Soleria - A Canção de Dama Lua

By solerianos

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Filhos sempre querem ter histórias maiores do que as dos seus pais. Mas quando você é filho do maior mago do... More

Introdução
Cap. 01 - Dente de Dragão
Cap. 02 - A Fenda
Cap. 03 - A Reconstrução Impura
Cap. 04 - O aniversário do Príncipe
Cap. 05 - A Caverna do Dragão
Cap 6. A solidificação de luz.
CAP.07 - A sabedoria do rei
CAP.08- O chamado a Vila Azul
CAP.09 - A luz.
CAP.11 - Reconstrução da alma.
CAP.12- A ira do rei.
CAP.13- As duas caravanas.
CAP.14 - Os dois navios de Cielo.
CAP.15 - Presentes e despedidas.
CAP.16 - Alguns dias antes.
CAP.17 - Thomas o prateado.
CAP.18 - Apolônios se apaixona.
CAP.19 - Em busca da Terra Normanda.
CAP.20 - O martelo de Thor.
CAP.21 - A batalha campal.
CAP.22 - Até logo, Ilha Nórdica!
CAP.23 - A menina e o rei.
CAP.24 - O ataque dos homens múltiplos.
CAP.25 - A Alma Negra.
CAP.26 - O namoro real.
CAP.27 - Boas vindas flamejantes a Paradiso.
CAP.28 - Soldadinhos de Chumbo.
CAP.29 - O chato
CAP.30 - O ladrão das sombras.
CAP.31 - A provação de Abil.
CAP.32 - O diamante falso.
CAP.33 - O homem no espelho.
CAP.34 - O início da chuva.
CAP.35 - Guerra entre os líderes.
CAP.36 - Desespero.
CAP.37 - A princesa do raio branco.
CAP.38- O nascimento de Dama Lua.
CAP.39 - Derfel.
CAP. 40- A revolta de Alfred.
CAP.41 - Filho da chuva.
CAP.42 - Os dois Vikings.
CAP.43 - A canção de Dama Lua.
CAP.44 - O mundo é o nosso lugar.

CAP.10 - O viajante e o prisioneiro.

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By solerianos

Devia passar um pouco da hora do almoço, quando o príncipe chegou até a vila azul. Por todo o canto as pessoas se encontravam alarmadas com o que acontecia. Alguns poucos, que haviam ouvido rumores a respeito de sua morte, cutucavam os outros e apontavam em sua direção, os animais marinhos eram dignos de maior atenção.

Chegando ao porto do local, viram uma multidão de pessoas horrorizadas com o que acontecia. Realmente a imagem era chocante, centenas de Hydras se esticavam para fora do mar, o tamanho dos animais era absurdo, passando e muito o Dragão de metal. O rei, junto a seus líderes já se encontrava frenético, tomando as decisões necessárias. Os dois meninos conseguiam enxergar os animais a uma boa distância, porém a cada passo que davam aquilo parecia mais verdadeiro. Conseguiam ver melhores detalhes dos monstros marinhos e conseguiam ver o quão fácil seria para eles causarem o caos.

Rick estava perplexo, enquanto Buks estava animado com a possibilidade de um combate épico. A aventura perdida havia alimentado sua alma com os sonhos dos bobos, repletos de glória e reconhecimento de poder. Chegaram próximos ao pai do príncipe e o viram alarmado gritando ordens.

— Eu já falei que não quero ninguém próximo ao porto! Onde está Ragnar com o exército? -Berrou a dois mensageiros, que tentavam, em vão, retirar as pessoas das proximidades. — Preciso de todos que possuam habilidades de combate prontos para a ação. Sonny, Maria acredito que a comitiva de vocês já esteja chegando também. — Continuou a berrar o rei alarmado com a situação. A anã apenas fez um sinal com as mãos, seguido por um muxoxo não dando muita atenção ao rei, estava boquiaberta com a quantidade de animais a se lançar para cima. Sabia que nem com todo o contingente da ilha seriam capazes de enfrentar aquilo.

— Rick? O que está fazendo aqui? — O príncipe não havia percebido, mas seu irmão estava no porto, junto de Apolônios, que o olhou com cara de deboche e Drake, que mantinha-se alerta prestando atenção em tudo o que acontecia.

