23. Sob Pressão.

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                      𝓝 ão consegui gritar, ou me mover. Encarei Darkless com o coração acelerado e a boca que ele beijara antes, seca de medo. Nunca tinha testemunhado algo tão cruel assim. Seus olhos estavam vermelhos e suas presas tocavam a parte abaixo de seu lábio inferior; suas mãos, aquelas que tinha usado para acariciar meu corpo, estavam curvadas em garras, e uma delas segurava o coração de Alex. Alex… Que estava imóvel no chão, sua pele antes branca assumindo um tom de cinza doentio. Morto. 

Aleksander estava morto.  
Darkless o havia matado. 

Uma outra pessoa se juntou a nós na clareira, um dos dois homens que eu sempre via andando ao lado do Mestre. Sua única reação ao ver o cadáver de Aleksander, foi arquear as sobrancelhas em desgosto. Não desgosto com o que seu Mestre tinha feito, desgosto com Alex. 

— O pai dele ficará furioso. — O vampiro comentou, dando de ombros. — Precisará inventar uma história mais convincente que um ataque de raiva. 

Darkless começou a se recuperar, saindo da posição de ataque. Suas presas se recolheram e seus olhos voltaram ao azul celestial de sempre. Mesmo com sua expressão angelical de volta, eu não conseguia não sentir medo. Darkless não disse nada ao seu súdito, apenas me olhou com o rosto sem nenhuma expressão antes de começar a caminhar em minha direção. Foi quando encontrei minha voz. 

— Não se aproxime de mim… — Minha própria voz me foi uma surpresa; não havia nenhuma emoção, apenas o eco do nada. — Não me toque. 

Darkless parou, suas íris azuis fixas em mim. Na luz tênue da lua cheia, pude ver o conflito em seus olhos, pude ver sua boca se cerrar em irritação. Também pude ver o vampiro atrás dele arquear as sobrancelhas, provavelmente esperando outro banho de sangue após eu falar daquela forma com seu Mestre. Mas o que Darkless fez, surpreendeu a nós dois. 

— Leve a senhorita Relish para a casa dela. 

Após o comando simples, Darkless desapareceu. Sumindo tão rápido que meus olhos não conseguiram acompanhar o borrão. O vampiro suspirou antes de se aproximar de mim. 

— Sou Taurus, faço parte da Guarda. Posso lhe levar ou prefere que acompanhe sua caminhada?

— Prefiro… — Minhas pernas falharam e numa rapidez impressionante, Taurus me segurou em seus braços fortes. Senti minha cabeça rodar, a boca ficar seca. — Me leve, por favor. 

Taurus assentiu para minha voz fraca e me ergueu em seus braços. Sem forças, apoiei a cabeça em seu ombro. Meu corpo todo doía, e as náuseas começaram a me tomar assim que o vampiro lançou mão da sua velocidade vertiginosa, voando pelo roseiral. Em poucos segundos já estávamos frente a mansão Relish. Quando Taurus me colocou no chão, cambaleei. 

— Quer que eu chame alguém? — Ele perguntou quando comecei a me movimentar para a casa. Fiz que não com a cabeça, meus olhos se enchendo de lágrimas cristalinas quando o olhei para agradecer. 

— Obrigada por me trazer aqui… Estou bem. Só preciso me deitar. 

Taurus assentiu e quando destranque a porta, pensei que ele não diria nada. 

— Senhorita Relish… Sinto muito pelo comportamento do Mestre. Tenho certeza de que ele voltará para pedir desculpas e explicar o que aconteceu. 

Nenhum de nós dois acreditava naquilo, mas forcei um sorriso débil para Taurus por sua tentativa de me animar antes de adentrar a mansão. 

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Acordei com Elysha acariciando meu rosto. Abri os olhos confusa e me ajeitei na cama; aquela forma de acordar foi mais assustadora do que despertar de pesadelos. Elysha sorriu tristonha. 

— Darkless contou a Corte o que Aleksander lhe fez. Sinto muito, querida. Ah, eu deveria estar lá para defende-la daquele monstro. 

Me sentei na cama, encostando as costas na cabeceira e esfreguei o rosto para afastar a sonolência. O dia já havia nascido, mas parecia cedo. O que quer que Darkless tinha dito, havia sido ainda durante a noite. 

— Não acredito que ele teve coragem de beber seu sangue contra sua vontade! Se o Mestre não tivesse chegado bem a tempo… Céus! 

— O-o que? — Gaguejei confusa. — O que o Darkless disse? 

— Ele disse tudo, Lizzie. Contou que lhe levou para fora do baile porque estava se sentindo mal, e teve que resolver algo. Então, quando voltou para o baile, passou pelo roseiral e ouviu seus gritos. Ao chegar, se deparou com Aleksander sugando seu sangue… Darkless disse que além desse feito horrível, ele tentou lutar contra ele, o que foi imperdoável, e ele o matou. 

Encarei boquiaberta o belo rosto de minha irmã. Darkless era mesmo um mentiroso de mão cheia. Conseguiu criar uma história perfeita, onde se colocava como um herói, quando tinha assassinado Aleksander por simples raiva de algo que sequer tinha acontecido. Quase ri. Luke estava certo desde o começo, o Mestre era cruel, um psicopata. 

— É, que bom que o Darkless chegou. — Fui seca na resposta, minha garganta queimando ao dizer aquelas palavras. Queria poder contar tudo a Elysha, mas aquilo envolveria dizer a ela que tinha beijado o Darkless e logo em seguida, ele matou um homem na minha frente. 

— Não se preocupe, querida. Pedi a Darkless que um dos guardas dele estivesse sempre com você. Ele está em nossa porta, sempre que você sair, ele irá com você. 

— Isso é totalmente desnecessário! 

— Já é o segundo ataque que você sofre, Lizzie. É totalmente necessário. — Era o terceiro, mas não diria isso a ela. — As três da tarde de hoje, você precisa ir até a Sala do Mestre dar seu depoimento. Darkless ficou tão preocupado que virá te buscar pessoalmente. 

Reprimi a vontade de revirar os olhos. Não, Elysha, ele não estava preocupado. Ele iria dizer exatamente o que *eu* precisaria dizer no tal depoimento, porque tudo que ele tinha dito era mentira. Me levantei da cama, angustiada e amedrontada. Havia dito a Aleksander que ele iria morrer por aquilo, mas não tinha nenhuma intenção de fazer cumprir as minhas palavras. Ele podia ser um babaca nojento, que merecia todo meu ódio, mas *não* merecia morrer. 

— E se eu me negar a ir no depoimento? — Perguntei ao adentrar o banheiro e fechar a porta. Sabia que Elysha ainda podia me ouvir, graças a sua super audição de vampira. 

— Bom… Provavelmente o pai de Aleksander irá vir aqui e te arrastar para lá. — Elysha disse com uma risada. — Julius Pontus está possesso pela morte do filho, aquele idiota. 

Apoiei o rosto na parede fria do banheiro, desejando que tudo aquilo não tivesse passado de um pesadelo. Mas quando fechei os olhos, pude ver Darkless arrancando o coração de Alex novamente.

A Corte De Sangue - VAMPIRE HISTORY. | CONCLUÍDOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora