Alec narrando:
Meus olhos estavam fechados, eu ouvia passos se distanciando de mim, meus amigos que por mais que achassem plausível a teoria de que "a coisa" tomou o controle de mim, eles ainda me culpam pelo que aconteceu com Maya. E eu, de certo modo, concordo.
Vocês devem estar me perguntando: Você está com a síndrome de Maya, não é?
Não. Não estou, não. Mas, percebi que a coisa só nos manipula quando tem uma emoção base para trabalhar. Eu senti raiva quando vi que Maya feriu Hill. Mas, não aquela raiva ensandecida. Não. Aquela raiva do tipo: Qual é o seu problema, cabeça de vento? Ficou louca?
Eu vi de imediato que não era de propósito, pois Maya quase tava dando um treco. A culpa realmente é minha.
Vocês devem estar me perguntando: Tem certeza que você não está com a síndrome de Maya?
Tenho sim, podem ficar tranquilos! Mas, a questão que eu quero ressaltar é que se eu não tivesse sentido raiva, isso não teria acontecido. Pois, justamente, a coisa precisa de um sentimento base para causar a discórdia. Sem sentimento base, sem discórdia. Entenderam? Eu dei vazão para que isso ocorresse. E de novo: não estou com síndrome de Maya, não estou me culpando sem razão.
Maya!
Eu não quero nem imaginar o que deve estar acontecendo com ela. Só de pensar me dá calafrios e uma raiva incomensurável sobre o ser dos infernos - que não tem o que fazer - que está causando isso. Só sei de uma coisa:
Tô ferrado! Maya não vai querer me ver nem pintado de ouro!
Até a teimosa me ouvir que eu não tenho muita culpa no cartório... Ela vai me torturar até no submundo! Mas, como diz a senhora minha mãe: Um problema de cada vez. Eu primeiro tenho que achar a bichinha pra depois ela me torturar pro resto da vida. Talvez se eu jogar charminho nela ela me perdoe. A quem eu quero enganar? Eu tô morrendo de medo da baixinha. Por que ela tinha que ser logo filha de Poseidon? Logo do deus mais vingativo que eu conheço. O pior que ela é igualzinha ao pai. Eu tô morrendo de medo! A baixinha quando quer é pior do que o cão chupando manga!
Calma, Alec. Uma coisa de cada vez!
Eu me levantei em um impulso rápido e caminhei até Angel que limpava a espada de Maya com afinco. Ela continuou fazendo sua tarefa, tendo plena consciência de que de eu estava na frente dela e, mesmo assim, ele continuou a me ignorar.
"O que você quer?" Ela perguntou ainda sem me encarar. Eu me ajoelhei em frente dela para ela ver o meu rosto. Ela olhou pra mim entediada, deixando claro o seu desgosto em conversar comigo.
"Eu sei que você está enfezada comigo. Mas, você precisa esquecer isso, há um problema maior a ser resolvido. Temos que procurar a Maya." Eu falei com seriedade, tentando ignorar toda aquela hostilidade.
"Ah, não diga?! O que você acha que iremos fazer então?!" Ela falou sarcástica, revirando os olhos em desgosto.
"Esse é o problema Angel. É o iremos. Isso tem que ser feito já! A cada minuto que se passa algo acontece com ela! Não podemos ficar de braços cruzados, temos que agir agora!" Eu falei me pondo de pé em um movimento rápido, falando alto o bastante para todos ouvirem. Ela se colocou de pé, me encarou e me deu um sorriso falso.
"Touché! Mas, o que devemos fazer, ó grande sabe-tudo?!" Ela falou com o sarcasmo pingando de suas palavras.
Ethan, Brad e Audrey se aproximaram de nós, curiosos para saber em que essa conversa iria dar. Eles me encararam exalando seriedade e uma pitada de frieza. Eu olhei pra Hill que estava sentada e mais disposta após a sua noite de sono. Era a única que não agia com frieza para comigo, apesar de ela me achar completamente imbecil pelo que eu fizera para Maya.
"Eu tenho uma teoria que venho pensando há muito tempo." Eu comentei, olhando para todos eles. Eu coloquei a mão na nuca e passei a mão pelo cabelo, me sentindo acuado com a atitude hostil, mas disfarçada dos meus amigos.
