trinta e quatro

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— Poxa, me entristece saber que eu convivi com uma colega de profissão todo esse tempo e sem saber.

— John, eu...

— Eu sei. Você pode explicar.

John estava sendo tão irônico, que eu não conseguia formar uma frase sequer, por puro nervosismo. Eu não me reconhecia. Quando confrontada, mesmo errada, sempre rebati qualquer pessoa. Mas não com John. Eu estava apavorada com o que podia acontecer.

— A... a situação... é... é a mesma. — gaguejo. Respiro fundo antes de continuar. — Eu precisava do dinheiro.

— Isso não é desculpa, Emma.

— O que?

— O seu emprego, eu até entendi, já que não nos conhecíamos. Mas isso? — ele ergue o celular mais uma vez, com o video ainda rolando. — Isso aqui foi antes do meu aniversário. Nós já... tínhamos alguma coisa.

— Acha que eu gosto disso? Dessa situação? De ter mentido para você? John, eu precisava.

— E por que não arrumou outra forma de ganhar dinheiro? Precisava ser...

John comprime os lábios, forçando-se a não falar. Eu quase conseguia imaginar o que ele iria dizer.

— Sabe o que isso parece? — ele continua. — Você não serve para relacionamentos, Emma. Todos os seus passos, são pensados apenas para você. Você não pensa se algo que está fazendo, pode me atingir ou não.

— E eu estou errada por isso? John, nós não éramos nada. Estávamos nos conhecendo e as minhas contas apenas chegavam. Minha geladeira mal tinha comida.

— E fazer aquele filme, foi sua melhor opção?

— Foi a única que tinha no momento.

Ele ri, ironicamente. John chorava, mas não com a mesma intensidade que eu. A ideia de perdê-lo, era horrível.

— Não era. — ele diz. — Eu jamais negaria algo a você.

— E eu não pediria.

— É. Preferiu fazer algo que pode destruir a minha carreira. Apenas.

— A sua carreira? — foi a minha vez de rir ironicamente. Não conseguia acreditar, que seu maior problema era aquilo. — Então esse é o problema de eu ter feito esse video?

— Apareci com você em rede nacional e internacional, Emma. Te mostrei para o mundo, orgulhoso da pessoa que você era.

— Para. — murmuro, sentindo minha garganta fechar novamente. — Por favor.

— Olha tudo isso aqui. — John abre os braços. — Levei dias planejando um pedido de namoro, que tivesse tudo a ver com a forma que nos conhecemos. E assim que você aceitasse, iria fazer um pedido formal para que morasse comigo. TODOS, todos os meus planos, envolvem você. Envolviam você.

— John... o que...

Ele ergue a mão e da alguns passos para trás, quando tento me aproximar.

— Não chegue mais perto.

— A gente precisa conversar. Sentar e...

— Não. Não temos o que conversar. Não há nada que me faça mudar de ideia.

— Você não... não me ama mais?

— Esse é o problema. — ele guarda o aparelho em seu bolso e passa a mão no rosto. — Eu amo, mas não posso ficar te amando no escuro.

— John, por favor. — ando apressadamente até ele, antes que o mesmo saia do vagão. — Não sei se sou capaz de viver... viver sem você. Você me deu algo que... que eu nunca senti. Duvide de qualquer coisa, menos do meu sentimento por você ou de tudo o que vivemos.

John segura minhas mãos que tocavam o blazer que ele estava vestindo e me empurra de leve. Ele estava me rejeitando e aquilo estava me destruindo ainda mais.

— Eu vou para o Dom. — diz, friamente. — Vou deixar você arrumar as suas coisas em paz. Não esteja lá a noite, Emma.

— John... — seguro sua mão. — Me desculpe. Não me deixa.

Ele puxa a mão e sai do vagão, ignorando completamente os meus pedidos para que ele não vá. Perco as forças que ainda tinha e acabo caindo de joelhos no chão.

Quando fiz aquele video, não tinha a menor pretensão de ter John em minha vida de maneira constante. Apesar de estarmos nos vendo bastante, imaginava que algo o faria se afastar de mim e então viveria minha vida fria e sozinha como antes.

Ver John caminhando para cada vez mais longe de mim, foi acabando com meu coração cada vez mais. Nunca imaginei que a minha felicidade iria depender de alguém, como dependia de John.

Meu celular toca e eu o pego em desespero, esperando que fosse John. Era Lilian.

— Amiga... — sua voz estava baixa. Eu chorava e soluçava, não foi difícil para que ela entendesse. — O que John falou?

— O que... como... como assim?

— Emma... eu...

Teve uma pausa, que me fez pensar em como ela saberia a causa do meu desespero. Eu não havia tocado no nome de John, quando a atendi.

— Dominic era o cara com quem eu falava no trabalho. — diz, de uma vez. — Nós temos nos visto diariamente, desde aquele dia.

Ainda bem que eu estava sentada no chão, ou teria caído após aquela informação.

— No inicio, foi tudo maravilhoso. — ela continua, com um suspiro. — Dominic dizia que não se importava com o fato de eu ser uma atendente de sexo, pois aquilo o deixava com ainda mais tesão. Ontem... Emma, onde você está? Vamos conversar pessoalmente.

— Lilian, apenas continua.

— Ontem ele disse que não tinha mais graça. Que o tesão havia passado e não tinha mais o que fazer. Caralho, eu já amava aquele homem platonicamente, mas depois dessa semana, eu estava mais do que apaixonada. Não podia deixar ele acabar com tudo daquele jeito. Então eu...

Meu sangue pulsava rápido demais. Embora parecesse uma história que não tinha nada a ver comigo, meu coração dizia algo completamente o contrário.

— Eu quis apimentar tudo novamente. — Lilian continua. — Mostrei a ele o video que fiz e... e ele surtou. Dom me xingou de puta para baixo e... Emma... me desculpe.

— O que você fez? — sussurro, com medo do que vinha a seguir.

— Eu... eu disse que John era homem de verdade, já que você também tinha feito filme e vocês continuavam juntos. Achei que tudo fosse se resolver, mas ele pediu minha ajuda para achar o video que você tinha feito e depois me expulsou de casa. — ela chora. — Emma... me desculpa, amiga. Por favor. Eu não queria...

Desligo a ligação e grito, com a intenção de expulsar toda dor e mágoa que estava afligindo meu coração.

Me levanto saindo do vagão e consequentemente da estação, sem olhar para trás, sabendo exatamente qual seria o meu próximo passo. 

Hotline BlingWhere stories live. Discover now