Trono de Sangue

By lyrarocha

164K 14.5K 18.8K

1º Lugar nas Olimpíadas Literárias promovida pelo @DesafioEmLetras Em uma época regada de sangue e dor, gra... More

Sinopse
Prefácio
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo - 5
Capítulo 6 - Parte I
Capítulo 6 - Parte II
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16 - Parte I
Capítulo 16 - Parte II
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21 - Parte I
Capítulo 21 - Parte II
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24 - Parte I
Capítulo 24 - Parte II
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29 - Parte I
Capítulo 29 - Parte II
Capítulo 30
Conto Especial - Feliz Dias dos Namorados
Capítulo 31
Capítulo 32 - Parte I
Capítulo 32 - Parte II
Capítulo 32 - Parte III
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35 - Parte I
Capítulo 35 Parte II
Capítulo 36
Capítulo 37 - Parte I
Capítulo 37 - Parte II
Capítulo 38 - Parte I
Capítulo 38 - Parte II
Capítulo 40 - Parte I
Capítulo 40 - Parte II
Capítulo 40 - Parte III
Capítulo 41
Capítulo 42 - Parte I
Capítulo 42 - Parte II
Capítulo 43

Capítulo 39

932 102 36
By lyrarocha

Passado

Ir caçar era uma das poucas coisas que poderia espairecer a sua cabeça quando estava em Ílac. Não que Evelyn fosse uma má pessoa, ele gostava dela, mas não queria ela. Contudo, ele tinha um dever a cumprir e faria conforme foi treinado, ainda que tivesse que sorrir com satisfação para o rei Miles todas as vezes que o encontrasse, além de ter que desviar o olhar da direção que realmente queria ir. Além disso, a rainha o olhava de uma forma estranha e ele preferia mil vezes estar longe dela.

Ílac era conhecido pela floresta densa e seus animais, além dos pastos verdejantes que proporcionavam um belo local. A primeira vez que saiu para caçar lá foi sugestão do rei Miles, haviam ido todos juntos. Agora ele ia apenas com os irmãos, uma rotina que já havia sido estabelecida em cada viagem que faziam.

Estar longe do pai também era um refrigério. Será que era por isso que seus irmãos o acompanhavam?

Aquele era o único momento que ele deixava de lado a responsabilidade de ter que abandonar o seu reino, o seu legado em Medroc, para ir a uma terra estrangeira, assumir um trono que nem mesmo seria totalmente seu. Afinal, Miles treinara a filha para ser mais do que um vaso ornamental.

Não.

Evelyn entendia cada ponto do seu império. Ela era inteligente, tinha uma boca esperta e lutava como um bom soldado.

Se fosse lhe perguntar, não era isso que ele escolheria. Dividir o trono com outra pessoa...

Aliás, dividir não. Ele sabia que estava em desvantagem ali. Dificilmente os aldeões e o restante do reino o olharia como olhavam para Evelyn - que tinha o sangue puro de Ílac. Ele era o filho do inimigo, uma peça na artimanha de paz entre os reinos. Nenhum deles tiveram escolha.

Era por isso que ele precisava em toda maldita viagem colocar o seu melhor sorriso, buscar uma simpatia que ele basicamente nunca aprendeu a ter e tentar ser a pessoa mais sociável que pudesse, afinal, ele precisava ser idolatrado pelo menos o mesmo tanto que sua futura esposa seria ao assumir o trono. Se Evelyn carregasse metade do clamor que Miles levava, o povo beijaria os seus pés sem pestanejar.

Ele respeitava Evelyn. Mas, ainda assim, não era o que desejava, era apenas o que deveria ser feito.

Tudo isso era cansativo. Ele sempre foi o que o pai desejou, o filho amado que cumpria todas as exigências e tinha a estima muito elevada em Medroc. Claro que Rory jamais mandaria o seu querido filho para ser um capacho. Na cabeça dele, o filho poderia tomar as rédeas de Evelyn e Medroc teria indiretamente o poder sobre Ílac. No tardar, com alguns anos, poderiam dar um golpe e tudo seria território da família Buckhaim.

