Soleria - A Canção de Dama Lua

Від solerianos

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Filhos sempre querem ter histórias maiores do que as dos seus pais. Mas quando você é filho do maior mago do... Більше

Introdução
Cap. 01 - Dente de Dragão
Cap. 02 - A Fenda
Cap. 03 - A Reconstrução Impura
Cap. 04 - O aniversário do Príncipe
Cap. 05 - A Caverna do Dragão
Cap 6. A solidificação de luz.
CAP.07 - A sabedoria do rei
CAP.08- O chamado a Vila Azul
CAP.09 - A luz.
CAP.10 - O viajante e o prisioneiro.
CAP.11 - Reconstrução da alma.
CAP.12- A ira do rei.
CAP.13- As duas caravanas.
CAP.14 - Os dois navios de Cielo.
CAP.15 - Presentes e despedidas.
CAP.16 - Alguns dias antes.
CAP.17 - Thomas o prateado.
CAP.18 - Apolônios se apaixona.
CAP.19 - Em busca da Terra Normanda.
CAP.20 - O martelo de Thor.
CAP.21 - A batalha campal.
CAP.22 - Até logo, Ilha Nórdica!
CAP.23 - A menina e o rei.
CAP.24 - O ataque dos homens múltiplos.
CAP.25 - A Alma Negra.
CAP.26 - O namoro real.
CAP.27 - Boas vindas flamejantes a Paradiso.
CAP.28 - Soldadinhos de Chumbo.
CAP.29 - O chato
CAP.30 - O ladrão das sombras.
CAP.31 - A provação de Abil.
CAP.32 - O diamante falso.
CAP.33 - O homem no espelho.
CAP.34 - O início da chuva.
CAP.35 - Guerra entre os líderes.
CAP.36 - Desespero.
CAP.38- O nascimento de Dama Lua.
CAP.39 - Derfel.
CAP. 40- A revolta de Alfred.
CAP.41 - Filho da chuva.
CAP.42 - Os dois Vikings.
CAP.43 - A canção de Dama Lua.
CAP.44 - O mundo é o nosso lugar.

CAP.37 - A princesa do raio branco.

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Від solerianos

A noite já era densa, mesmo assim não vimos o tempo passar. Nossos olhos ficaram presos em todas as direções em busca de qualquer vestígio. O desespero era tanto que não pensamos que nosso navio naquelas condições horrendas não conseguiria perseguir um navio mais veloz. Navegamos em círculos praticamente em busca de qualquer sombra, qualquer alma viva em todo o oceano, mas nada encontramos, e quando o desanimo tomou a todos nós decidimos que seria hora de voltar. A visibilidade já era quase nula, seria inútil permanecer.

Apontamos para a ilha da Solidão e a perseguimos até o momento em que fogueiras distantes começaram a indicar a sua posição. Conseguimos perceber os navios dos vikings e dos prateados já estavam aportados lá, porém, existia um belíssimo navio branco com uma gigantesca cruz bordada em sua vela. Aquilo nos causou algum estranhamento, tendo em vista que todos os navios que havíamos visto até o momento possuíam o sol de Soleria bordado, porém aquele era diferente.

Thomas segurou a corda que prenderia Quebra-ondas ao porto, e quando questionado pelo anão apenas fez um sinal de não com a cabeça.

— A bandeira cristã? — Perguntou o viajante.

— A princesa está aqui. — Respondeu o irmão.

— Princesa? — Perguntei.

— Lorraine, do raio branco. Acredito que ela está preparando um grandioso jantar para lhes receber. — Comentou o prateado, com desanimo na voz.

— Não estou com animo para isso. — Respondeu Rick, pulando do navio para o porto.

— Príncipe, eu sei que não é o melhor momento, mas o exército cristão é capaz de superar os vikings em números. É de uma importância absurda o bom relacionamento com eles. — Achei engraçado o indomável Thomas o prateado se referir com algum respeito a Rick. A imponência de nossos feitos pedia esse tipo de comportamento, de todo o tipo de homem.

— Tem carne? — Perguntou o anão.

