34. Poderes?

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           𝓔ncarei petrificada enquanto Darkless jogava os cacos de vidro na pia, e limpava o balcão cheio de vinho. Também não me mexi quando ele tirou a camiseta preta que vestia e limpou o peito abdômen forte com um dos panos de prato; mesmo que a visão fosse de tirar o fôlego, eu estava mais preocupada com o que tinha acabado de fazer. 

— Você olhou para a garrafa, quis que ela viesse até você, e ela veio. — Darkless disse por fim, e para minha total surpresa, olhou fixamente para o vaso sobre o balcão e o fez levitar em direção a ele. Dei alguns passos para trás, amedontrada demais para dizer algo. — Telecinese, hum? Interessante. 

— Não pode ter sido você? — Indaguei falhamente. — Você também olhou em direção a ela… 

— Não. Já aprendi a controlar isso séculos atrás. E nenhuma energia saiu de mim, já de você… — Darkless deu de ombros antes de encarar fixamente, parecendo averiguar cada pedaço de mim. Me encolhi sobre seu escrutinio. — Sua aura está alterada. Não é mais branca como a de todos os humanos, está prateada, quase brilhante. 

— O que diabos é uma aura? 

— Um campo de energia extrafisico que fica ao redor de todos os seres vivos, uma parte *fisica* da sua alma que está a minha vista. — Ele explicou prontamente, ainda me fitando. Obviamente, eu não via nada ao meu redor. — Os humanos tem auras brancas, que se colorem quando estão apaixonados, felizes, furiosos. A sua está prata, como a dos híbridos. Ainda clara, ainda humana, mas… Há algo mais agora. 

Respirei fundo. Auras. Humanos, híbridos, vampiros. Porque eu estava no meio disso tudo? Eu deveria ser uma garota normal, deveria estar numa faculdade, não numa Corte cheia de seres sobrenaturais. Olhei novamente para Darkless, buscando uma resposta em meio a tantas perguntas, e me flagrei admirando seu peito nú, a tonalidade de sua pele de alabastro, a forma como seus músculos de expandiam quando ele respirava. 

— Sua aura se coloriu. Primeiro o roxo escuro do medo, depois, vermelho. 

— O que significa o vermelho? 

Darkless sorriu enviesado, e se apoiou no balcão, ficando ainda mais perto de mim. Meu coração acelerou furiosamente no peito e o sorriso do Mestre aumentou. 

— Desejo. Vermelho significa desejo. 

Engoli em seco e olhei para baixo, para meus braços apoiados no balcão e minhas mãos unidas. Darkless ergueu meu rosto usando a ponta dos dedos, e me olhou nos olhos antes de afastar a mão. 

— Não sinta medo, vamos entender e resolver isso. 

Assenti, mesmo que o que mais me apavorasse fosse o desejo que queimou em vermelho minha aura. 

∆∆∆∆∆

Duas semanas depois, as coisas continuavam horríveis. Sempre que eu desejava algo e olhava em direção, a coisa voava em minha direção. Elysha já não entendia mais nada e vivia preocupada, enquanto eu para qualquer objeto. Quadros caiam das paredes, livros voavam pela casa, copos caiam no chão, geladeira se abria sozinha, e naquela tarde, consegui fazer o sofá atravessar a sala e quebrar uma cristaleira, apenas porque pensei que seria legal me deitar e descansar um pouco. 

Liam entrou em casa alguns minutos depois, e me viu sentada no chão, juntando os cacos do móvel antigo que havia virado vidro no chão. 

— Oi, Liz. Precisa de ajuda? 

Respirei fundo e me levantei, abandonando a bagunça por um instante. 

— Preciso catar esses vidros. — Resmunguei. — Fiz o sofá voar em direção a ele, sem querer. 

— Hum… — Liam continuou encarando os cacos imerso em seus pensamentos. Quando comecei a me perguntar se ele estava com problemas, o menino disse: — Porque não usa seus poderes para levitar os vidros até o lixo? Seria mais fácil. 

Ele ficava idêntico ao pai quando começava a criar teorias e solucionar problemas, podia ver a concentração em sua face, igual acontecia com Darkless. 

— Não consigo. — Soltei uma risada sem humor. — Só consigo fazer as coisas sem querer. 

— Então, talvez devessemos chamar meu pai. 

Respirei fundo pela segunda vez desde que ele chegara e me apoiei na parede da entrada. 

— Seu pai está ocupado. — E realmente, estava. Desde o ataque de Luke, não parou um segundo, saindo e entrando em reuniões sem tempo para descansar ou se alimentar. Darkless estava tão irritado ultimamente por todos os problemas, que era melhor não procurá-lo com mais coisas que ele não podia resolver. — Fora que, se você está aqui, obviamente seu pai está em algum compromisso. 

— Sim, é verdade. — Liam deu de ombros. — Ele está naquele galpão vermelho com o Taurus. 

Reprimi a vontade de revirar os olhos. Sabia que o galpão funcionava como uma espécie de espaço para alimentação quando os vampiros não queriam sair da Corte para caçar, mas com Taurus, não duvidava que o Mestre estivesse usando sua boate para o verdadeiro propósito dela: as putas. 

— Eu só passei para te ver, estou indo para minha aula de piano. — Liam sorriu animado. Piano era a única aula que ele gostava mesmo de fazer, as outras, seu pai o obrigava a comparecer. O garoto me deu um beijo no rosto antes de caminhar até a porta. — Papai disse que você pode jantar comigo na sexta, então, não faça planos! 

Liam gritou antes de sair pela porta e eu sorri comigo mesma. Nunca uma criança havia gostado e mim, e essa em especial era maravilhosa. Voltei-me aos cacos, os tirando do chão com sacolas de lixo, até que o que restou foram os pedaços de madeira da cristaleira. 

Duas horas depois a noite já havia caído e decidi que depois de toda aquela arrumação, podia dar um passeio pela Corte. 

Tudo tinha sido arrumado, inclusive a mansão verde dos Pontus, que não parecia sequer ter sido atingida por um dos raios de Darkless. Acendi um cigarro ao passar pelas fontes restauradas, me lembrando de como elas tinham ficado destruídas após o ataque de Luke. Luke… Nunca mais havia tido nenhuma notícia dele, mesmo que ruim. Sempre que pensava nele sentia que havia algo que precisava me lembrar, mas não conseguia. Na semana passada, a palavra “sonho” ecoou na minha mente quando tive essa sensação, mas ainda assim, nada veio. Frustrada, dei um trago longo no cigarro e pensei até mesmo em voltar para casa, quando ouvi a voz dele. 

Darkless estava rindo. Rindo mesmo, com gargalhadas altas e estridentes. Ao seu lado, Taurus parecia quase sem ar de tanto rir, e com eles, haviam duas vampiras loiras que poderiam ser gêmeas, uma agarrada ao braço de cada um deles. Uma onda irracional de raiva me tomou ao ver Darkless daquela forma, com uma mulher do seu lado, e ficou ainda pior quando ele olhou para mim e abriu um sorriso enorme. 

— Lizzz-zzzie. — Sua voz estava estranha, alterada, mas o que foi estranho mesmo foi a gargalhada que ele soltou. 

Senti vontade de jogar a pedra que estava aos meus pés em sua cabeça. Mas eu não deveria ter sentido, porque assim que o pensamento cruzou minha mente, a pequena rocha voou em direção a Darkless, o atingindo em cheio na testa. Arregalei os olhos quando toda sua diversão passou.

A Corte De Sangue - VAMPIRE HISTORY. | CONCLUÍDOWhere stories live. Discover now