— Você é maluco? Deveria estar em repouso. — Disse o rei se virando e percebendo o filho mais novo. Chegou perto e o abraçou com força. — Como está se sentindo? — O menino não foi capaz de responder.

Ao ver o tamanho dos animais de perto ficou incrédulo com a existência daquilo, havia largado o cavalo na entrada da Vila azul e rumado a pé até o porto analisando cada situação que ali acontecia. Achava que o Dragão fosse a criatura mais aterradora do mundo, mas alí estava algo que o transformava em um pequeno animal de estimação.

— Nós matamos o Dragão, pai. — Disse o príncipe sem retirar os olhos das criaturas. — Ele servia para esse propósito, nos proteger. Agora quem poderá nos proteger?

O rei olhou para o horizonte, viu a imensidão dos diferentes tons de azul, que faziam o contraste entre o céu e o mar. No meio daquela bela paisagem, as criaturas de tamanho horrendo, seguiam se expondo sem pudor algum. Ele não tinha idéia do que fazer, sabia apenas que precisava pensar rápido.

Aqueles animais permaneciam no mar que banhava Soleria, por centenas de anos, impedindo o avanço pelo mar. Eram conhecidos por sua ferocidade e violência, ávidos destruidores de navios e tomadores de vidas, fazendo com que muitos órfãos da vila azul olhassem para os animais com um misto de horror e fúria.

Mais pessoas chegavam em curtos espaços de tempo. Enquanto isso o rei fazia milhares de cálculos e estratégias, que deixavam sua cabeça cansada, tamanha era a velocidade com que as ideias iam e vinham. Tentava entender o que realmente estaria acontecendo. "Se tratava de um ataque? " Rapidamente eliminou essa ideia, pois se realmente esta fosse a intenção, seus súditos já teriam sido massacrados. Olhou lentamente para o filho e depois para a direção da Floresta do Desconhecido, onde a luz prateada Vinda do corpo do Dragão de Metal ainda fugia para o céu. "Deve existir alguma relação. Mas qual? "

-Se as Hydras vierem, elas irão encalhar. O Porto é muito raso para que elas consigam chegar até aqui. — Disse Maria. Gerard apenas a encarou rapidamente, sabia que aquilo que ela havia dito era verdade. Mas caso a ira tomasse aqueles animais, eles dariam um jeito. Não queria apenas contar com a sorte. Pelos seus cálculos as criaturas iriam encalhar a uma distância maior do que mil passos, tendo em vista que a baia da enseada era rasa demais para o grande porte das Hydras.

Percebia o nervosismo crescente dos homens ao redor, que já possuíam armas em mãos. Uma cena trágica tomou a sua mente, por algum motivo as bestas atacavam e era o massacre esperado. A areia quase toda pintada de vermelho, enquanto os monstros se alimentavam de seus amigos. Aquilo lhe causou pânico. Sabia que todos os olhos estavam pousados nele, teria que se manter.

— Gerard? — Sonny espantou o sombrio pensamento. — Elas estão se movendo. — Continuou o líder azul. Chegava a hora de agir, fechou os olhos por um pequeno instante e ao abrir sabia o que tinha que ser feito. Não gostava de não entender o cenário como um todo, mas precisava estar atento a todos os detalhes.

— Todos que não possuírem métodos de combate, quero que sigam para a Cidade Branca, quando tudo for resolvido mandaremos emissários para convocá-los. — Um grande burburinho surgiu a respeito da longa viagem que deveria ser feita. O pensamento do rei era que as grandes criaturas não poderiam sair da água e enviando todos para a Capital de Soleria, tinha em mente que estariam seguros. — Todos que possuírem cavalos, ou meio de locomoção se mantenham na linha de frente. . . — Continuava a dar ordens, quando foi interrompido.

— Elas parecem que estão fazendo um corredor! — Berrou Derfel, chamando a atenção de seu primo.

— O que seria aquilo? — Apontou Seadra, o anão do mar. — Tem algo passando entre as criaturas.