— Dos três tipos. — Respondeu o pirata com um rápido sorriso. — Dos que voam, dos que andam e dos que nadam. — O príncipe olhou para o anão que apenas deu com os ombros, depois se voltou para mim.

— Thomas está certo, precisamos manter nossa missão apesar de qualquer coisa. — Disse até com certa frieza. — Além do mais, não me lembro de ter comido nada hoje.

— Eu também não. — Resmungou Buks, com a mão na barriga.

Pude ver nos olhos do príncipe que seria um daqueles momentos em que o cargo posto em seus ombros valia mais do que sua personalidade. Mas somos soldados e antes de qualquer coisa, tínhamos a missão de convocar o exército do mundo para a guerra contra o mundo inferior. E ao me olhar novamente, o príncipe entendeu o que deveria ser feito.

— Ok, vamos nesse banquete. — Quase murmurou. Bom pelo menos o corpo dele esteve lá.

Foi a primeira vez que eu vi a dona do raio, Lorraine, a bela e doce princesa branca. Nunca imaginei o quanto ficaria amigo dela, o quanto gostaria daquela mulher. O destino é algo inexorável. Foi naquele dia, mesmo que eu nunca tivesse visto o príncipe em pior humor, que a princesa se apaixonou por ele.

Nos limpamos, afinal a menina era uma princesa. Não poderíamos ir fedendo a sal e suor. Buks era o mais empolgado, não com a realização de nossa missão, mas com a possibilidade de comer carne vermelha. Passamos longos dias comendo apenas peixes, praticamente desde a ilha nórdica que não comíamos nada a não ser os malditos peixes, como o anão os chamava. Ulthred demorou um pouco mais, queria deixar a armadura de chumbo e esmeraldas brilhando, até porque, ele também era um dos príncipes inferiores do arquipélago do escudo. Apesar das caretas de Alfred, a respeito do pupilo utilizar aquela armadura em um evento como aqueles, o viajante apenas resmungava que era um soldado de chumbo antes de qualquer coisa.

— Toria era um dos guerreiros preciosos. — Disse o viajante.

— Eu sei. — Respondeu o Viking com algum pesar. — É incrível como os meus melhores alunos sempre tomam um destino desprezível. — Disse ele olhando para dentro da cabine de comando, enquanto Thomas cuidava das mãos de Buks.

— Ele não é de todo o mal. — Respondeu o viajante, olhando para o irmão. — Apenas não gosta de seguir regras.

— Eu não tenho mais nada a falar para vocês. Até porque eu sempre segui as regras e mesmo assim coisas horríveis continuam a acontecer.

— Eu acho que é por isso que seguimos nessa viagem. Coisas horríveis ainda estão para acontecer, pois ainda existe gente ruim nesse mundo. Piratas como o Brown, Tresserhorn e as pessoas do mundo inferior. — Respondeu Ulthred.

— O engraçado e que quanto mais longe vocês chegam, maior é a lista de inimigos. E mais esses meninos perdem de sua própria essência.

— Eles precisam ser fortes para acabar com todo esse mal! — Berrou Ulthred.

— Esse é o problema, se vocês realmente acabarem com todo o mal do mundo e esses moleques forem fortes o suficiente para tal, como saber se eles não serão o mal que existirá futuramente? Até porque se eles forem tão poderosos assim, quem poderá contraria-los, Ulthred?

Pude ver pelo vidro da cabine que o viajante parou por alguns segundos, pensando na lógica que seu mestre havia realizado. Ele percebeu que era verdade, no final de tudo, se fôssemos vencedores, o que teríamos pela frente?

— Eu realmente não entendo o senhor. — Começou Ulthred — Depois de tudo o que meu pai fez conosco, depois de tudo o que ele fez com o senhor. Ou já se esqueceu de seu irmão?

— Orf não foi culpa de seu pai! — Resmungou o Viking. — E o que você gostaria que eu fizesse, virasse as costas para os Vikings? O que eu faria? Tornaria-me um verme de um pirata? Ou um "poderoso" Soldadinho de Chumbo? — Disse o velho com raiva crescente.

Nesse momento Thomas se levantou com raiva.

— A grande verdade é que você sempre foi o soldadinho do meu pai, assim como o seu irmão era, veja o que aconteceu com ele e a atenção que meu pai deu. — Thomas estava com a fúria enrubescendo a pele. — Eu sou o que sou, pois não quero ter o mesmo caminho que você, obedecendo aquele velho maldito que é o seu Jarl! E por isso que eu quero estar aqui, quero ver até onde esses meninos são capazes de ir, ver o mundo que eles são capazes de construir, pois eu tenho certeza de que esse mundo será melhor do que você participou.

— Você está errado Thomas. — Disse Ulthred. — Pois ele também está aqui conosco, e acredito que tudo o que você sente são esperanças a muito guardadas no peito do velho. Todos faremos desse mundo um lugar melhor.

Um longo silêncio se fez. Os três se encaravam, enquanto o anão buscava em mim o que deveria ser feito.

— Todos prontos? — Perguntou o príncipe entrando na cabine principal do navio e não entendendo o clima estranho.

Seguimos a orientação do que parecia ter sido um guerreiro a um tempo atrás, ele não tinha as duas mãos.

— O rio, senhor. Perdi para ele. — Praticamente sussurrou nosso guia, quando percebeu que eu olhava para a ausência de suas mãos.

Lembrei que o viajante havia nos falado a respeito daquela ilha. Era lá onde os aleijados e os que já nasciam com qualquer tipo de problema eram descartados. Aquilo era triste.

— Mercur do Rio? — Buks perguntou estufando o peito, sendo respondido com um triste sinal de positivo pela cabeça do guia. — Esse não machuca mais ninguém, se você procurar bem ainda deve ter restos do cérebro dele em meu machado. — Completou estufando o peito enquanto o homem começou uma enxurrada de perguntas a respeito. Foi a primeira vez no dia que eu vi o príncipe rir de algo.

Não havíamos feito nenhum reconhecimento territorial na Ilha da Solidão e ao andar alguns poucos quilômetros, chegamos ao que deveria ser o centro da cidade. Aquela havia de ser a cidade mais feia que eu já vi na vida.

Uma série de casas mal construídas, outras feitas madeira e aglomerados de pedra ou qualquer coisa que desse para ser encaixada em outra, fazendo um abrigo para a chuva e quebrando o vento. O cheiro de esgoto era forte ali, enquanto uma série de crianças corria com coisas escorrendo pelo nariz.

— Antigamente os filhos sem avarias das pessoas que moravam aqui, eram tomados como escravos na Ilha Paradiso, ou até na antiga Ilha Inglesa. Mas hoje em dia, por conta de Orf isso não ocorre mais! — Disse nosso guia apontando para as crianças que corriam em nossa direção para ver a novidade. Senti certo desconforto por parte de Ulthred, que rapidamente buscou o olhar de Alfred, que por incrível que pareça o desviou.

— Sabe se ele estará presente nesse banquete? — Perguntou o velho Viking.

— Acredito que não, ele não gosta desse tipo de evento. Senhor eu me esqueci, ele não é seu. . .

— Irmão — resmungou o General Viking. — Sim, ele é meu irmão.

Prosseguimos por entre os casebres, enquanto centenas de pessoas sem pernas, com a boca marcada por um grande buraco, ou que brigavam sozinhas nos rodeavam. O cheiro ali era algo complicado e o anão, sem modos algum tampou o nariz sendo rapidamente repreendido pelo viajante.

— Já estamos a chegar, senhor príncipe. A princesa Inglesa o espera no galpão de donativos. — O guia apontou para um grande galpão que ficava ao final da estrada de terra ao qual seguíamos. Uma grande quantidade de pessoas nos seguia como os escravos nos seguiam na Paradiso. Cada vez mais o cenário se tornava grotesco, uma quantidade enorme de pessoas tossindo e um menino coberto por caroços por todo o corpo, a repugnância era clara na cara do anão, enquanto o príncipe olhava a tudo aquilo incrédulo. A decepção se instalava em seus olhos, aquele não era o mundo que esperávamos como ninguém fazia nada para ajudar aquelas pessoas.

