CALLYEN
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O sorriso felino do macho era quase tão perigoso quanto ao olhar avermelhado que ele me lançou a medida que se afastava do tronco do carvalho que estava apoiado, em meio as sombras. Ele me olhou mais uma vez, a barba por fazer cobrindo seu queixo, tão vermelha quanto seus cabelos, ele pendeu a cabeça de lado me analisando de cima abaixo.
- Poderia facilmente lhe questionar o mesmo... - eu começo, mas então a sensação crescente de desespero toma conta de mim, se agitando em meu estômago e fazendo a marca contra meu peito arder. Trinco a mandíbula firmemente impedindo um gemido de dor me escapar. Engulo uma respiração antes de erguer o olhar para o macho novamente. - Se eu não estivesse com pressa.
Eris cerra os olhos em minha direção, o sorriso maldoso aumentando minimamente, em apreço.
- Você é a segunda pessoa que eu conheci com um estranho apreço pela morte... - ele diz e um arrepio gélido percorre minhas costas. Ele sabia. - Não é em direção a ela que você está indo tão apressadamente?
O encaro novamente, esse macho... estranhamente me julgava por um apreço que ele próprio buscava. A morte. Mesmo que no fundo, ele soubesse que não a encontraria lá, ele sempre estava buscando-a. Tentando uma maneira de ir de encontro a ela. Será que ele não a ouvia? Será que ele não sabia?
Eu ouço o leve zunido contra meus ouvidos, o arranhar suave contra as paredes do escudo em minha mente, o torpor invadindo e arranhando meus músculos, rastejando nos meus ossos. Sussurrando contra a minha vontade. A dor no centro do meu peito queimou novamente.. O aviso silencioso, porém doloroso... Seu tempo está acabando.
Mordo a pele no canto interior do meu lábio, provando o gosto metálico do sangue me lembrando que era ele quem estava murmurando as sensações para mim. Eu o olho novamente.
Não tenho tempo...
- Você está aqui para me impedir? - questiono. Eris ergue ambas as sobrancelhas num tom bonito de laranja, verdadeiramente surpreso por eu não ter dado meia volta sobre meus pés.
- Não... - ele pondera me observando um pouco mais atentamente demais. - Irei com você.
Solto uma risada baixa, a dor vem como a ponta de uma flecha em brasa fervente contra meu peito. Fazendo com que meu corpo se curvasse a frente e eu levasse a mão direto ao ponto da dor, apertando o lugar na fútil tentativa de livrar da dor.
- Não... Preciso da sua ajuda. - sibilo entre os dentes, por cima da dor. O macho solta uma risada sarcástica tão baixa quanto minhas palavras.
- Sua atual condição diz exatamente o contrário, Princesa.
- Não... me chame assim. - rosno de volta, embora seu sorriso diminua, o tom debochado ainda permanece na curva erguida de seu lábio, e no arquear de sua sobrancelha.
- Não é o que você é, Callyen? - ele diz. Novamente a sensação de torpor invade meu corpo. Mais forte que a primeira onda, o sussurro mais nítido, arranhando dentro da minha mente, uma fumaça lenta e densa, alaranjada... agindo contra meus pensamentos, arranhando contra meus músculos, contra a minha vontade, contra meus sentidos...
Era assim que seus sussurros eram, afinal. Um toque lento, certeiro, paralisante. Rastejando e tomando suas vontades, suas convicções, seus desejos... E se ele fosse fundo demais... tomando sua alma, com um simples sussurro.
- A herdeira do Caos da Mãe? A Princesa do Caos.. não a princesa dele...
Volte ao seu parceiro... Volte para as sombras..
- E você está indo entregar isso diretamente a ele... - ele zomba. - Eu esperava um pouco mais de você.
- Eu não tenho tempo para seus sussurros, Senhor das Quedas. - sibilo sob a pressão dos seus sussurros contra a minha mente , o toque que estava invadindo abaixo das paredes escuras dos meus escudos... Puxo as gavinhas de poder rastejando abaixo da pressão de Eris em minha mente, encontrando-se no meu núcleo, a bolha de poder lilás borbulhando, eu a movo sobre a pressão do poder do Senhor da Outunal, moldando-o, manipulando ao meu favor.
Ele suspira.