Forçando a visão, foi capaz de ver que as criaturas mais distantes se alinhando lentamente, fazendo um grande corredor conforme o mago negro havia falado. A uma distância ainda maior, um pequeno ponto parecia se aproximar sem pressa.

— Aquilo é um barco? — O rei sussurrou para si mesmo, sendo ouvido apenas por Sonny, que estava ao seu lado.

— Acredito que sim. — Respondeu tão baixo, quanto à pergunta feita, assustando o rei pela perplexidade do líder azul que sempre era tão contido. — Existem dois homens lá senhor. — Os olhos de Gerard, já estavam cansados devido à idade, não conseguia enxergar tão bem quanto o líder da água, mas com a distância diminuída, foi capaz de ver o que o rapaz havia falado. Viu uma pessoa remando, enquanto outra permanecia sentada sem muito se mover.

Conforme eu já falei, consigo através da magia recolher as lembranças das pessoas. E com isso consigo sentir tudo o que se passa em seus corações. Naquele dia junto a praia da Vila do Mar, o coração do rei era sombrio. O medo era muito maior do que a vontade de lutar, milhões de pensamentos assaltavam a sua mente. Será que toda a ação feita por nós havia resultado aquilo? Era impossível não haver ligação. Era coincidência demais!

— Um deles tem a pele vermelha senhor. — Relatou Seadra. O nervosismo era alto naquele momento e olhos tensos se pousavam em Gerard, e ele começava a escutar alguns comentários ruidosos, a respeito do que deveria ser feito. Temeu por um instante que sua decisão cautelosa poderia ser a ruína de todos, a situação era extremamente complicada.

— Retaguarda manter posição. — Começou finalizando o burburinho. — Arqueiros a direita. — Disse apontando para Sonny, que tinha alguns pescadores bastante habilidosos com o arco e a flecha. Alguns soldados do exército que tinham a função selecionada se uniram aos pescadores indo para o flanco indicado pelo rei. — Exército manter posição, outros guerreiros, suportar a linha esquerda. Uma rápida movimentação ocorreu, seguindo as ordens de Gerard, houve alguma bagunça entre os guerreiros que não eram do exército de Ragnar, mas seus soldados se moviam com perfeição orientando aos outros suas funções na linha de batalha.

— Eles já estão ao meu alcance, senhor rei. — Disse Gaiga, os observando malignamente, meu pai atraiu olhares surpresos, devida tamanha distância. Mas ele dizia a verdade.

— Não faremos o primeiro ataque, quero saber quem são e o que querem. Respostas a respeito de como fizeram isso com as Hydras também. — O líder branco apenas concordou, acenando com a cabeça sem desviar os olhos nos dois viajantes que se aproximavam de nossa ilha.

Rick queria seguir para o flanco esquerdo e lutar ao lado de Buks, sendo impedido por Ragnar, que lhe arranjou um local ao lado de seu pai. Roger também se aproximou e então, o rei ficou flanqueado pelos dois filhos. Gerard deu uma última olhada em toda a sua formação de batalha, tinha seus guerreiros bem espalhados por todo o cenário caso houvesse uma luta. Precisava ter certeza de que caso os viajantes fizessem algum tipo de ataque, eles teriam uma rápida resposta vinda de todos os lados.

A tarde começava a cair e os viajantes ainda demoraram alguns tensos momentos até finalmente chegarem a borda da praia. Gerard mandou alguns soldados os ajudarem a encalhar o barco na areia. Deu alguns passos a frente para encarar melhor os misteriosos forasteiros. Aquele seria um dia histórico para o reino, tendo em vista que faziam alguns séculos que ninguém de fora do continente colocara os pés ali.

Viu um homem forte se levantar do pequeno barco, com uma armadura bastante complexa, porém com algumas partes faltando. Tinha cabelos longos e loiros, uma barba crescida devido ao tempo gasto ao mar, o que também lhe dava uma cor de pele escura, devido a exposição ao sol. Ele olhou para trás e apenas moveu uma mão, fazendo com que todas as bestas do mar caíssem ruidosamente. Uma grande onda foi jogada a praia, o que causou algum nervosismo entre o flanco dos arqueiros a direita. Porém rapidamente foram impelidos pelo líder azul, que naquele momento ficou boquiaberto com tamanho o poder do viajante, tentou raciocinar como aquilo poderia ser feito e se sentiu frustrado por não conseguir nenhum resultado.