Em Soleria, quando alguém nascia com algum tipo de problema, ou ficava doente, era praticamente realizado um evento na cidade. Todos os curandeiros élficos, mestres do fogo e magos de cura branca se reuniam para a melhor tratativa do paciente, todos focados na melhora ou em pelo menos amenizar tal situação. Mas naquela ilha os enfermos eram abandonados como lixo e eu podia ver no rosto de Rick, o nojo. Não pelo cheiro, não pelas chagas das pessoas que ali estavam, mas sim pelas pessoas que faziam aquela ilha existir.

— Alfred, vejo muitos nórdicos aqui, mas nenhum Viking. — Perguntou o príncipe.

— Cuidamos dos nossos, pirralho real. A ilha da Solidão para um Viking serve apenas para que mesmo quebrados eles consigam manter a posição de guerreiro.

— Isso que aconteceu com seu irmão? — Perguntei.

— Meu irmão é outra história, mas em tese é basicamente isso. — Respondeu desviando o olhar novamente.

Mais alguns metros e chegamos ao grande galpão. Que diferente de todas as construções precárias, possuía uma grande estrutura em metal, pedra e madeira, com um grande telhado de palha perfeitamente construído.

— Aqui é a base de operações da princesa Inglesa, ela nos trás mantimentos e magos de cura. Fora que ela nos auxilia em vários outros fatores e nos orienta quanto a palavra de Deus.

— Aquele cara que é tipo Thor, não é? — Perguntou o anão, sendo respondido com um olhar de repreensão do guia, ele chegou até a pensar em responder, mas achou melhor não. Alfred apenas sorriu e colocou a mão em seu ombro.

No caminho, fomos interceptados por uma mulher de aparência exótica, ela possuía um vestido que algum dia já foi bonito, porém sua borda estava repleta de lama, e percebendo que entre nós o melhor vestido era Ulthred, com sua armadura de chumbo repleta de esmeraldas, lhe estendeu a mão.

— Príncipe Soleriano, Barbie, rainha da Ilha Inglesa de Nosso Senhor —

— Você não disse que era uma princesa? — Perguntou Rick para Alfred.

— Essa aí não sei quem é. — Respondeu o Viking, enquanto a mulher mantinha a mão estendida na direção do viajante.

— Essa aí é maluca, Barbie, rainha dos porcos e do chiqueiro, senhora da lama e das idiotices, não deem atenção. — O guia espanou a mulher com os cotocos dos braços, enquanto ela se debatia com uma expressão de raiva aparente.

— Seu francês imundo, assim que se trata uma rainha? Respeite-me! — Disse ela tentando espalmar o guia que se defendia com os cotocos do braço. Até que outra pessoa da multidão que nos seguia retirou a maluca de nosso caminho. Olhei bem para a mulher sem entender o motivo para aquele comportamento. Até por que ela sem a doideira seria uma pessoa bonita, tinha mais ou menos o meu tamanho, a pela morena queimada pelo sol, olhos de um castanho exótico e uma cabeleira cacheada que aumentava ainda mais sua beleza.

Nem foi explicado que aquele não era o príncipe de Soleria, nem qualquer atenção de nosso grupo foi gasta naquela mulher. A deixamos com sua loucura e com sua falsa ilusão de que era alguém da realeza. Sempre achei engraçada a necessidade de poder que as pessoas possuíam, enquanto nós, que tínhamos esse poder, não dávamos a mínima para ele. Ao longo de minha vida vi muitas pessoas como aquela mulher louca daquele dia, que tinham a angustia por ser alguém e que faziam coisas de caráter dúbio por esse poder, assim como ela depois viria a fazer.