Contudo, Henrique sabia que não era bem assim, mas contrariar o pai também não estava nos seus planos.

No fim das contas, tudo resumia a exaustão. Construir uma imagem para o pai, outra para o rei Miles e outra para sua futura esposa. Talvez seja por isso que ele olhou para um fruto proibido, alguém que nunca poderia ter. Talvez fosse a sede de aventura, a vontade de ser ou fazer algo por ele próprio pela primeira vez.

Mas até isso o tempo apenas sufocou.

Então estava ali, junto com seus irmãos - infelizmente -, para esquecer por um momento tudo e descarregar a raiva por ser enfiado em um acordo que ele nunca quis, em primeiro lugar. Por um breve momento ele desejou abrir mão de tudo, seguir o que o seu íntimo ansiava, ou melhor... alguém. Mas Rory sempre estava um passo à frente. Portanto, ele preferia estar agora ao lado do irmão que o odiava e vivia cobiçando a sua futura esposa, e o outro que o olhava como um cachorrinho, esperando uma aceitação que ele nunca daria. Nunca foram próximos afinal.

— Por aqui — Jeffrey gritou, tomando a frente, como se fosse o líder.

Henrique podia ver a ambição nos olhos do irmão, mesmo nos mínimos detalhes. Eram ferozes e ardiam toda vez que fixavam sobre si, como uma navalha afiada o dilacerando sempre que se encaravam.

— Quem te colocou no comando? — refutou, passando por Jeffrey e esbarrando no seu ombro.

Garret olhou de um para o outro, mas permaneceu calado, enquanto observava Henrique tomar a dianteira e puxar a flecha da aljava em suas costas. Ao seu lado, agora estava o irmão do meio, a raiva exalando e misturando-se com o calor e umidade da floresta.

— Você vê porque temos que fazer o que combinamos? — Jeffrey rosnou em baixa voz para que Garret escutasse.

— Tem certeza? — O caçula conseguiu achar o seu próprio som após alguns segundos, um calafrio percorrendo a sua espinha e o estômago embrulhando com o que poderia ocorrer daqui algumas horas.

Jeffrey olhou para ele, o lábio subindo levemente com escárnio e seus passos se atrasando para permitir que Henrique continuasse a andar e ficasse longe deles.

— Quem será você, irmão? Henrique terá Ílac e eu, Medroc. Quer continuar sendo uma marionete do nosso pai? Quer voltar a ficar trancafiado na prisão pútrida matando os restos do nosso pai? Nosso próprio sangue? — A sobrancelha de Jeffrey se arqueou e Garret teve certeza que agora vomitaria, porém, não podia. Seu pai o treinara tanto para que fosse forte, por isso colocar a sua bile para fora não poderia ser uma opção. — Você será um nada para ele como sempre foi. Ou já esqueceu o que ele fez com você? É isso o que quer?

— Claro que não! — Dessa vez uma fúria volumosa e incandescente explodiu dentro de Garret, fazendo com que fechasse os punhos e empurrasse Jeffrey, enquanto as lágrimas acumulavam nos cantos dos seus olhos.

Era como se um tornado passasse e roubasse todo o oxigênio, ele não conseguia respirar, não quando as lembranças dos bebês mortos e apodrecidos ainda assombravam as suas narinas. Era como se tivesse perdido no tempo de novo no meio da escuridão, sem saber o dia que conseguiria sair daquela prisão.

Garret sentiu uma dor escaldante no lado direito do seu rosto, seus olhos se abrindo e vendo seu irmão o sacudir.

— Eu preciso de você, não deixe que o pai te domine. Não aqui. Nós podemos ser donos da nossa própria história, Garret, fazer um novo caminho. Mas antes... precisamos acabar com ele. Depois de termos tudo em nossas mãos, nosso pai terá o que merece. Você está dentro ou não?

