28. Pânico.

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🥀



       𝓝unca algo me chocou de forma tão pesada. Parada ali, em meios aos jardins, eu não conseguia sequer me mexer. A dificuldade em respirar também veio, mas tudo que eu conseguia pensar era no quanto tinha sido burra. Havia dado um objeto mágico de poder inimaginável ao homem que tinha assassinado meu pai. E agora minha irmã, a única família que me restou, caminhava em direção a uma missão que poderia custar sua vida. Tudo por minha causa. 

— Lizzie, respire.— Darkless pediu segurando meu rosto entre as mãos. Não tinha visto-o se aproximar, tudo era um borrão de lágrimas e culpa. 

Culpa. Culpa que fazia meu coração doer e lágrimas descerem por minha face. Culpa que me fazia arquejar em busca da respiração que me faltava. Culpa. 

Culpa. 

Um julgamento falho que poderia custar a vida de minha irmã. 

Culpa. 

Uma decisão que poderia custar a vida de muitos. 

Culpa. 

Uma mentira que me custou qualquer respeito que Darkless tinha por mim. 

Culpa. Culpa. Culpa. Culpa. 

— Lizzie! — Darkless gritou, me sacudindo. Não conseguia respirar, não conseguia… — Lizzie! 

Darkless me segurou quando caí em seus braços, chorando copiosamente. Forcei a respiração para dentro dos pulmões, mas pouco consegui aliviar a falta de ar. Darkless me abraçou apertado, e eu chorei ainda mais. 

— Respire, Lizzie. — Ele pediu numa voz calma. — Está tudo bem. A culpa não é sua. Você foi manipulada, pensou que poderia confiar num membro de sua família, mas não podia. Você foi ingênua, mas isso vai te ensinar a não confiar facilmente, vai te ensinar a ser forte. 

— Se a Elysha morrer… — Eu chorei me apertando a ele, ficando minhas unhas em seus braços. — Por minha causa… 

— Ela não vai. Ela é forte. — Darkless garantiu. — Elysha é resiliente. Passou por muito, perdeu tudo, reconquistou tudo. Ela não vai morrer. 

Chorei ainda mais, fechando os olhos para os raios solares que insistiam em queimar minhas pupilas. Com os braços ao redor do pescoço de Darkless e com ele me abraçando forte, pude sentir a respiração voltar quase ao normal, mesmo que as lágrimas não tivessem cedido. 

— O que você acha que Luke vai fazer com o cálice? — Perguntei baixinho, sentindo medo da resposta. Darkless suspirou. 

— Não tenho ideia. 

— Você sabia que ele era meu bisavô? 

— Na verdade, não. Tinha algumas teorias sobre você ser algo parecido com o que ele é, mas nunca tinha me atentado ao seu sobrenome. — Darkless me soltou quando percebeu que eu já estava voltando ao normal e olhou ao redor. — Foi um erro, claro. Deveria ter investigado cada mínimo detalhe sobre você e sua família assim que tive consciência da sua existência, mas pensei que não era importante. E agora, Luke Balmer volta depois de tudo e eu poderia ter antecipado o golpe. 

— Depois de tudo? 

—Luke é um velho inimigo, mas um antigo amigo. O que ele disse sobre o sangue de um vampiro despertar o poder de um híbrido é a única verdade que saiu da boca dele. O resto, invenção. 

“Luke apareceu duzentos anos atrás, se aproximou da Corte, queria ajuda para entender o que estava acontecendo com ele. O ajudei, nós tornamos amigos. Ele parecia um homem bom, apenas… Desesperado. Não percebi quando ganância cresceu, nem quando as coisas começaram a dar errado. Membros do Conselho morrendo, atitudes suspeitas. Até que foi tarde demais. O último membro do Conselho que ele matou, o terceiro, antes de Kyle, foi Marie Sylver. Você teve esse sonho, não teve?”

Lembrei-me prontamente de Darkless segurando uma mulher nos braços, em meio ao roseiral. Lembrei de suas lágrimas e arquejei. Luke havia sido o responsável pela morte da mulher que ele amava. 

— Luke… Matou a sua namorada? 

Darkless abriu um sorriso sem humor, quase uma careta e se encostou numa das árvores ao nosso redor. 

— Não. Ele matou a minha esposa. — O sorriso dele sumiu quando fúria cruzou seu rosto. Meu coração doeu tão dolorosamente que levei a mão ao peito. — Usou o Cálice para absorver meus poderes temporariamente, com o sangue que derramei em batalha e ele coletou. De alguma forma, conseguiu assumir o controle do meu corpo e fazer com que eu a matasse. Era o único jeito, afinal. Após as mortes de dois outros membros do Conselho, rodeei Marie com os meus melhores soldados, súditos fiéis que morreriam antes de deixar algo acontecer a ela. Ela estava intocável. Sabe o mais engraçado? Luke não se beneficiária dos poderes dela se eu a matasse, fez isso apenas para quebrar meu espírito. 

Senti uma lágrima rolar por meu rosto e a enxuguei rapidamente. Há duzentos anos atrás, Luke matou a esposa de Darkless, apenas para feri-lo. Não havia sede de poder ou ganância, não ganharia nada com isso. Apenas a dor do Mestre. 

— Eu sinto muito. — E eu realmente sentia. Tanto, que meu coração parecia quebrado dentro de mim. — Por ele ter tirado a mulher que você amava. 

Darkless riu, novamente sem humor algum. 

— Você se engana se pensa que eu já experimentei esse tipo de amor. — Ele confessou com um sorriso torto. — Marie era minha melhor amiga, nos casamos porque ela perpetuaria minha linhagem, daria-me filhos. E isso é pior ainda. Você pode se recuperar da perda de um amor romântico, mas jamais se recuperará caso perca seu melhor amigo, aquele que estivera do seu lado em todos os momentos, que viu sua pior face e mesmo assim não foi embora. Essa dor, Lizzie… Essa dor nunca se cura. 

Me encolhi ao pensar no que ele estava dizendo. Uma dor que nunca se cura. A única dor perto disso que havia experimentado, era a culpa que me corroía. Não sabia se um dia me livraria dela. Respirei fundo, querendo realmente achar alguma palavra de conforto para Darkless, quando ele ficou tenso, seu corpo parecendo uma corda sendo esticada ao máximo. Olhei ao redor, buscando a fonte de sua reação, mas não encontrei nada fora do normal. 

— Darkless? 

O Mestre continuou em silêncio absoluto, parecendo focado em algo longínquo e distante. Não me atrevi a atrapalhar sua revista minuciosa pelo desconhecido. A expressão de concentração fora substituída por surpresa e depois, preocupação. 

— As proteções caíram. A Corte está desprotegida. — Darkless informou e senti meu próprio ar faltar. — Derrubaram minha magia; preciso reerguer as barreiras antes que… 

Um barulho alto fez com que ele interrompesse suas palavras. Num segundo, Darkless estava ao meu lado, segurando meu braço. 

— Há um exército marchando em direção aos portões. 

A Corte De Sangue - VAMPIRE HISTORY. | CONCLUÍDOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora