O Milagre de Yousef

By GoncaloCoelho

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Versão completa disponível na Amazon: http://www.amazon.com.br/dp/B00MK5U440 Descrição: Quando Yousef retorna... More

Renascimento (Prólogo)
Regresso (1a parte) Cap. 1
Regresso (1a parte) Cap. 2
Regresso (1a parte) Cap. 3
Regresso (1a parte) Cap. 4
Regresso (1a parte) Cap. 5
Regresso (1a parte) Cap. 6
Regresso (1a parte) Cap. 7
Regresso (1a parte) Cap. 8
Regresso (1a parte) Cap. 9
Regresso (1a parte) Cap. 10
Regresso (1a parte) Cap. 11
Regresso (1a parte) Cap. 12
Regresso (1a parte) Cap. 13
Yousef (2a parte) Cap. 1
Yousef (2a parte) Cap. 2
Yousef (2a parte) Cap. 3
Yousef (2a parte) Cap. 4
Yousef (2a parte) Cap. 5
Yousef (2a parte) Cap. 6
Yousef (2a parte) Cap. 7
Yousef (2a parte) Cap. 8
Yousef (2a parte) Cap. 9
Yousef (2a parte) Cap. 10
Yousef (2a parte) Cap. 12
Yousef (2a parte) Cap. 13
Yousef (2a parte) Cap. 14
Yousef (2a parte) Cap. 15
Yousef (2a parte) Cap. 16
Yousef (2a parte) Cap. 17
Yousef (2a parte) Cap. 18
Yousef (2a parte) Cap. 19
Yousef (2a parte) Cap. 20
Yousef (2a parte) Cap. 21

Yousef (2a parte) Cap. 11

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By GoncaloCoelho

11

Apesar dos constantes revezes que a legião dos afegãos-árabes sofreu nas montanhas do Nordeste do Afeganistão, a determinação do grupo manteve-se sempre inabalável. Desistir nunca foi opção. Muito menos após qualquer fiasco. Um recuo, naquelas condições inglórias, significava a mais indigna das humilhações. Era preferível a morte, o martírio. Assim, pouco mais passou do que um mês até que novo plano de batalha estivesse em marcha para nova acção a partir do Covil do Leão, desta feita com planos melhor concebidos e renovadas crenças de sucesso, ainda que, para homens como o xeque Tameem (e outros naquele acampamento), aparentemente, a morte como mártires fosse vista genuinamente como a maior das honras e, desse modo, a partir de certo ponto, a demora com os preparativos para o ataque passara a impacientar a sua alma plena de coragem e impetuosidade.

Entretanto, depois de reflectir e sob a influência do xeque Omar, Yousef deu o consentimento para que todos conhecessem no acampamento o seu recente acto de coragem e valentia. Passou então a constar entre todos que aquele rapaz tinha eliminado, sozinho, um soldado inimigo, o primeiro abatido pelo grupo. Um dos efeitos que esta informação trouxe foi a sensação geral de que o inimigo não era afinal tão forte como parecia, o que encheu os mujaedines de força e coragem. Aí estava mais uma prova de que os milagres podiam realmente acontecer naquela que era uma batalha de contornos sagrados. No próximo confronto não recuariam aqueles mujaedines com tanta facilidade! Yousef passou também a ser tido em grande apreço, esquecendo-se por completo o facto de se ter escapado com Nasser para alertar Bin Laden da investida do xeque Tameem. Se invejas e inimizades havia naquele acampamento face a Yousef, elas por ora deixaram de se fazer sentir completamente, sendo substituídas por respeito e admiração.

A 22 de Maio de 1987, deu-se novo encontro com o inimigo, numa altura em que Bin Laden, o xeque Azzam e também o xeque Omar estavam ausentes em Peshawar. O dia estava limpo. O planeamento do ataque ficou a cargo do comandante militar egípcio que Bin Laden mantinha em alta consideração e que dividiu o ataque em grupos, cada um com um líder designado, cada um com o seu objectivo e precisa linha de actuação. Contudo, e apesar de todos estes planos, logo no início do frente-a-frente com o inimigo, sucedeu ser abatido um dos líderes. Yousef achava-se no grupo mais próximo do inimigo, cujo líder era Said, outro saudita muito fiel a Bin Laden e à causa que os movia. Said chegara apenas alguns meses antes de Yousef ao acampamento e, tal como ele, havia abandonado os estudos para ir para o Afeganistão. Eram ambos muito semelhantes no idealismo e apreço praticamente incondicional por Bin Laden e até no modo de ser reservado, razão principal pela qual, até este ponto, pouco conheciam um do outro. Ambos valorizavam a solidão e o recolhimento e ambos denotavam um semblante carrancudo a maior parte do tempo. Nesse grupo de nove elementos em que seguiam neste dia guerreando, quatro companheiros ficaram feridos. Yousef foi um dos que escapou incólume.