Garret havia sumido... de novo. Sua mente era um reboliço que ele tentava disfarçar com risadas e gracejos, mas não com Jeffrey. Nunca com Jeffrey. O único que o compreendia e o ajudava.

— Seremos sempre nós — Garret recitou, estendendo a mão.

— Nós juntos para sempre. — Jeffrey repetiu, trazendo a cabeça do irmão para o seu peito e dando-lhe um beijo em sua cabeça.

Ambos voltaram ao caminho disposto da estrada principal. Jeffrey conferiu todas suas armas e equipamentos, assim como Garret. O plano já estava sendo cozido há tempos e esse era o dia perfeito. Os demais soldados sempre ficavam para trás, dando o espaço solitário que precisavam para não ter testemunhas.

— Vocês vão ficar aí? — Henrique surgiu por detrás de uma das árvores, voltando para encontrar os irmãos. — Não podemos nos afastar, estamos perto da área das hienas.

Jeffrey abriu um sorriso, passando por ele e acelerando o seu andar.

— Está com medo, irmão? — falou mais alto, abrindo os braços e correndo agora de costas.

Henrique virou-se para ele.

— Você está louco? Qual a parte que estamos perto da zona perigosa você não entendeu?

Jeffrey apenas deixou seu sorriso crescer, fazendo um pequeno sinal para Garret, que também começou a correr, ambos deixando Henrique para trás.

O mais velho ralhou e começou a correr em direção aos irmãos. Apesar de ter o mínimo de contato possível com eles, não gostaria que nenhum morresse, ainda mais por causa de uma atitude tão imbecil. Além disso, ficar só não era uma opção viável e segura.

Metros à frente Jeffrey olhou rapidamente para o lado, observando que Garret o acompanhava em mesma velocidade.

— Mais rápido, precisamos nos afastar mais, não podemos ter chances de ter testemunhas.

As pernas queimavam, mas Jeffrey soltou uma risada maníaca e provocadora, daquelas que Henrique odiava, sempre olhando para ver se o seu irmão mais velho o seguia. Assim que chegaram ao campo aberto, no território mais perigoso, Jeffrey parou e soltou um uivo doentio, o som saindo do fundo do seu pulmão, sendo acompanhado alguns segundos depois pelo mesmo som proveniente de Garret.

Assim que os alcançaram, Henrique pulou para cima de Jeffrey, derrubando-o no chão e dando um soco em seu rosto, a raiva ardendo pela insensatez do irmão. Jeffrey não previu o soco, mas já havia tempo que Henrique acumulada todas as provocações que vinha dele, o golpe era um descarrego.

O mais novo inclinou o joelho, lançando-o contra a barriga de Henrique e deixando-o sem ar por alguns segundos. Enquanto se recuperava, Jeffrey chutou o maxilar do irmão, fazendo com que agora a sua visão escurecesse.

— Jeff... — Garret murmurou um pouco afastado, suas mãos abrindo e fechando com rapidez enquanto via Henrique caído, cuspindo sangue pela boca.

— Ande! — O irmão do meio ralhou, pronto para chutar o primogênito novamente.

Henrique foi mais rápido e rolou pela terra, entrelaçando suas pernas nas de Jeffrey e derrubando-o no chão consigo. Eles se emaranharam, uma confusão de chutes e socos. Jeffrey era extremamente forte, mas Henrique tinha alguns anos de treino a mais a seu favor, por isso, não foi surpresa quando apesar de estar com suas costas no chão, ele tinha seu irmão preso sobre si em um estrangulamento, seu braço cortando o ar do pescoço dele e a perna direita passando por cima das de Jeffrey.

Os cabelos loiros compridos do irmão do meio esfregavam em seu rosto enquanto ele tentava se soltar. Eles eram fisicamente diferentes, mas além disso, não poderiam ter personalidades mais opostas. Henrique sempre soube que esse momento chegaria, onde entraria numa luta de vida ou morte com seus irmãos. Mas por que?