Uma comitiva de pessoas vestidas de branco, assim como guerreiros com belíssimas armaduras brancas e detalhes dourados, nos esperavam na porta do galpão, no centro duas pessoas se destacavam, duas mulheres para falar a verdade. A primeira ao contrario de todos os outros, vestia uma armadura leve na tonalidade roxa e parecia ser mais alta do que a maioria, enquanto a outra era uma menina morena, com um vestido branco belíssimo, levemente adornado com algo que depois eu fui compreender ser raios dourados. Em sua cabeça um aro de ouro demonstrava quem realmente ela era. Aquela era a Princesa da Ilha Inglesa de Nosso Senhor, Lorraine do Raio Branco, e assim que chegamos ela nos deu um dos sorrisos mais bonitos que eu já vi em toda minha vida.

Ela pulou os poucos degraus e veio cumprimentar Alfred, que ficou todo sem jeito.

— Esses put. . .. Quer dizer. . . Esses são os guerreiros de Soleria. — Era engraçado ver o brutamonte do Alfred fingir modos em frente a uma dama como Lorraine. — O anão é o caçador de Mercur do Rio, acho que a senhora gostaria de saber isso, Buks o anão de fogo. — Mais uma vez o anão estufou o peito, já ia dar um passo a frente para começar a falar de sua história, mas foi contido pelo Viking. — O gorducho... — Nem preciso dizer que fechei a cara quando ele falou isso, até porque eu já havia perdido bastante peso naquela viagem. — Quer dizer o do roupão negro, é Tai, o solidificador de luz, assassino de dragões e ganhador do Thor desse ano. — Meu humor melhorou nesse instante, meus sucessos estavam aumentando e cada vez ao qual era anunciado algo era adicionado. Porém eu vi que a princesa não me olhava. — E esse, minha senhora, é o pirralh. . . Quer dizer. . . É o príncipe de Soleria, Rick.

Aquilo foi bonito de se ver, os olhos da princesa estavam grudados em Rick de tal forma que ela nem seria capaz de piscar. Percebi nesse momento que ela deveria ter a nossa idade mais ou menos e que possuía uma beleza exótica, seus cabelos eram negros com um brilho azulado, seus olhos eram castanhos quase negros de tão escuros, sua pele de um branco rosado enquanto seu rosto era extremamente amigável. Existia algo nela que chamava a atenção e até hoje sou incapaz de dizer o que, antes dela falar qualquer coisa eu sabia que iria gostar daquela menina.

A guerreira da armadura roxa deu um leve encostão na princesa, que em seu transe meio que se desequilibrou e foi rapidamente aparada pelo príncipe. A pele branca de Lorraine se tornou de um vermelho vivo.

— Desculpe... — Disse ela rapidamente se libertando dos braços de Rick, enquanto a guerreira aliada fazia sinal de positivo para o General Viking.

— Esses dois palermas aqui ao lado, quer dizer. . . Esses dois são os príncipes nórdicos — Foi esquisito ouvir isso, por mais que soubéssemos que ambos eram príncipes menores, não os via como tal. — Ulthred o soldado de chumbo, descobridor de Soleria e. . . .

— Thomas o prateado! — Berrou a guerreira.

— Alicia, a Caçadora do vento! — Disse o pirata com um sorriso no rosto. — Que honra você por aqui! — Continuou dando uma piscadela para a guerreira, para a sua ira.

— Alfred, príncipe ou não este sujeito é um criminoso! — Berrou a guerreira vindo à direção do líder Viking. Nesse momento eu percebi o motivo dela ser mais alta do que a maioria, pois apesar de ela ser uma mulher de estatura elevada, seus pés não estavam fincados no chão como seria normal. Ele flutuava.

— Ela voa! — Buks quebrou o meu fascínio pelo o que ela estava fazendo.

— Ela voa! — Foi à única coisa que eu fui capaz de dizer naquele momento.

— Ela domina o vento, uma das melhores ao qual já tive a honra. — Completou o prateado.

— Vento? — Perguntei.

— Cara, isso vai ser complicado. Depois te explico melhor. — Disse já sem paciência o viajante.

— Mas ele é um príncipe nórdico, Alicia. E jurou proteção ao povo de Soleria, ele hoje pelo menos é um aliado. — Respondeu o Viking.