Um dos integrantes desta operação militar teve, no entanto, neste mesmo dia, um sonho magnífico que mais tarde figuraria no relato escrito para a posteridade pelo xeque Abdullah Azzam no seu livro The Lofty Mountain (A Montanha Altaneira) sobre o decorrer destes dias em Jaji. Apesar da natural mistura entre ficção e realidade deste, assim como de todos os sonhos, assim como o facto desta obra ser efectivamente uma obra ficcional ainda que com base em acontecimentos reais históricos, este sonho é tão singular quanto precioso na forma como levanta o véu sobre o subconsciente destes mujaedines e é, por isso, merecedor de concentrada atenção e inclusão nesta obra. Segue-se a breve transcrição do sonho real de Abu Sahl Al-Misri, tal como escrita pelo próprio Azzam no seu livro The Lofty Mountain (A Montanha Altaneira):

"Abu Sahl Al-Misri, Ayman Sabri, foi martirizado mais tarde na Guerra. Foi um exemplo de confiança em Alá, paciência e verdade. Um dia antes do seu Martírio, teve um sonho no qual se via a ele próprio no meio de uma multidão à entrada dos portões do Paraíso. Havia um anjo com um registo na sua mão que ia anunciando o nome completo dos indivíduos. Então, o indivíduo anunciado aproximava-se do anjo que lhe dava um cartão e, com esse cartão, o sujeito entrava no Paraíso. Abu Sahl esperou e desesperou mas o seu nome não foi anunciado. Decidiu então que avançaria em direcção ao anjo na próxima vez que qualquer nome fosse anunciado, independentemente de ser o seu ou não. Incidentalmente, o nome seguinte que o anjo chamou foi mesmo o seu, por isso apressou-se em direcção ao anjo, pegou no seu ansiado cartão e entrou finalmente no Paraíso. Assim que entrou, vislumbrou dois irmãos. Um que havia já sofrido o seu martírio há um ano atrás e outro, Dr. Salih, que só viria a passar pelo seu Martírio dois anos após este sonho. Abu Sahl foi morto na manhã seguinte, que Alá tenha misericórdia dele."

O certo é que, neste dia de batalha, foram os soviéticos os primeiros a retirar e Yousef, Said e os demais companheiros puderam finalmente cantar vitória. Yousef começou a ver em Said, a partir deste dia, um companheiro de confiança. Dava-se conta que formavam uma boa equipa e partilhavam da mesma visão em relação à jihad, o facto de terem deixado a família para trás, a dedicação e o empenho em cada acção no terreno e a devoção por Bin Laden e pelas ideias do xeque Azzam.

A celebração pela retirada dos soviéticos, contudo, durou pouco tempo, pois o bem conseguido ataque gerou uma contra-ofensiva poderosa do inimigo. Bin Laden regressou entretanto ao acampamento, bem como o xeque Omar. Os árabes contavam já com o poderoso contra-ataque soviético e alguns homens foram posicionar-se num local priveligiado para avistar as movimentações do inimigo. A estratégia era agora esperar que o inimigo se aproximasse apenas o suficiente para o atingir com uma chuva de morteiros, num golpe que se pretendia tão certeiro quanto mortífero. Assim, quando foram avistados os primeiros movimentos suspeitos do inimigo, os árabes colocaram-se em posição nos seus postos, prontos a disparar e, então, na altura certa, à voz de comando firme de Bin Laden via rádio, foram disparados os morteiros que rasgaram os ares da montanha e assentaram em cheio sobre os tanques soviéticos. O resultado foi espantoso. Os tanques voaram como se fossem brinquedos. O ânimo dos árabes exultou. Como corolário da acção, o comandante militar das forças governamentais da região foi eliminado durante esta operação. Os determinados e tenazes árabes experimentaram o doce sabor da vitória, assim como a consciência de estar, por fim, verdadeiramente em guerra. Porém, sabiam que a cada ataque bem-sucedido, seguir-se-iam contra-ataques cada vez mais poderosos por parte do grande urso soviético que estavam a irritar.

Para melhor se defender do ataque seguinte que era iminente, Bin Laden chamou oito homens, entre os quais Yousef e Said, para que o acompanhassem ao cume mais próximo de onde podiam avistar as movimentações do inimigo e, assim, perceber de imediato quando ele se aproximasse. Próximo ao local havia uma caverna que lhes serviria de abrigo. Aí se deslocaram e montaram o seu posto avançado de vigia e não demorou muito até que o inimigo surgisse no campo de visão, composto por uma coluna de duas centenas de soldados que se aproximavam, subindo a encosta. Bin Laden quis então assegurar posições mesmo no pico da encosta e, para isso, abandonou a caverna e ocupou posições com dois homens no ponto estratégico que designou, três civis sem treino militar próprio mas cheios de fé. Via rádio, Bin Laden pediu rockets e água. Os demais permaneceram na caverna. A situação, porém, era nitidamente insustentável para os três homens. Dispuseram-se alguns metros afastados entre si de modo a poder avistar, cada um, um campo visual diferente ao redor e, estavam eles na sua diligente vigília, quando, a certa altura, se aproximou o comandante militar egípcio acompanhado por outro árabe a quem tinham sido pedidos os rockets e a água. O comandante informou que havia concebido um novo plano que consistia em que eles e os que permanciam na caverna atacassem pelo flanco esquerdo enquanto outro grupo atacaria os russos pelo flanco direito.