Foi exatamente essa a pergunta que ele verbalizou, enquanto esperava com um mínimo de esperança por eles. Sabia que bastava aplicar um pouco mais de força e o pescoço de Jeffrey quebraria. Contudo, deveria preservá-lo? Ainda era seu irmão, afinal.

Mas pior de tudo. O que diria para justificar ao pai a morte de um dos seus herdeiros?

— Garret — Jeffrey resmungou entre dentes, seu rosto cada vez mais vermelho, os lábios levemente arroxeados à medida que faltava-lhe o ar.

Como num estalo, o mais novo viu a única pessoa que lhe importava se desvair aos seus olhos e não podia suportá-lo. Como num lance de luz, ele sacou a flecha que ainda carregava em seu alforje e apontou para Henrique.

— Solte-o — ordenou, ainda que sua voz saísse com certo vacilo.

— Garret, eu não sei o que planejaram, mas ainda há tempo de voltarem atrás — Henrique falou com firmeza, mesmo que soubesse que a flecha mirava exatamente no meio dos seus olhos.

Jeffrey tentou dizer alguma coisa, mas o aperto de Henrique tornou-se mais forte. Era uma contagem regressiva e agora mais do que nunca o mais velho sabia que não teria como retroceder, entretanto... talvez ainda pudesse poupar Garret.

— Solte-o — o mais novo soou com mais firmeza, vendo o sofrimento do irmão.

— Garret — Henrique ralhou. — Pare com isso! O que querem? Um império para comandar? É isso, Garret? Posso arrumar Medroc para você. Qualquer um sabe que quem tem mais poder com o pai sou eu!

Henrique viu o tremular da mão de Garret, pronto para disparar. Ele precisava pensar... O irmão sempre foi volátil, talvez conseguisse tempo.

— Você não entende... — o loiro com a flecha murmurou, seus olhos ardendo e os flashes de memórias indo e voltando, pronto para levá-lo a loucura. — Nunca fez nada por mim. Vai me enxergar agora que estou com sua vida em minhas mãos? — Ele puxou a flecha, deixando-a pronta, um leve levantar de dedo e ela acabaria com Henrique.

Jeffrey, ainda que estivesse para desmaiar, deixou seu lábio subir em um sorriso saudoso. Garret nunca o deixaria.

— Solte-o — Garret ordenou novamente, mas Henrique persistiu.

O mais novo mudou levemente sua mira e deixou que sua flecha soltasse em direção a Henrique. Não onde mirou anteriormente, ainda não queria matar o irmão. Já havia matado muitos... O alvo foi direto em sua orelha, decepando-a e deixando apenas os pedaços ensanguentados pendurados na cabeça dele.

Henrique soltou Jeffrey no ímpeto, levando suas mãos imediatamente até a laceração na cabeça. O irmão do meio rolou, as mãos subindo para a garganta enquanto tentava recuperar o ar.

— Mate-o — sussurrou, quase inaudível para Garret, sua voz arranhando ao passar pela traqueia.

Garret apontou mais uma flecha para Henrique, observando o irmão se levantar aos tropeços, ensanguentado, mancando e olhando com ódio para ele.

— Mate-o — Jeffrey rastejou-se para perto do irmão, sendo como um diabo sussurrando o pecado para ele.

— Não posso — Garret vacilou seu olhar, pescando o irmão lateralmente e voltando para o seu alvo. — Por favor, Jeff... — Sua voz quebrou.

As lembranças eram fortes demais. Cada vez que ficou no calabouço, cada coisa que foi obrigado a fazer...

Jeffrey não tinha mais paciência para isso. Era agora ou nunca. Já haviam chegado longe demais. Estavam no local mais perigoso de Ílac, perto dos desfiladeiros, onde as hienas gigantes habitavam. Tinham lutado, já estava ferido. Não poderiam voltar. Eram eles ou Henrique, e ele estava disposto a fazer com que fossem eles. Ele teria Ílac e Garret poderia ficar com Medroc. Ele teria Evelyn para si e tudo o que seu irmão um dia sonhou.