— Sou? — Perguntou o prateado, sendo incinerado pelo olhar do General Viking. — Para falar a verdade estou aqui só para ver até onde essa história vai dar. — Completou Thomas, sorrindo para Alicia.

— Apesar de nossas diferenças, acho muito importante que os Solerianos possam contar com seu auxílio, príncipe Thomas. — Finalmente disse a princesa, com a mesma autoridade que Rick tomava a palavra para si. Porém, ao ver que a atenção de todos estava voltada para ela, a princesa corou novamente olhando rapidamente para o príncipe.

O cenário do banquete foi diferente do que estávamos vivendo. Conseguimos por um curto espaço de tempo esquecer todos os nossos problemas. Os graves ferimentos de nossos amigos e o desaparecimento de Agnes.

— Os que andam, os que nadam e os que voam!!— Berrava Buks com um prato cheio de todo o tipo de carne. — Eu sou Buks o mestre predador!!!!

— Mas isso nem combina. — Reclamou Ulthred sorrindo da bobeira do anão, que pensou na resposta.

— Pode ser Buks o predador, fica bom o bastante! — Concluiu o prateado, sendo respondido com sinais positivos feitos pela cabeça do anão.

Na mesa feita em uma espécie de palco estavam no meio o príncipe e a princesa, ao lado de Rick estavam os príncipes nórdicos enquanto eu fiquei isolado junto a Alicia que ficava ao lado da princesa. Já Buks, estava em todo o lugar. Ele contou três vezes como ele havia derrotado Mercur, sendo que uma dessas foi para as duzentas outras pessoas que estavam no galpão. Ele também contou com detalhes, mesmo não estando lá, como que eu havia matado o dragão de metal.

No começo eu odiava que essas histórias fossem contadas, até hoje eu não me importo muito. Mas o orgulho de um guerreiro está em suas histórias. Na visão daquelas pessoas, eu era apenas um menino vindo de uma terra distante, mas conforme o anão ia falando, o brilho nos olhos daquelas pessoas que ali escutavam refletia em minha direção. Aquelas mesmas pessoas que viviam de uma maneira tão medonha, sendo descartadas por seus amigos e parentes, tendo que viver de maneira tão precária. E pensar que em mim eles viam um herói e eu gostei daquilo.

A alegria do anão animou nossos ânimos, Rick bebia e conversava com os príncipes nórdicos, eu troquei algumas poucas palavras com Alicia e muitas com a princesa, que apesar de ter o príncipe ao seu lado, queria saber de mim tudo a respeito de nossa terra natal, nosso reino esquecido, percebi que a menina mal olhava para o lado do príncipe e quando tinha que fazer, realizava o movimento com uma rapidez absurda, voltando com o rosto corado. E conforme Buks contava as histórias ela voltava os belos olhos arregalados em minha direção querendo detalhes.

Era do interesse da princesa do raio branco os rumores a respeito de nossa amiga que havia desaparecido e coube a mim contar toda a história de como Agnes havia desaparecido. Aquilo comoveu bastante a menina.

— O mar é um ambiente bem inóspito para se perder, ainda mais sendo uma mulher tão jovem. — Comentou ela.

— Tomara que a menina não tenha uma beleza proeminente. — Completou a caçadora.

— Porque isso? — Perguntei, sem entender para onde elas queriam levar aquele assunto.

Quando fui interrompido no momento em que o príncipe contradisse o anão que se virou o chamando para briga, um dos piratas prateados abriu violentamente o grande portal do galpão, roubando todas as atenções.

— Senhor o navio do capitão Brown, está a vir! — Berrou o esbaforido pirata, fazendo com que Ulthred e eu nos levantássemos praticamente ao mesmo tempo. Aquele velho frio correu minha espinha. Aquele era o pirata que havíamos enfrentado no torneio do Thor, que havia nos dado uma surra antes da Ilha Paradiso e mandado o príncipe e eu para aquele mundo horrível dos mortos.