— É uma tamanha exibição de poder. — O rei chamou a atenção do viajante. — Desculpe a tensão, não recebemos muitos visitantes. — O rapaz loiro sorriu, tinha uma expressão de alívio, e o rei, percebeu que ele tinha olhos confiáveis.

— Rei Gerard? — Perguntou dando alguns passos a frente, sendo repelido por Rick e Roger que rapidamente sacaram Dente de Dragão e Raio Solar que era a mitológica espada dos reis de Soleria. — O senhor é exatamente como ele me falou. Desculpe, deixe-me apresentar, eu sou Uthred Uricson, um soldado de chumbo, senhor. — Disse se colocando em posição de alerta.

Gaiga se aproximou do viajante e verificou a armadura do forasteiro, que nada fez para repreendê-lo.

— A armadura é de chumbo mesmo, senhor! — Disse meu pai com surpresa. O chumbo era a única coisa imune a todos os tipos de magia, e uma armadura feita completamente daquele metal era algo genial na mente do líder branco. Se xingou por um minuto por nunca ter pensado em nada parecido, mas logo se perdoou tamanha era a raridade daquele material.

— Sim, por isso o nome de soldado de chumbo. — Respondeu com um sorriso para o líder branco, que lhe respondeu com um muxoxo. Nesse momento, o viajante se desequilibrou e quase foi ao chão, tendo a necessidade de se apoiar no barco.

— Não se preocupe senhor engraçadinho. — Começou o rei, retirando o sorriso do rosto do viajante. — Terá muito que explicar, os dois para as masmorras! — Disse olhando para Ragnar, que rapidamente se aproximou de Ulthred junto a alguns soldados. O viajante não ofereceu resistência, quando o General amarrou suas mãos e pernas.

O ser avermelhado se mantinha impassível dentro do barco quando o líder branco se aproximou. Ele possuía grandes olhos amarelados e um sorriso irônico no rosto. Gaiga teve um mau pressentimento ao encarar aquela criatura e sua expressão sarcástica, começava a lhe incomodar. Sabia que ali teriam problemas.

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Sonny se movia nervosamente, pelo salão real. Estava reunido com todos os líderes de Guilda e com o General para uma reunião de emergência convocada pelo rei. Havia um silêncio esquisito, que foi imperativo em toda a viagem da Vila Azul até a Cidade Branca. De tempos em tempos olhava para a grande escada, que levava até os aposentos do segundo andar, na expectativa de Gerard logo aparecer para iniciarem o interrogatório com os dois viajantes.

No andar de cima,Gerard se permitiu descansar por alguns instantes. Havia se certificado de que os prisioneiros estavam entregues as masmorras e de que seus líderes estariam bem confortáveis e alimentados no andar de baixo. Deu-se esse momento, não pelo motivo de estar cansado da longa viagem, nem por estar perplexo de todos os acontecimentos do dia. Mas sim porque sabia que no momento em que entrasse naquela masmorra e interrogasse os dois prisioneiros, toda a vida pacífica de seu reino iria acabar. Ainda não sabia quais eram os seus negócios em seu reino, mas mesmo assim coisa boa não deveria ser.

No quarto ao lado os meninos estavam a toda, teriam que encontrar algum jeito de conseguirem entrar na masmorra e escutar todo o interrogatório. Roger e Apolônios já possuíam um plano e sabendo disso, Rick não desgrudou dos dois, sendo acompanhado pelo anão de fogo.

De repente ouviram uma movimentação no quarto do rei, decidiram que seria a hora de se posicionarem, saíram pelos fundos do castelo, dando a volta pela parte de trás da construção e passando por cima da masmorra. Apolônios sabia de uma entrada de ar lacrada por uma portinhola de metal, que foi facilmente retirada por Buks, que acertou nos pontos ao qual eram fundidos.