— Dê-me isso. — Jeffrey arrancou o instrumento das mãos do irmão, apontando com fúria para o seu alvo, apenas uns segundos separando a morte do seu destino.

Assim que seu dedo tremulou por sobre o arco, um rugido feroz ecoou, causando um arrepio em sua espinha. O arco abaixou-se no automático com o susto e a cabeça dos três Buckhaim viraram-se para onde vinha o barulho.

Hienas Gigantes.

Elas eram enormes, maior do que qualquer um deles se lembrara. Havia tempo que de fato haviam visto alguma viva. Os dentes prostraram-se para fora, cobertos de tártaro e sangue, as narinas sentiam o cheiro do possível alimento em frente a elas, as patas prontas em posição para atacá-los.

Haviam duas delas, mas Jeffrey sabia que poderia ter mais, elas andavam em bandos. Talvez até mesmo montando uma armadilha para eles. Ele riu, uma risada maníaca que contrastava com a adrenalina que sentia ao estar à beira da morte. Ele recompôs o arco em sua mão e virou em direção a elas, soltando a flecha assim que o bicho saltou na direção deles.

A flecha atingiu direto o peito do animal que urrou e caiu de lado, fazendo o sorriso de Jeffrey crescer. No entanto, rapidamente o semblante caiu, quando viu que a outra besta selvagem vinha correndo na direção do irmão mais novo, que havia corrido para longe dele. Ele tentou pegar outra flecha para atingir o animal, mas estava atrasado. Seu coração saltou ao ver o irmão sendo cercado, uma espada pequena tremulando na mão dele contra o animal. A fera iria devorá-lo antes que pudesse ser atingida.

Jeffrey atrapalhou-se para montar a nova flecha e, ao tentar mirar o animal, uma pequena adaga girou como espiral direto no pescoço da hiena. O bicho selvagem rugiu e cambaleou, dando tempo necessário para que Garret pudesse enfiar a sua espada nele. Com esse intervalo e o animal ferido, Jeffrey correu em direção ao irmão mais novo enquanto o mesmo encarava Henrique, que mantinha a posição, oscilante, mas ainda o braço erguido por ter lançado a arma e ter salvo o irmão.

A pequena desatenção do caçula lhe custou um raspar de dentes em sua perna, salvo por Jeffrey que se jogou por cima dele e o derrubou, levando parte da dentada que era para o irmão. Colocando-se por cima de Garret, Jeffrey girou e ergueu a lança que carregava, enfiando no meio do peito do macho enorme que ainda tentava devorá-lo. Unindo força contra o animal machucado, Jeffrey conseguiu tirar a sua espada e enfiar no animal novamente, diversas vezes até que estivesse morto.

Em seguida olhou para o irmão mais novo, que parecia ainda em choque. Depois seus olhos voaram para Henrique, bem mais longe, perto dos desfiladeiros, andando meio bambo com a mão na orelha dilacerada, mas sem tentar se aproximar dos outros dois.

Um rugido soou de longe. Na verdade, pelo que Jeffrey poderia notar, era mais de um.

— Garret, precisamos sair daqui — murmurou para seu irmão, empurrando-o novamente para a direção que levava de volta a floresta.

Ele pegou o braço do irmão para puxá-lo, fazendo-o correr mesmo que os olhos dele estivessem para trás. Seu foco era Henrique, ferido, tentando pegar uma das espadas caídas enquanto mancava e perdia sangue.

Mais três hienas apareceram pela esquerda, correndo para onde estava a movimentação.

— Vamos! Rápido — Jeffrey gritou contra Garret, empurrando-o com mais rapidez.

— Henrique — o mais novo murmurou, olhando para o irmão mais velho que não conseguia movimentar com rapidez, ficando cada vez mais longe deles. — Elas vão pegá-lo. Ele está na direção delas.

— Que bom — Jeffrey respondeu ofegante, lutando contra o corpo do irmão que se retesava na fuga — Era isso que queríamos, esqueceu?

