vinte e oito

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[Emma]

[uma semana depois]

— O telefone foi um fiasco! — Lilian diz, quando eu jogo o aparelho na caixa. — Eu sabia que dinheiro fácil não dava certo.

— É. Mas por mim tudo bem. Não estava com muita paciência para aquilo mesmo. — digo, devolvendo o olhar torto que duas atendentes me dão. — Aliás, eu preciso conversar com você.

O primeiro dia que fui trabalhar, após aparecer em todos os meios de comunicação ao lado de um famoso ator, foi um tremendo inferno. Não houve uma garota que viesse até mim, perguntar se eu estava fazendo algum tipo de trabalho como acompanhante de luxo, pois na cabeça ridícula delas, essa era a única forma de eu estar em um evento daquele e ao lado de John.

Acho que gritei com umas três... não, quatro! A insistência em saber da minha vida, me deixou extremamente irritada. E por isso, nenhuma delas fala comigo. Ficam me encarando de longe, fazendo piadinhas. Então tomei uma decisão crucial, que Lilian provavelmente reprovaria.

— Ótimo. Eu também preciso te contar uma coisa.

Lilian agarra em meu braço e me puxa para a mesa de café. Ela espera que mais duas garotas passem por nós, encarando como sempre.

Reviro os olhos e a encaro.

— Eu vou...

— Eu vou sair com um cara hoje! — Lilian me atropela, falando rápido como sempre. — Não me mata, por favor.

— Por que eu faria isso? Você está precisando transar mesmo.Agora foi a vez dela de revirar os olhos. E ainda me empurrou de leve.

— Só está falando isso porque John comparece todo dia.

Faço uma cara sacana e passo a língua nos lábios, concordando.

John era incrível. Toda vez que transamos, ele fazia questão de me satisfazer primeiro, para depois ter o seu prazer. Raras eram as vezes que eu podia fazer o mesmo. Ele era bem dominador e eu amava isso.

— Enfim... — Lilian diz, trazendo-me de volta dos pensamentos safados e cheios de tesão com John. — É que...

— Fala logo, garota.

— É um cliente. — arqueio uma sobrancelha. — Bem, cliente daqui.

— Espera... é aquele cara que te fez gozar outro dia?

— Sim! Nós nos falamos todos os dias. Ele sempre liga e ontem a noite, disse que vai estar me esperando no Starbucks daquela rua gastronômica, daqui a pouco. — ela olha o relo

— Mas como você vai saber que é ele? Não se falaram por vídeo ou algo do tipo?Lilian balança a cabeça negativamente, sorrindo. Ela estava bastante animada com aquilo.

O sinal toca, informando que estava na hora de pessoas como a Lilian irem embora e pessoas como eu, começarem o trabalho.

— Bem, boa sorte. — digo, abraçando minha amiga. — Manda a sua localização para o meu celular depois, para que eu saiba que você está viva.

Ela ri e apenas balança a cabeça. Quando Lilian sai, ao invés de ir para minha cadeira de sempre, desvio de algumas falsas e vou diretamente para a sala de Richard. Ouço sua voz após duas batidas minhas na porta e então entro.

— Espero que não tenha vindo me pedir mais nada.

— Não exatamente. — respondo, sentando a sua frente. Ele larga o celular e me encara. — Eu quero pedir demissão.

— O que?

— Sou grata pelo tempo que trabalhei aqui, mas decidi que preciso viver outras coisas.

— Isso tem a ver com aquele cara lá? Da televisão. Não se fala sobre outra coisa aqui. Que você estava com um ator muito famoso em uma estreia de filme.

Reviro os olhos.

— Não. Não tem a ver com ele.

Era óbvio que tinha. Agora eu tinha aparecido ao lado de John, para qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo ver, meu maior medo era que ele soubesse como pago minhas contas. Embora eu saiba que não deveria me importar, pois o trabalho veio antes de conhecê-lo, a única coisa que passava pela minha mente, era alguém contando a ele e tudo que estamos construindo, vai por agua a baixo.

— Enfim, eu preciso mudar a minha vida. Sou muito nova para ficar sentada atrás de um computador, fazendo homens sem vergonha na cara para conhecer alguém ou até mesmo aqueles que traem suas companheiras, gozarem.

Richard riu extremamente alto. Embora a porta esteja fechada, ainda olho para trás com a sensação de que tinha alguém olhando aquele show.

— Olha Emma, você fala essas mentiras para quem quiser ouvir. Todos aqui sabem que você sairá agora, é para ser bancada pelo famoso lá. Não seja sonsa.

Em minha mente passa diversas formas de quebrar aquela mesa na cabeça grande daquele homem. Ou enfiar a caneta em seu olho. Até mesmo grampear seus lábios, para evitar que fale tanta merda. Mesmo com todas essas ideias assustadoramente boas, eu apenas balanço a cabeça e solto uma risada baixa, levantando-me da cadeira.

— Sabe Richard, eu não vou perder meu tempo com você. — puxo uma folha em branco e começo a escrever rapidamente. — Não vale a pena. Não vale o estresse. Aqui. Meu pedido formal de demissão. Em cinco dias eu volto para receber meus direitos. Adeus.

Como esperado, ele começa a me xingar e falar mais algo que de costume. Determinada a não perder minha razão, dou-lhe as costas e saio, deixando aquele homem amargurado e soberbo berrando sozinho.

[...]

— Não, John. Estou chegando em casa ainda.

— Então vem para cá à noite?

Ele fez uma voz baixa e fofa, me levando a rir.

— Não tenho certeza. Dormi na sua casa praticamente a semana toda. Tenho a minha, sabia?

— Nesse caso, eu posso ir dormir com você.

— Não consegue ficar uma noite sem mim? — pergunto, abrindo a porta de casa. — Isso é quase uma dependência.

— Não é quase. É uma total. Heinnnn!? Deixa! Ou vem.

— Amorzinho, eu vou tomar um banho e comer. — digo, desconversando. — Depois nos falamos, tudo bem?

— Posso te ver tomar banho?

— Tchau, John Davies!

Jogo o celular no sofá e vou para o banheiro. Encaro-me no espelho e sorrio para mim mesma.

Eu fiquei bastante surpresa com a minha força de vontade para que o meu relacionamento com John dê certo. Larguei o único emprego que tive, sem ter nada em vista, para que ninguém o fizesse passar vergonha com o que eu fazia para viver.

Como ainda tinha um dinheiro do filme na minha conta bancária, aquilo me daria algumas semanas para conseguir achar outra coisa. Não seria muito difícil. Espero.
Antes que eu pudesse começar a me despir para tomar banho, ouço um barulho gigantesco vir da cozinha e corro até lá.

— Isso só pode ser brincadeira.

Hotline BlingWhere stories live. Discover now