Entraram silenciosamente, para não chamarem a atenção dos viajantes, porém deram de cara com o ser avermelhado, que apenas lhes deu um sorriso maldoso. Aquele ser dava calafrios ao anão. Aquela parte do castelo há muitos anos não eram usadas, possuíam grossas grades feitas de chumbo, material esse que inibe a passagem da magia, o teto e o chão também eram cobertos do metal. O ambiente era escuro e úmido coberto por rochas não trabalhadas. O cheiro de mofo fazia o nariz do anão coçar, mas sabia que um único espirro colocaria todo o trabalho em risco.

Olhavam ao redor buscando o ponto ideal onde poderiam se esconder. Roger se preocupava com o tamanho de seu grupo, que contava ainda com o anão de fogo, seu irmão mais novo, Apolônios e seu melhor amigo Drake. Buscaram uma sombra em uma cela, mas perceberam que não seria o suficiente, pois possivelmente os adultos desceriam com tochas, fazendo com que fossem rapidamente encontrados. Coube a Drake achar uma porta emperrada, mais uma vez o anão conseguiu desemperrar a porta, fazendo um alto barulho, chamando assim a atenção do viajante, que se colocou em alerta por alguns instantes, deixando o detalhe passar logo após não encontrar nada nas sombras.

Viram uma escada que daria a uma despensa a muito não utilizada, perceberam que alí seria um bom local, pois os adultos não os encontrariam. Roger pareceu um pouco mais confortável, mas o nariz do anão começava a pinicar com maior intensidade.

Alguns instantes depois os líderes, o General e o rei finalmente chegaram. Teriam enfim as informações que precisavam.
— Boa noite, senhor soldado de chumbo. — Começou o rei ironicamente. — Mais uma vez lhe peço desculpas, agora pelas acomodações, sabe como é. — Nesse momento o viajante deu uma leve encarada no rei demonstrando que não estaria ali para piadas. — Diga-me, como posso lhe ajudar?

— Conforme eu falei anteriormente, eu sou da Ordem dos Soldados de Chumbo, sediada na Ilha das Guianas, liderada pelo Elfo Eterno Azul. — Nesse momento o rei deu um solavanco e se aproximou da grade de chumbo, olhando para Sonny.

— Liderada por quem? — Perguntou.

— Pelo Elfo Eterno do elemento Água, Senhor. Venho a pedido dele para encontrar o Grande Rei do arquipélago do escudo, venho para encontrar o Senhor. — Disse apontando o queixo para Gerard.

— Esse cara é maluco. — Disse o rei virando-se para Derfel, que lhe deu um sorriso nervoso. — O Elfo Eterno Azul, ilha das Guianas e arquipélago do Escudo. Do que você está falando rapaz? Essas são histórias para crianças! — Disse terminando a frase encontrando o olhar do mago azul.

Os meninos se entreolhavam nervosos, escutando tudo o que acontecia na sala ao lado. Buks era o mais agitado entre todos, estava mais distante da porta e não conseguia ouvir perfeitamente o que era falado, e até o momento, havia trocado alguns empurrões com Apolônios, para tentar tomar o seu lugar.

— Senhor, lhe digo a verdade. Se procurar em meus artefatos, verá que tenho um presente para o líder azul. — O rei olhou desconfiadamente para o viajante.

— Estou pensando algo. Você sabia meu nome na praia, sabe de nosso esquema de Guildas, e sabe até nossas formas de falar. Como sabe de tudo isso?

— Conforme eu disse anteriormente. — Começou o viajante já se irritando de ter que explicar tudo novamente. — Fui indicado pelo Elfo Eterno a vir aqui, o mesmo me alimentou de informações suficientes a respeito do reino e de seus habitantes. Inclusive apenas consegui localizar a ilha, através do sinal prateado, enviado aos céus pela morte do Dragão de Metal. — Rick se desequilibrou na escada, quase caindo, fazendo um pequeno barulho que chamou a atenção de todos.

— Ratos. — Resmungou Ragnar, dando uma leve piscadela para Abil, que já havia sentido a presença dos meninos, porém, achou melhor não comentar naquele momento.

— Solidificação de luz, certo? Não é uma magia que se vê todo dia. Quero conhecer seu filho, senhor Gaiga. — Disse olhando para o líder branco, sendo respondido com outro muxoxo. Aquela afirmação causou um frio na espinha de Rick. Lembrou-se de mim naquele momento, em como seria vital a minha presença ali. Gostaria de discutir tudo o que conseguiriam adquirir de informações após aquele encontro. Mesmo sem perceber, o pequeno príncipe recebeu um olhar carinhoso do irmão, que sentiu sua angústia.

