CALLYEN
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Eu as ouvi novamente. Sussurrando meu nome num som melódico, distante, mas convidativo. Abri os olhos em algum momento, sabia. Mas o que vi me fez achar que era um sonho e dormir novamente. Os olhos cor de mel e avelã, quentes e derretidos, mesclados com a escuridão das sombras que movia através deles, num comando silêncioso. Foi isso que me fez dormir novamente, a sensação que eu sempre tivera quando o via... Era por isso que era um sonho. Não havia outro modo de não o ser, pois se ele estava aqui... Eu estava dormindo.
Não sei quantos dias eu dormi. Eu não sei onde estava, muito menos se eu estava em segurança.
Abro os olhos e encaro ao redor. O sol claro e pálido da manhã iluminava o lugar. Grandes janelas abertas de ambos os lados deixavam a luz e o vento entrar pelas cortinas negras esvoaçantes. Podia ver ao longe, os picos nevados da montanha ao redor, mas aqui era magicamente quente e acolhedor. A cama, confortável, com lençóis negros de seda era grande. Enorme na verdade.
Meu corpo ainda estava letergico, e eu me sentia amarrada pelas ataduras ao redor, em minhas costas, braços, abdômen e peito. Olho devagar para minhas costas, vendo-as. Ataduras as cercavam e elas estavam limpas. A maior parte já curada, os rasgos foram remendados e o resto, se curando.
Arrasto-me com dificuldade para a beirada da cama, ignorando a dor que se alastrou pelo corpo em reclamação, olhando ao redor novamente. Eu estava sozinha. O quarto era estéril. Limpo. Duro. Não parecia que alguém dormia ali. Mas era definitivamente, bonito e arrumado. Forço meu corpo a sair da cama, não conseguindo evitar o grunhido de dor quando me coloquei de pé, vendo a túnica branca bater contra o chão. Eu estava limpa, e trocaram minha roupa em algum momento.
Onde eu estava?
— Em segurança. — uma voz clara e límpida soa. — Não deveria se esforçar tanto, você acabou de acordar. — uma jovem diz parada a porta. Ela era linda. Os cabelos castanhos dourados pendiam semi soltos até abaixo de seus ombros, os olhos grandes e azuis pálidos me observavam com carinho, mas também cautela como se esperasse algum perigo de mim, mesmo com minhas atuais condições.
A observo, desde o seu rosto esplêndido até o vestido azul pálido com pequenas pedrinhas brilhantes, ofuscando a luz do sol. Eu soube quem, de fato ela era e principalmente onde eu estava, pelas tatuagens negras em seus ambos braços. Feyre Archeron. Quebradora da Maldição. Salvadora de Prythian contra Hybern. Grã Senhora. Da Corte Noturna.
Segurei um xingamento enquanto a observava se aproximar de mim. Os olhos sagazes, varrendo minha expressão, enquanto eu me encolhia a cada passo.
— Como está se sentindo? — questionou colocando uma bandeja no criado ao lado da enorme cama.
Eu a observei ao mesmo tempo que sentia. O poder emanando. Vindo até a mim, como uma onda negra, chocando contra minha mente, batendo contra as paredes do escudo perfeitamente levantado. Mesmo com a inspeção em minha mente, o que sinceramente, foi rude, eu respondi:
— Bem, melhor. — a voz saiu arrastada, rouca e quebrada assim que a ouvi. Engoli em seco, e a Grã Senhora me ofereceu um copo, com o que parecia ser água. Bebi o líquido que desceu melhorando a dor em minha garganta.
— Porque... Porque estou aqui? — questionei. A Grã Senhora me olhou novamente, e decidiu não me contar no momento.
Para confirmar o que eu já sabia, mais pessoas passaram pela porta do quarto. Eu os reconheci, pelas histórias que me contaram da guerra, pelas histórias de antes disso, Sob a Montanha... O que havia se perdido, o que havia se encontrado, quebrado e consertado. Tudo devido ao sacrifícios dessas pessoas.
O primeiro a entrar era o grande senhor da Noite, o Grão Senhor da casa Noturna. O reconheci imediatamente, cabelos e vestes negras, os olhos de um violeta profundo atentos e sagazes. A loira, eu sabia quem ela era, sabia do seu poder, que lutara ao lado de meus senhores e salvará a vida de minha rainha. Morringan, a do poder oculto. Atrás o monstro que deixará de ser monstro, mas ainda me causava um arrepio olhar seus olhos cinzas, lembrar que um corpo tão pequeno abrigou uma criatura desconhecida e poderosa. Mortal. Parecendo ler isso em meu rosto, ela sorriu para mim.