- Bem... irei com você, se não posso fazê-la ficar.
- Você não vai encontrá-la lá, Eris. - sibilo contra a dor em meu peito. Com a sensação crescente de desespero em meu coração, em minha alma.. eu movo as gavinhas de poder em direção aos meus dedos, o rastejar quente e borbulhante em meu sangue. - Porque ele vai tenta-lo.... vai oferecer trazê-la de volta em troca de lealdade... Eu sei, Eris... Ela não vai estar lá, porque ela não está aqui.
Eu lanço o poder acumulado contra o macho, lançando o torpor contra ele, cegando-o, privando seus sentidos na escuridão. Ele poderia ver, então. Ele deveria ver, ela o estava procurando... Mas ele não a encontraria aqui. Se era uma ilusão, nem mesmo eu saberia dizer quando manipulei suas sensações e sentimentos contra ele mesmo, paralisando seus movimentos no lugar.
Puxo o capuz do manto negro contra minha cabeça, cobrindo as lâminas gêmeas illyrianas presas na conta de couro as minhas costas. As sombras se reúnem em volta de mim quando eu respiro fundo sobre a dor em meu peito, quando eu olho para cima, a lua minguante enfeitava graciosamente o céu noturno, quase sorrindo de volta para mim.
Eu não olhei para traz quando pisei dentro da escuridão e deixei o vento me levar para o salão do trono de marfim.
Desculpe.
AZRIEL
🦇
Era realmente frustrante. A fêmea realmente estava disposta a executar o plano formado anteriormente. Eu vi isso nas enormes órbitas escuras e profundas, ela iria lutar. Ela estava mais que decidida a mata-lo. Mesmo que ela precisasse mandar metade das tropas a morte.
Inferno!
Eu não estava a julgando. Era um boa estratégia apesar das lacunas a serem preenchidas, como por exemplo converter aos outros a enviarem seus soldados diretamente para a morte. Além do mais, não tínhamos garantias de que Ykner, de fato, estaria presente no ataque. Eu estava frustrado, mais que isso, quando eu atravessei direto para nossa barraca e avancei contra ela, tomando sua boca. Ou quando eu amei aquela noite, eu senti como se fosse de fato, uma porra de uma despedida.
Uma clareira se abriu a minha frente, apertei a adaga entre meus dedos cautelosamente quando entrei no espaço. Apenas uma luz, branca e acolhedora e no centro uma fêmea com as asas semiabertas as costas, uma mancha branca como um raio rasgava uma delas da ponta de osso negro até a ponta das penas, a roupa de guerra illyriana antiga, era um contraste com a cor de sua pele pálida, os lábios pintados em vermelho. Os olhos tão cinzas quanto os de Amren jamais foram, como o céu no prenúncio de uma tempestade.
- Você precisa acordar, Príncipe das sombras. - a fêmea diz, a profunda voz retumbando meu interior. Ao meu redor as sombras se moveram inquietas. - Ela corre perigo..
- Como assim?
- Acorde.
A fêmea some na escuridão novamente quando as sombras se jovem ainda mais inquietas que antes. A sensação desesperadora quando a ordem soa em meu inconsciente novamente eu abro os olhos para o teto da barraca, erguido pela madeira no centro. Eu não preciso olhar para o meu lado sobre as peles para saber que ela não está lá. As sombras me dizem isso quando elas gritam em meus ouvidos, quando ela rugem o nome dela num clamor que não é respondido.
Me levanto de imediato, o brilho da lâmina da Reveladora da Verdade ao meu lado. As sombras rugem novamente... Nada.
Anjo? Eu chamo através da ponte. Ela ainda está lá, brilhando no azul cobalto cálido, mas o chamado foi recebido pelo silêncio profundo do outro lado.
Ela não estava lá. A voz da fêmea do sonho soou como um aviso na minha mente novamente. Levanto rapidamente, as sombras se desprendendo ao redor quando eu procurava um sinal, qualquer coisa.
Callyen?! Grito para a ponte azul do lado, esperando, orando, para que houvesse uma resposta, um puxão, um sinal. Qualquer coisa. Mas não houve nada.
- Onde ela está?!
N/A: oiê.
Tasquei e sai correndo. Bom feriado, eu amo vocês, lembre-se disso antes de querer me matar.