— Você é espertinho, não é? Vem ao meu reino com meia dúzia de informações a nosso respeito e quer bancar o sábio. — Começou o rei com a fúria lhe tomando a mente.

— Pelo contrário Senhor, conforme eu havia falado. — O viajante foi bruscamente interrompido pelo rei.

— Cala a porra da sua boca! Eu juro que a próxima vez que repetir isso, vai conhecer o fio de minha espada! — Disse puxando Luminus, a espada forjada por Maria.

— Desculpe-me senhor, se buscarem em meus itens, existe um embrulho de pano. Por favor, peguem para mim. — Coube a Maria, pegar o embrulho e entregar ao rei. — Pode abrir. -Gerard começou a retirar o pano cautelosamente, atento a qualquer perigo mágico ou armadilha, porém, ao despir o item teve uma incrível surpresa, e o jogou rapidamente para Sonny.

— Uma gema azul. — Disse o líder. — Isso é impossível! Somente os Elfos Eternos conseguem fazer esses itens de poder. — Continuou incrédulo, observando a pedra azul brilhar com intensidade em sua mão.

As gemas elementais são itens de raridade absurda, até nos dias de hoje. São confeccionados pelos elfos eternos a partir de seu próprio poder. Naquela época eu já havia utilizado a gema que era dada a todos os líderes brancos, quando batalhei contra o Dragão de metal. E só por conta do poder por ela me oferecido, eu havia conseguido matar a fera.

— Luz da verdade nunca brilhou assim comigo. — Resmungou Gaiga.

— Você quase não usa aquilo. — Respondeu de má vontade o rei, silenciando meu pai.

— É um presente para você Sonny, o Elfo eterno disse que seria algo que você entenderia. — Todos olharam para o misterioso líder azul, enquanto ele pensava em todo aquele enigma.

— Acredito que não tenha vindo aqui, apenas para dar a gema. — Perguntou Gaiga. — E qual a história do seu passageiro. — Disse apontando para o ser de pele avermelhada.

— Esse é Amiel, servo da mentira, Sub— comandante das tropas do mundo inferior. Ele também seguia a luz prateada, tentando localizar o reino. Acredito que pelo tempo eles já devem ter localizado a ilha, o que reflete o meu objetivo aqui. — Disse Ulthred demonstrando paciência, enquanto todos encaravam o ser do submundo, que fazia uma cara de entediado. — O Elfo Azul, fez uma previsão que dentro de mais ou menos um ano o mundo inferior irá fazer um ataque contra a superfície.

— Um momento, por favor. — Começou a anã. — O que seria esse mundo inferior? E porque eles fariam um ataque a superfície.

— Isso é história há muito perdida, o que sei é que a muito tempo atrás eles foram banidos para viverem debaixo da terra e desde então, eles tentam armar a invasão e tomar o seu lugar na superfície. Acredito que o Elfo Azul saberá explicar melhor isso. De seis meses para cá isso tem se tornado realidade, eles conseguiram acesso a ferramentas que conseguem fazer o transporte do subsolo para a superfície e agora eles trabalham em uma máquina que conseguirá fazer isso em grande escala.

— É só ficarmos próximos ao buraco e cortar a cabeça desses imbecis. — Disse Ragnar dando uma piscadela para Amiel, que lhe respondeu com um riso rápido.

— Não é tão simples General. — O viajante chamava a todos pelo nome ou cargo e aquilo os deixava desconfortáveis, já que haviam acabado de conhecê-lo. — Acredita-se que a população total do mundo inferior se equipare a uma sociedade cem vezes maior do que a nossa. Eles vivem embaixo dos oceanos, embaixo dos continentes. Eles possuem muito terreno, porém, os alimentos são escassos. Por isso eles precisam tomar a superfície.

— E como a população deles é muito extensa, precisam eliminar todos na superfície. — Concluiu Derfel.

