trinta e dois

57 10 1
                                    

John piscou tantas vezes diante da minha frase, que eu já havia perdido as contas.

— Emma, eu posso explicar.

— Eu imagino que sim. — jogo o celular na cama novamente e cruzo os braços. — Alguma explicação deve ter, para eu não ser suficiente.

— Você é suficiente, Emma. Eu só... quando comecei a ligar, a gente ainda não se conhecia. Foi logo após o meu término com a Jenni. Dom apareceu com um telefone desse e disse que seria bom para mim. — John tenta se aproximar, mas me afasto. Não permitia que ele tocasse em mim. — Emma, eu juro a você.

— Eu até consigo acreditar, mas o que justifica você ter ligado hoje? E imagino, que se ligou hoje, ligou diversas outras vezes enquanto estávamos juntos.

John suspira e balança a cabeça. Ele estava confirmando.

— Não importa o que eu diga, você não vai acreditar em mim. Mas eu não tinha interesse nenhum amoroso ou sexual naquela garota. Pelo menos da minha parte, era quase uma amizade.

— O que? — solto uma risada nervosa.

— É. Eu devo ter gasto milhares de dólares, apenas para conversar com uma desconhecida. — ele ri. — Ela até me chamava por um apelido. Mas eu juro que...

Senti meu mundo rodar. Eu devia ter me dado conta, nas primeiras frases que John havia falado. Era sobre mim que ele estava falando. Era com ele, que eu conversava todo aquele tempo.

Eu devia ter me dado conta justamente no dia em que ele chamou meu nome naquela chamada. 

— Do que está rindo? — ele pergunta, me fazendo olhá-lo.

— Bonitão.

John franze o cenho e se levanta.

— Como... — ele fecha os olhos e suspira. — Emma, como sabia de onde era aquele número de telefone?

— Meu Deus! Qual era a probabilidade?

— Emma!

— Da mesma maneira que eu sei qual apelido você tinha. — digo. — Era comigo que você falava.

Ele me encara esquisito. Era óbvio que ele já tinha pensado nisso, quando seu apelido saiu da minha boca.

— Mas... você trabalhava em algo de lingerie.

— Não. Era uma fachada. Lá é um tele-sexo, bem como você já sabe.

Me sento na cama e não demora para que John esteja ao meu lado. Ambos estamos olhando para o chão, mas com a certeza de que os pensamentos eram os mesmos. Eu não tinha mais condições de cobrar algo, que eu tinha a mesma porcentagem de erro.

— Então foi por isso que eu sentia que tinha uma ligação com aquela atendente. — John me olha e observa meu rosto minuciosamente. — Era você. Eu só não entendo porque...

— Como que eu iria te contar, John? Eu tinha conhecido uma pessoa incrível e que fazia questão de mim. Você perderia todo o encanto, se soubesse o que eu fazia até ontem, para não morrer de fome.

Eu podia ver em seu rosto que ele estava decepcionado.

— Acho que vou arrumar as minhas coisas. — digo, me levantando. — Só...

— Aonde você pensa que vai?

— Ué, acho que terminamos. Não?

John ri. Ele conseguia me deixar bastante confusa.

— Claro que não, Emma. — ele me estica sua mão. — Vem aqui.

Deixo que ele me puxe de volta para a cama e sem soltar nossas mãos, ele diz:

— Eu estou chateado por não ter me contado sobre o seu trabalho, mas entendo.

— O que?

— Não é porque a minha vida foi entre aspas, fácil, que a sua deveria ser. Sei que foi apenas você e seu pai durante toda a sua vida e quando ele se foi, tudo ficou difícil. Eu não julgo você, Emma. Eu entendo.

— John... — não era as palavras que eu imaginei que ele diria.

Tinha um bolo em minha garganta. Faltava um fio, para que eu explodisse em lágrimas.

— Você não precisa me agradecer ou algo do tipo, porque... se não tivesse sido você naquela ligação...

— Ah meu querido, essa conversa estaria tendo um rumo bem diferente. — finalizo, rindo. — Se eu me lembro bem, teve uma noite em que você quis mais do que conversa.

— Ah... a estreia estava chegando e eu...

Toco seu rosto e o beijo rapidamente. John responde, empurrando-me de leve e deitando sobre mim.

— Não foi assim que imaginei essa conversa acabando. — ele diz, alisando seu nariz no meu. — Quando me questionou sobre sua importância, vi todo o nosso futuro ir por agua abaixo.

— Você enxerga um futuro para nós?

— Claro. Você não?

— Não é isso. Só não estou acostumada a ser feliz constantemente. Sempre que algo parece bom demais, alguma coisa acontece e tudo acaba.

— Não a gente, amor. — John sorri, acarinhando meu rosto. — Vamos fazer uma promessa? Nada de mentira. Nunca mais.

Ajeito-me na cama e me sento, esticando a mão para ele.

— Sem mentiras.

John aperta minha mão, selando nosso acordo.

— Sem mentiras. — repete. — Sabe o que deveríamos fazer para tornar esse acordo válido?

— Consigo pensar em algumas coisas.

Ele bate na ponta do meu nariz e salta da cama, com seu celular em mãos.

— Vou pedir aquela pizza que falei. — diz, saindo do quarto.

Tombo meu corpo na cama, frustrada de forma engraçada. Pensei que iríamos bagunçar as cobertas com bastante sexo, para nos recuperar da breve DR que quase tivemos. Mas na realidade, vou encher ainda mais o meu estômago.

Acho que eu nunca encontraria alguém tão parecido comigo, quanto John. Nós conseguimos nos completar de todas as formas. Desde o gosto musical, até a fome sem fim.

Tomo um banho e depois me junto a John na sala. Levei o tempo exato, até que a pizza estivesse na mesinha de centro, exalando um ótimo cheiro.

Puxo a primeira fatia da pizza de brócolis, enquanto John vai até a cozinha buscar vinho. Quando ele volta, estou tirando a segunda.

— Para quem comeu na rua, você está faminta. — ele brinca, se juntando a mim. — Aliás, eu não tive a oportunidade de perguntar. Como foi com o seu... desculpa. Com o Ryan.

— Foi bom. Ótimo na verdade. Hoje eu sinto que realmente tenho algo significativo na minha vida. Com ele e com você.

John sorri diante da minha frase e se estica para me dar um selinho com gosto de vinho. Ele coloca mais um episódio de friends para assistirmos e eu me aninho em seu corpo, me deliciando da pizza e de sua companhia. 

Hotline BlingWhere stories live. Discover now