Coloquei as mãos nas costas e senti falta dos meus machados. Tive que tira-los antes de entrar no grande salão da princesa inglesa. "Ela diz que bebidas e armas não combinam" reclamava Alfred ao retirar nossas armas e guarda-las com um rapaz todo coberto de pelos.

Corri na direção ao qual o rapaz havia pegado nossas armas, porém, o eficiente rapaz ao notar a seriedade do pirata já havia ido busca-las e antes que eu chegasse ao portão os machados já se acomodavam em minhas mãos. Mantive o ritmo junto aos meus amigos e alguns soldados que a princesa havia liberado para nos ajudar. A caçadora do vento nos seguiu, liderando estes soldados e vê-la voando realmente era uma visão inspiradora. Teríamos um bom numero de soldados para enfrentar o perigoso pirata.

Chegamos ao porto esbaforidos, após a louca corrida. Víamos uma parede de escudos formada pelos Vikings, enquanto os prateados faziam uma formação louca, chamando os piratas rivais a conhecerem suas espadas. Percebi a grande embarcação vindo com lentidão, já que o vento era calmo, também era lento o movimento dos tripulantes no interior do navio, e na proa uma figura se escondia nas sombras.

— Agnes! — Foi o príncipe que a reconheceu, me voltei para a minúscula pessoa na proa e vi os contornos de nossa amiga desaparecida.

— Malditos... Malditos!!!— Berrava Buks, tendo o animo trazido pela bebida abandonado bruscamente, ele puxou a comprida faixa que servia de bandagem para suas feridas nas mãos, e antes mesmo que pudesse acabar de desenrolar suas mãos já estavam em chamas. — Hoje esses putos morrem.

— Acalme-se anão, existe algo estranho. — Disse a caçadora do vento a uma altura de mais de cinco metros do chão. — Aqueles são os tripulantes de Brown, mas eles estão agindo de forma esquisita. Mesmo que quisessem nos fazer uma tocaia, não deixariam a menina em tal posição. A não ser que ela tenha se juntado a eles.

— Impossível!!!— Berrou Buks. — Ela é uma de nós.

O navio rasgava o mar com certa má vontade, encarei o príncipe e vi que ele estava no mesmo estado de humor que o meu, algo estava muito errado. A caçadora fez menção de flutuar até o navio, porém, foi impedida por Ulthred.

— É melhor travarmos uma luta no porto se for o caso, você poderá ser abatida rapidamente e não teremos muita coisa a fazer. — Comentou o viajante, recebendo um olhar de desdém da caçadora, principalmente na parte em que ela poderia ser abatida rapidamente.

— Está correto, apenas mais alguns instantes e saberemos o que eles querem. — Completou o prateado.

— Olhe para os tripulantes! — Gritou um dos prateados. — Eles parecem estar feridos.

Observei o que o pirata havia falado e ele tinha razão. O navio já estava em um ponto ao qual poderíamos ter mais foco em tudo o que ocorria muitos dos piratas de Brown estavam sangrando violentamente, outros possuíam membros faltando, enquanto outros era praticamente impossível entender como conseguiam ainda se manter de pé. Parecia até com a horrenda tripulação de Tresserhorn.

— Quem é essa menina? — Perguntou a caçadora. — Aquela expressão, aqueles olhos eu já ví isso em algum lugar. — A lua cobriu a menina com seu manto de luz prateada, pude ver que ela estava mais pálida do que o normal, em sua face estranhos vasos negros se estendiam na linha dos olhos, estes que tinham um brilho avermelhado assustador.

— Dama lua! — Sussurrou Alfred ao chegar esbaforido algum momento depois de todo o primeiro grupo. — Ulthred?

O viajante nada disse, todos nos encaravam esperando alguma resposta, mas não as demos. Não porque não queríamos dar, mas sim porque não sabíamos ao certo o que acontecia com a menina.

Tudo o que importava naquele momento era que Agnes estivesse segura, que conseguíssemos seguir nossa viagem e que realizássemos nossa missão juntos. Não esperávamos que aquele dia mudasse nossas vidas para sempre. 

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