— Exatamente. A minha missão aqui é redescobrir o continente lendário e convencer o Grande Rei do Arquipélago a formar uma equipe e reunirmos o exército do mundo para combatermos os seres do mundo inferior. -Todos se entreolharam em um silêncio assustador, até entre os meninos a respiração era lenta, enquanto o viajante jogava tudo o que ocorria em cima da mesa.

— No caso você, disse que eu seria esse Grande rei do arquipélago? — Perguntou o rei, sendo respondido positivamente pelo viajante. — Então você sugere que eu pegue um barco igual ao seu e que vá com você atrás de soldados. — Ulthred novamente fez que sim com a cabeça. — Entre nos lares de centenas de pessoas, que possivelmente não sabem nem da minha existência e os cobre a lutar uma batalha que pode acontecer ou não. — Ulthred engoliu a seco tudo o que o rei havia falado, tinha percebido que jogara muita informação de uma só vez. Falando daquele jeito, tudo realmente parecia de uma estupidez tamanha.

— O senhor pode pedir para que o mago azul veja o futuro. — Finalmente respondeu o rapaz, com certa arrogância. Gerard olhou para Sonny, que se preparava para subir e pegar um bocado de água. — Não será necessário, olhe pela gema. — O líder encarou com certa magoa o rapaz preso e finalmente se concentrou na pedra que estava em suas mãos.

— Como você sabe tanto a respeito disso? — Perguntou Derfel.

— Já ví o elfo fazer isso antes. — Respondeu o rapaz com um tímido sorriso no rosto.

Todo um ritual foi feito para que ele conseguisse se conectar diretamente com sua fonte mágica. O líder azul era o único que conseguia prever o futuro com certa assertividade em todo o reino. Porém, naquele dia foi diferente, a gema lhe concedeu um poder absurdo, e conseguiu se conectar com o elemento com uma facilidade com a qual não pode acreditar. Precisava quase que entrar em transe, de tanta magia que era gasta no processo, mas naquele instante ele estava totalmente lúcido de tudo o que acontecia ao seu redor.

— Eu vejo duas comitivas, uma indo para o Leste e outra indo para o Oeste. Vejo Soleria em chamas, com criaturas parecidas com Amiel, vejo que tudo o que diz tem sentido senhor Ulthred. — Aquilo gerou um incomodo entre todas as pessoas que ali estavam, pois grande parte das decisões importantes do rei eram baseadas em cima dos presságios do líder azul, e finalmente ele havia dito que o viajante seria confiável.

— Soleria em chamas? — Perguntou o rei lentamente. — Eu sabia do arquipélago, isso é uma história muito antiga, para alguém tão novo. — O rei encarava o viajante, enquanto digeria todos os fatos.

— Não existe uma maneira de escaparmos dessa guerra? — Perguntou a anã, sendo respondida com um sacudir de mãos do viajante. Nesse momento Derfel se virou para Amiel, o encarando.

— E você não tem nada a dizer? — O ser do mundo inferior apenas sorriu.

— Já sabemos a localização do reino lendário, será apenas uma questão de tempo até que tenhamos a tecnologia certa para trazermos nosso exército. Vai ser uma delícia matar a todos vocês. — O mago negro ficou extremamente nervoso com o relato do ser avermelhado, partindo para cima da grade, sendo rapidamente impedido por Ragnar.

— Existe mais uma coisa que precisam saber a respeito desses animais que vivem embaixo da terra. — O viajante explicava encarando o ser avermelhado, que rapidamente perdeu o sorriso ao ser chamado de animal. — Eles não possuem poderes elementais, como nos da superfície. — Roger fez sinal para que Rick prestasse atenção no que o viajante falava, mas não era necessário, todos os meninos nem respiravam com tantos fatos emocionantes. — Os poderes deles são diversos, podendo ser mentais, força física avançada e alguns seres nem humanoides parecem. Esse aí, por exemplo, é capaz de entrar na mente das pessoas e comandá-las através da força de seu pensamento, assim como é capaz de ler seus pensamentos. É chamado de telepata, sendo um dos melhores do mundo inferior. Mas a fraqueza deles ainda é o chumbo, por isso o tenho amarrado a essas correntes feitas de chumbo, que são capazes de anular todo o poder conferido a eles.

