Ok, é quase meio-dia! Nossa, eu não dormi, eu capotei! Abro meu celular e nada de mensagem no Twitter. Levanto e vou para um banho demorado na banheira enquanto vejo alguns clipes, ou MVs, como eles me ensinaram.
"Mic Drop" eu já gostei, batida do meu jeito. Passo para "Idol", legal, colorida, mas um tanto crítica da forma como eles podem ser vistos no mundo. Quando assisti "Spring Day", me senti em cada take daquele clipe. Vi solidão, reflexão e saudade... Na hora, minha cabeça voltou a conversa de ontem na cafeteria... É, a vida não é fácil pra ninguém, não importa se você um um "idol" ou um simples mortal. O nosso coração e a nossa mente, é terra de ninguém e só nós, sabemos o que se passa nesse território sem lei.
Sequei meu longo cabelo e caprichei na maquiagem, fazendo belos olhos esfumados levemente de preto e meu clássico batom vermelho Ruby Woo da Mac. Como não sabia ao certo o que vestir, coloquei um vestido justo preto de alças que tinha comprimento até o joelho, meia calça preta fosca e uma combat boot que tinha 10cm de altura me fazendo chegar facilmente aos 1,73. Agora sim, alta novamente. Pra completar pego uma jaqueta jeans oversized e destroyed e coloco. A jaqueta disfarça um pouco minha magreza de 51Kg. Separo uma boina preta de veludo e voilá, pronta pro show!
Checo minhas mensagens no inbox do Twitter e lá está o perfil fake de RM dizendo:
"Annyeonghaseyo :D Oi, esteja às 19:30 na entrada 12 do Madison Square, no credenciamento de imprensa dê o nome de Lena Kim e chame pelo Kim Sejin. Ah, deixamos também um presente pra você se divertir na performance. Até Mais tarde, Namjoon."
Beleza. Madison Square Garden, aí vou eu! Capricho no meu perfume preferido atualmente, o "La Vie Est Belle" da Lancôme, reforço o batom e saio do hotel.
Na entrada 12, uma pequena fila está formada, entro nela e, na minha vez, faço conforme RM pediu. A menina do credenciamento me olha de cima a baixo e pede para aguardar ao lado. Ela passa um rádio e fica me olhando. Uns 10 longos minutos depois, chega um coreano alto e forte carregando uma caixinha e me chama: Lena?
-Sim, fala inglês? -Pergunto ao belo coreano de cabelos escuros e corpo forte.
- Claro, sou Kim Sejin, manager do BTS. Muito Prazer. RM deixou pra você esse presente.
E recebo uma caixa retangular preta com o símbolo da banda. Abro e vejo algo tipo uma lanterninha de segurar.
- Que fofo, uma lanterna.
-Mais que isso.... É uma Army Bomb. Ela interage com o show em forma de luzes, só baixar o aplicativo e conectar. - Me explica Sejin.
Vi que o manager queria rir de mim, mas tudo bem, peguei minha Army Bom, baixei o app no meu iPhone e aprendi a usar.
Sejin me colocou uma credencial que eu não faço ideia do que está escrito em coreano, mas em inglês tinha: Staff BTS All Acess. E isso eu entendia bem, tinha coleções de credenciais com esses mesmos dizeres. Depois de passarmos por corredores cheio de equipamentos e pessoas voando por todos os lados, chegamos na entrada do estádio. Sejin diz que reservou um lugar para mim na frente.
Troco algumas palavras com ele, que me pergunta se sou americana ou mestiça de asiática. Explico que sou brasileira apesar de ter olhos pequenos, e que estou apenas de férias em NY. Ele me olha e fala...
-Seus olhos são realmente diferentes, enganam. Você é a responsável pela fuga noturna de ontem? – Pergunta Sejin.
Corei de vergonha. Acho que deu pra ver minhas bochechas ficarem da cor do batom. Sejin deve ter percebido e completou:
- Sem problemas, pelo menos eles voltaram inteiros.
Rimos juntos. Fiquei em uma cadeira na primeira fila do lado do palco que tinha uma extensão que ia até a parte dos fundos do Madison Square. Sejin pediu para manter minha credencial guardada na bolsa, pois não poderia ser uma boa ideia mantê-la no pescoço. Algumas fãs mais exaltadas poderiam arrancá-la de mim.
Ao meu lado, diversas meninas com camisetas, faixas e as Army Bombs. Elas cantavam os nomes de cada um deles como se fosse a coisa mais fácil do mundo. Ninguém parecia querer sentar, eu entrei na onda e fiquei em pé, vendo cada detalhe do palco, das luzes... As meninas que estavam atrás de mim reclamavam da minha altura na frente delas, mas eu estava me sentindo bem com meus quase 1.75.
Apagam as luzes, os Army Bombs começam a fazer um show de luzes interativas que me fez tirar os olhos do palco e focar na multidão. Olhei pra minha lanterninha e a mesma estava seguindo fluxo de cores. O palco se abre, os 7 entram como se estivessem prontos pra arrebentar o público de maioria feminino do Madison Square.