Atrás, mas não distante deles, um macho de cabelos castanhos escuros grandes, presos num rabo de cavalo desgrenhado, a pose reta, de braços cruzados de um lado do seu Grão Senhor, e do outro...
Minha respiração falhou uma batida ao mesmo tempo que o coração. Não era possível, ele estar aqui. Não era possível ele ser real. Mas ali estava, a visão das sombras. O macho de olhos avelã e mel derretido, emanando sombras que rodavam em espirais nas pontas de suas orelhas, ombros e das pontas dos dedos. O cabelo curto, castanho e as vestes pretas, o rosto de uma expressão fria e indecifrável enquanto me observava de volta. Encarava.
— Porque estou aqui? — pergunto novamente, a voz mais firme que antes. Vejo a grã féerica ir para lado de seu parceiro, enquanto o mesmo inclina a cabeça, absorto.
Sei que haviam mais pessoas que faziam parte da Corte Noturna, e sabia que elas não estavam ali. Aquele, era o círculo pessoal, e se apenas eles estavam aqui ou descobriram quem eu era ou me consideram uma ameaça. Ouço um bufo de escárnio vindo do lado posterior ao cabeludo, e sigo meu olhar para lá. A expressão dele era de puro desdém, como se tivesse lido meus pensamentos, novamente dessa forma, como me lendo, ele ergue uma sobrancelha.
— Esperamos que você possa nos explicar. — o macho a frente diz, a voz de comando, poderosa até a última nota como o senhor que ele realmente era e até meus ossos tremeram.
— Eu não... Me lembro. — digo num sussurro. Ouço o clique novamente, dentes trincando e o som de um rosnado abafado. Pelo visto, eu não fora a única que perceberá, uma vez que todos os outros olhavam para a mesma direção com a expressão espantada, Morringan principalmente. Dentre eles, somente o Grão Senhor continuou me sondando, um sorriso estranho erguendo o canto do lábio.
— E porque exatamente eu deveria confiar em vocês? — pergunto.
— Você está aqui não está? Enfaixada e curada na casa de estranhos que poderiam tê-la deixado morrer naquela colina... Então, não questione se deveria confiar em nós, quando nós, não sabemos se deveríamos confiar em você. — a voz dele soou mais fria e cortante que sua expressão.
— Desculpe. — engoli a palavra. Ele não falou nada depois disso, voltou ao seu canto e desviou piamente o olhar de mim depois disso.
— O que exatamente você se lembra? — o grão senhor questionou, inspecionando.
Engoli em seco, forçando a garganta a se mover e a minha mente a lembrar. Nada. Eu não conseguia lembrar de muita coisa.
— Não muito... Pode... Pode olhar se quiser, porque eu... Não me lembro.
Eu não sei o que o macho fez na verdade. Ele somente pareceu me encarar e o tempo foi diminuindo, o espaço ficando menor na minha cabeça. E eu senti o puxão, e deixei ele entrar. Mostrei a ele como eu eu fugi, e o porque. Mostrei a fuga, mostrei a corrida e o vôo, mostrei a ele a queda e as feridas e o que me trouxe até ali. As sombras que me guiaram até aquele precipício, até ao que parece ser a fronteira da cidade dele. E o que quer que ele viu, pela expressão no rosto de sua parceira ela viu o mesmo.
O choque transpareceu por um momento, depois a expressão serena voltou e o puxão se foi.
Não sei o que eles viram que decidiram que eu poderia ficar. Não sei o que eles viram que, sorriram para mim e depois saíram do quarto acompanhado dos outros. Ele ficou por último, me observando por um momento longo. Observei sua garganta se mover e espero que ele falasse algo, mas ele se virou e saiu também, me deixando sozinha novamente.
Apenas o cheiro ficou, de almíscar e sândalo, cheiro cítrico de chuva e terra, cheiro de vento.
N/A: Quem falou que ia ter versão da Cally acertou. E aí gostaram? Espero que sim, gostei muito desse capítulo e vocês?
Enfim, já sabem, vota com carinho, comenta bonitinho, e até o próximo caps da tia Nath. Beijos e até o próximo 😍