— Então como venceremos? — Perguntou a anã.

— Temos informações que não são todos que possuem um poder desenvolvido como o de Amiel, a imensa maioria, nem poderes possuem. Mesmo assim são extremamente perigosos, temos que ter cuidado. — Respondeu Ulthred.

Todos pareciam cansados com toda a aventura que o dia havia lhes proporcionado. Tinham informações o suficiente por enquanto e precisavam raciocinar a respeito de todo o ocorrido. Os meninos, que escutavam a tudo através da escada ficavam em silêncio sem poder acreditar em tudo aquilo que era falado. Já os líderes se entreolhavam nervosamente, buscando alguma idéia que poderia tirá-los do caos que o viajante lhes previa.

— E então, qual o próximo passo a ser tomado? — Perguntou finalmente meu pai, que por incrível que pareça ficou quieto a grande maioria do tempo. Em sua mente, nada daquilo realmente importava no momento. Queria apenas ir para casa e continuar com a minha cura.

— O ideal seria fazer duas comitivas, assim como Sonny previu. Uma passando pelo Oeste e outra pelo Leste. No Arquipélago do Escudo, possuímos dezesseis ilhas, mas nosso objetivo principal é nos reunirmos nas Guianas, depois de todo o exército convocado. Tenho um mapa nas minhas coisas, se puderem pegar, podemos traçar toda a estratégia.

— Acredito que não. — Disse o rei, apontando o queixo para o ser de pele avermelhada. — Faremos isso amanhã, Rag tire-o daí. Hoje você é um hóspede real.

Momentos depois, todos subiram em silêncio, teriam a noite para digerir tudo o que foi jogado em cima deles. Já era tarde, e como precisariam estar novamente no castelo na parte da manhã, todos os líderes dormiram na morada real, menos Gaiga e Ragnar que moravam próximos. O rei não confiava totalmente no viajante, na verdade o que ele queria mesmo, era que seus líderes estivessem ali, caso Ulthred fizesse alguma coisa.

Os meninos esperaram algum tempo antes de sair do esconderijo. Drake, Rick, Roger e Buks encararam Amiel, trancado em sua cela e o príncipe chegou a colocar a mão em Dente de Dragão, sendo interrompido pelo irmão mais velho. Os três saíram, deixando Apolônios para trás. O jovem observou bem a criatura de pele avermelhada e cuspiu dentro da grade, obtendo como única reação um sorriso irônico.

— Parece que não é de falar muito. — Disse o rapaz.

— No momento certo, irei dizer as coisas certas. — Respondeu Amiel.

— Isso vamos ver. — Encerrou o rapaz, já saindo da masmorra e seguindo o seu grupo.

— Com certeza, minha adorável marionete. — Completa Amiel encostando a ponta do dedo na saliva do rapaz e logo depois a colocando em sua boca.

Observei meus netos por um momento e ví que todos tinham os olhos arregalados, igual ao nosso pequeno grupo naquele dia. Era incrível como aquelas pequenas matracas, que não calavam a boca o dia inteiro conseguiam se prender naquelas histórias.

Vendo meu devaneio, Arthur pareceu se livrar de um transe.

- Agora estou ligando os nomes as pessoas. — Ele chamou minha atenção. — Apolônios... ele que foi o traídor que roubou a Octa gema.

- Apolônios foi uma das pessoas mais fracas que eu conheci em minha vida.

- Mas ele roubou a Octa gema. — Questionou Arthur, fazendo com que os outros dois não entendessem nada.

- O que te torna forte, não é o poder que possui. E sim as decisões que você toma. — Arthur me encarou por um momento entendendo o que eu havia acabado de falar.

- Foi assim que a guerra do Arquipélago se iniciou. — Elric me olhou enquanto eu o respondia positivamente com a cabeça.

- E você vovô....— JP chamou a minha atenção. — Cadê você, nisso tudo??

- Ele estava ferido com a batalha. — Respondeu Arthur. — O que aconteceu depois?

- Quero a parte da briga logo.. — JP disse esfregando as mãos ansiosas.

- Vamos chegar lá. — Respondi prendendo a atenção de todos a minha história novamente. 

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