Garret não conseguia respirar, suas pernas endureciam, mesmo que ainda percorressem no automático com os empurrões do irmão.

— Ele me ajudou. — O caçula olhou mais uma vez para trás, vendo as três hienas agora cercando Henrique como abutres para sua presa, ansiando por devorar cada membro do irmão mais velho.

— Corra, Garret! Esqueça, ele estará morto em poucos minutos! — refutou, vislumbrando rapidamente para trás, uma última olhada para o irmão mais velho que odiava, sentindo o medo de ser alcançado, mas também a satisfação de saber que logo Henrique estaria às traças e toda herança seria sua.

Garret não conseguiu olhar mais para trás, não para a morte de mais um irmão. Por isso, sem sentir, um apagão formando em seu cérebro e em um gesto automático, deixou suas pernas queimarem em sua fuga, agarrando-se a liderança de Jeffrey de volta ao castelo de Ìlac.

Em contrapartida, Henrique via perfeitamente seus irmãos o abandonarem, tendo a consciência que morreria da forma mais cruel e desperdiçada do mundo. Não era um combate, não era em prol de uma causa. Era uma armação suja e atroz do sangue de seu sangue. Se não morresse pelas mãos dos irmãos, seria pelos caninos das bestas selvagens que estavam prontas par atacá-lo, e encurralá-lo contra o desfiladeiro.

No fundo ele sabia que era isso o que Jeffrey queria. Não ser morto pelas mãos dele, pois era um covarde. Mas o local, os gritos... ele queria que Henrique morresse, mas de outra forma, bárbara, nem que para isso colocasse a própria vida em risco.

Henrique olhou para as três hienas, sabendo que teria cada osso do seu corpo destroçado, e depois para trás, sentindo o vento do desfiladeiro ricochetear seus cabelos escuros e deixando o som da água que passava lá no final tomar o lugar das suas dores.

Fechou os olhos por um segundo e seu pensamento não foi Evelyn. Era uma outra moça de cabelos escuros, alguém a quem tinha feito tantas promessas, mesmo que nenhuma delas pudessem ser cumpridas, mas que ele pode pela primeira vez sair da posição do "dever" e apenas "ser".

Ela sofreria, sem dúvidas. Mas era o que era. Pelo menos, se fosse para morrer, seria em seus termos e não numa obra arquitetada do sádico do seu irmão. E foi com isso que reunindo suas últimas forças, ele virou-se e correu, rumo ao que parecia ser o fim, um corpo livre em queda no penhasco direto para que as águas o tomassem.

Ele sentiu o ar.

Ele viu o rio se aproximar.

Manteve os olhos abertos encarando a escolha que fez.

E se fosse o seu fim, então que fosse em liberdade.

_______________________________

Nota da Autora:

Primeiro quero agradecer quem não desistiu de mim e nem da minha história. Escrever com um neném pequeno está sendo desafiador, mas acredito que agora as coisas começarão a entrar no eixo!

Sem mais delongas...

Finalmente descobrimos o que aconteceu com o Henrique. As coisas vão se afunilando cada vez mais e ainda temos mais segredos para serem revelados, muita luta e.... lágrimas dos leitors! hahah

Até a próxima


Continue Reading

You'll Also Like

13.1M 601K 81
Valentina é uma adolescente estudante de medicina , vive com seu padrasto drogado após a morte da sua mãe , de um dia para o outro sua vida vai mudar...
455K 25K 31
Maia é dona de uma beleza exuberante, se muda para o Vidigal com sua irmã Estela. elas duas nunca tiveram vida facil desde pequenas sempre lutando pa...
126K 18.7K 106
Descrição: Ruan Xi estava lendo um romance com uma protagonista feminina descontraída em seu próprio lazer. Quando ela acordou novamente, ela havia t...
248K 15K 153
Eliza Diniz uma garota de 16 anos que foi criada por sua madrinha após ter sido abandonada pelos pais quando ainda era recém nascida, agora se ver so...