Os russos, entretanto, surgiram bem visíveis e avançavam ameaçadores. Tal como anteriormente no caso dos morteiros certeiros que haviam vitimado o comandante regional inimigo, a táctica era agora, de modo semelhante, esperar que os russos se aproximassem o suficiente até estarem precisamente na posição pretendida e aí, tudo correndo como planeado, era disparar e confiar que a vitória seria certa. Porém, de súbito, acercaram-se do cume onde estava Bin Laden alguns reforços e, nesse instante, os russos aperceberam-se de um movimento suspeito. Surpreendidos, recuaram. O que se passou em seguida foi devastador. Uma chuva de fogo avassaladora da artilharia soviética fez abanar o solo, revolvendo-o em sucessivos estrondos. Os árabes aguentaram como puderam, confinando-se às suas preces e aos abrigos que a natureza lhes proporcionava. O bombardeamento pareceu durar uma eternidade. Quando finalmente os russos entenderam que a área estava segura, isto é, totalmente devastada, voltaram a empreender a subida da colina mas, como ainda lá estavam os intrépidos árabes, deu-se o inevitável confronto.

Os russos eram poderosos mas os árabes determinados. Yousef, Said e os companheiros defenderam-se e lutaram pelas suas vidas ferozmente entre inúmeros disparos cruzados de metralhadora e confrontos físicos brutais e violentos, homem a homem. Vários árabes experimentaram o ansiado martírio. Quanto à existência dos portões do paraíso tal e qual como no belo sonho de Abu Sahl Al-Misri, só eles nos poderiam dizer se existem, caso pudessem regressar à Terra para nos contar. Talvez algum sonho desse tipo lhes tenha percorrido a mente nos escassos momentos que antecederam a morte, trespassados pelas balas, pelas lâminas ou por qualquer outra coisa que mate, momentos esses em que, segundo se diz, às portas da morte, o tempo estica, fica disforme e tende para a eternidade. Como espaço e tempo estão intimamente ligados como duas dimensões cartesianas, talvez também o espaço comece a distorcer nestes momentos. Talvez seja tudo tão belo quanto a mais bela das alucinações. Talvez até o sangue derramado, ou o esvoaçar das balas que cortam o ar, mude de cores e trajectórias, tornando o que é tão infame e horrível algo apenas burlesco ou psicadélico, como uma derradeira mensagem divina enviada ao homem no momento da sua morte para lhe dizer que a guerra é o mais ridículo dos disparates à face da Terra.

Findo o confronto os árabes sobreviventes recuaram e reuniram-se com os demais na retaguarda. Yousef reencontrou o xeque Omar que lhe pareceu mais desgastado e preocupado que nunca.

Nas semanas que se seguiram os russos pareciam ter um único propósito: não permitir que restasse pedra sobre pedra no Covil do Leão. Dos céus choveram morteiros e napalme sem fim. Era época do Ramadão. O xeque Tameem rezava e ansiava mais do que nunca pelo martírio, chegando inclusivamente a deixar o abrigo da caverna e ir para o exterior clamar aos céus por ele. A área ao redor do Covil do Leão era toda ela engolida por ardentes línguas de fogo e dominada pelo espectáculo da destruição. Não havia qualquer forma de resistir ao inimigo. As únicas armas disponíveis (constantemente subestimadas ao longo da história pelos homens) eram a paciência e a fé. O poder do inimigo era supremo e insofismável. No meio de semelhante tormenta, chegou a altura de tomar grandes decisões e, ali, a grande decisão que se impunha era não só abandonar o Covil do Leão, como ajudar o trabalho dos russos e destruí-lo por completo, também por dentro, de modo a que o inimigo não encontrasse nada a não ser um rasto de pura destruição quando alcançasse aquela tão preciosa base que tanto tempo e esforço havia levado a construir - a famosa política de terra queimada que os russos impuseram a Napoleão e a Hitler. Era essa a decisão que se impunha àquele grupo árabe, destruir o que restava e abandonar tudo. O xeque Tameem opôs-se a tal decisão. Não queria deixar a base. Preferia o martírio e a morte ao recuo inglório mas, resignado, lá acabou por se juntar aos demais. Foi assim que os árabes aplicaram a política de terra queimada à sua querida base e fugiram para o acampamento rebelde mais próximo.

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