E no palco, eles tomam uma proporção gigante. Correm, dançam, interagem... Fico hipnotizada segurando minha Army Bomb e tentando cantar as músicas que aprendi ao longo do dia. Mas o máximo que consigo, é arriscar uns passos de dança bem de leve já que o espaço não permitia muita coisa.
Quando começa "Mic Drop", Suga vem pra frente, olha pro lado do palco e me vê. Arranco minha boina e coloco pra trás e vou fazendo com a mão igual a ele. Acho que ele percebeu, pois veio exatamente onde eu estava e me provocou com aquela cara que ele fez pra mim na noite passada. As garotas ao meu redor gritaram tanto que acho que perdi a audição pro resto do show.
Outro que era só gritaria quando se aproximava do nosso lado, era o V. Gente, ele não sabe guardar aquela língua dentro da boca? Isso deveria ser proibido pra menores. Nem vou citar todo os comentários que elas gritavam pois, seria muito impróprio.
O show se aproximava do fim e eles voltam ao palco com calças jeans, camisetas e com alguns souvenir nas mãos. A medida que cantam, eles jogam toalhinhas para a plateia. Suga novamente se aproxima de onde eu estou, pega sua toalhinha e me joga. Mas foi só eu tentar pegar que umas 5 garotas voaram na minha mão. Resultado: perdi a toalhinha e vi alguém rindo muito em cima do palco.
Show terminado. Sento no meu lugar e aguardo por Sejin. Uns 2 seguranças começam a esvaziar o local já que as meninas se recusavam a ir embora e claro, o segurança também veio até mim pedindo para sair. Abro minha bolsa e saco minha credencial. Ele olha, passa o QR code na minha credencial e pede desculpas me deixando ficar no lugar. O grito de raiva das garotas que estavam do meu lado me fez arrepiar, fui chamada de "bitch" pra baixo. Sejin chega e me leva para o backstage.
-Lena, os rapazes estão relaxando e irão se arrumar para uma pequena coletiva de imprensa. Gostaria de tomar algo ou descansar?
-Não, obrigada. Estou bem. Poderia andar por aqui e ver a estrutura de show de vocês? Fiquei muito interessada na questão das army bombs. Aquilo dá um efeito fantástico.
-Claro, vou pedir para lhe acompanharem até a sala de controle.
Enquanto aguardo, vejo um entra e sai de maquiadoras e gente no camarim principal. Não entendo nada do que falam, mas 15 minutos depois, os 7 saem. Todos arrumados e perfeitos. Todos me cumprimentam, sorriem e são arrastados por uma série de staffs para longe.
Sejin volta e diz que ele mesmo irá me levar pela tour nos bastidores. Olhamos cada detalhes de equipamento do PA, vamos na sala de controle e fico extasiada com tudo. Por que ainda não usamos no Brasil essas lanternas. Ele me explica que cada grupo tem a sua.
Uns 20 minutos depois, Sejin responde ao rádio em coreano e sai apressado. Fico ali parada e olho pro palco vazio sendo desmontado. Hora de fazer merda.... Meu demônio interior diz, vai lá no meio do palco e olha. Afinal, é o Madison Square Garden! Pronto! Lá fui eu pulando cabos e desviando de roadies desmontando equipamentos de luz e som quando do nada, alguém me chama. Me viro e lá está RM rindo.
-Quer virar idol, Lena?
-De jeito nenhum. Não levo jeito pra frente de palco, apenas para os bastidores. Só queria ver como é a sensação de olhar o Madison Square desse ângulo...
RM se aproxima, me pega pela mão e me leva por toda a extensão que foi montada para o show deles. Me mostra onde cada câmera é posicionada que é para onde eles tem que olhar para terem bons takes de filmagem para o telão. Me mostra as linhas de marcação do palco para evitar quedas. Os pontos de apoio da segurança deles para, caso vejam algo suspeito do palco, eles podem sinalizar a segurança. Muitos detalhes. RM explica que eles já foram ameaçados de morte e por isso, todos ficam meio nervosos com grandes públicos. Mas faz parte da vida deles. Uns os amam, outros tem preconceito e odeiam.
Continuamos andando e Suga chega. Vejo ele de longe nos observando quieto.
-Oi, Suga! -O cumprimento em um lento inglês.
-Hey, sweetie! Alta!! Quer virar o Empire States? - diz Suga com seu inglês ruim.
-Gosto mais de mim alta!
-Assim fica mais difícil te beijar!
Corei na hora. RM começou a rir e avisou a Suga que pra ele, minha altura de salto alto não era problema. Suga olhou torto pra ele e disse algo em coreano que não entendi, mas fez RM cair em risos.
Mas a noite estava longe de acabar, RM me convida para ir a uma festa de comemoração do show no hotel deles, algo informal para todo o staff com música e bebidas. Um pouco receosa do convite, acabo aceitando. Suga me manda por uma máscara no rosto, segundo ele, para me disfarçar com as meninas do staff.