desde que contei que você estava na cidade.

Respiro fundo a balanço a cabeça, em afirmativa. Ryan abre espaço e eu entro na casa.

Ingrid estava ali. Sentada na poltrona, que havia na imensa sala, diante da lareira que devia nunca ser acesa. Ainda parada perto da porta, eu conseguia enxergar a cozinha e o deck, com a praia no horizonte.

— Mamãe!? — Ryan chama, passando por mim. — Emma está aqui.

Ela se levanta e vira na minha direção. Ingrid continuava do mesmo jeito das fotos que eu tinha, de vinte e poucos anos atrás. Ela abre um imenso sorriso e os braços, assim que me vê.

— Eu não...

— Vai. — Ryan rosna, quando percebe que estou a ponto de negar o abraço dela.

Quase reviro os olhos, antes de andar até Ingrid e deixar que ela me abrace. Não demora para que ela esteja chorando, enganchada em meu pescoço.

— Eu precisava tanto disso. — ela diz, sem me soltar. — Tanto. Nem em mil anos, eu imaginaria que teria o prazer de abraçar você de novo.

— Bem, a culpa disso não é minha.

Ingrid suspira e se afasta de mim, secando o rosto.

— Também não é minha. — ela diz, firme.

— Mãe...

— Não, Ryan. Eu cansei de ficar longe da minha filha. Cansei de ter você, Emma, me odiando por tantos anos, sem saber da verdade. Então se quer continuar me odiando, ótimo. Mas vai me odiar, sabendo de toda a verdade, sobre eu ter ido embora.

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