Apesar de compreenderem que eu estou isento de culpa, que tudo aquilo foi ação da coisa, eles ainda estavam zangados com tudo isto. Eu era o balde expiatório. Eu compreendo isso, pois eu me sinto culpado.
"Então fale! Nós não temos nada a perder." Falou Ethan um tanto impaciente, passando a mão pelos seus cabelos que estavam mais compridos que o normal.
Isso parece uma juba.
"Ok, eu vou falar. Todos viram a inscrição em grego antigo da passagem para este labirinto, certo?" Eu perguntei inexpressivo, vendo a melhor maneira de contar meu ponto de vista.
"Sim, nós vimos. E?" Falou Audrey com cara de poucos amigos.
"E se a saída para este lugar fosse fora do comum. E se fosse em um lugar que ninguém pensou, em um lugar não tão óbvio assim, totalmente inesperado. E que devido a isso poucos saíram daqui." Eu falei deixando alguns pensativos e outros céticos.
"Esse lugar seria o quê? Um limbo? Que só serve para nos atrasar e nos deixar cansados mentalmente? Um lugar para nos fazer desistir dessa missão e nos dividir de dentro para fora. É isso que você está pensando?" Perguntou Angel um tanto amedrontada.
"É exatamente isso. Este lugar só serve pra nos desgastar em todos os aspectos possíveis. Fisicamente, com monstros que não são um desafio, mas sim algo para nos cansar. As relações entre o grupo. Mas, principalmente, psicologicamente. Tudo aqui foi pra nos desestabilizar mentalmente. E convenhamos que a mais afetada disso tudo foi a Maya." Eu falei sério, com um aperto no coração.
"Porque o alvo é a Maya. Isso não tem mais haver com escudo de Atenas, isso foi só uma desculpa pra tirar ela da proteção do acampamento. É ela que a coisa quer desde o início. Será que vocês não perceberam que o que aconteceu ontem só foi o ápice pra tirar ela de nós ontem. Nós éramos a defesa final dela. O objetivo dessa passagem era nos separar, tirar nossa proteção." Hill começou a falar como quem teve uma epifania.
"Um inimigo que não tem fraqueza física você ataca o que?" Brad perguntou retoricamente para nós.
"O psicológico. Maya não tem fraquezas físicas, ela é tão poderoso quanto Poseidon. Atingir o psicológico dela foi a única maneira de deixá-la fraca e fazer com que nós abaixássemos a guarda. E ela nunca contava nada pra gente, sempre guardava tudo pra si de modo que só percebemos o perigo quando ela explodiu. Com essa mania idiota de querer nos poupar de seus problemas ela foi se sufocando até não aguentar mais e nós não conseguimos mais proteger ela." Angel exasperada passando a mão nos cabelos de modo quase agressivo. Brad colocou suas mãos sobre os ombros dela e ela se acalmou.
"Quem está atrás de Maya a conhece muito bem ao ponto de prever o seu comportamento. E agir nos momentos certos. Ou inimigo é mais próximo dela do que imaginávamos ou ele a observou por anos, ao ponto de a conhecer muito bem." Falou Ethan pensativo, olhando de um modo indecifrável para Audrey que respondeu o seu olhar.
"A questão é: por que toda essa obsessão por Maya? Por que ele quer atingi-la? E qual é a relação entre a arma roubada e esse inimigo?" Perguntou Audrey séria, sem saber responder essas perguntas.
"Nunca antes houve tal caçada atrás de um semideus, ainda mais com essas proporções." Falou Hill como quem sabia da resposta.
"O que você sabe, Hill?" Eu perguntei curioso, olhando diretamente pra minha irmã. As faces de minha irmã ganharam uma certa sobriedade, ela sabia da resposta.
"Eu sei que, desde que existe o Olimpo, nunca um deus concedeu todos os seus poderes à um semideus. Maya é única, ela não é só a primeira filha de Poseidon, ela é sua herdeira." Hill falou como quem fala por enigmas.
"O que isso significa?" Perguntou Angel para ela.
"Vocês não perceberam? Eles querem afetar Poseidon. Atingí-lo onde mais dói." Hill falou com o rosto sombrio.
O rosto de todos ficaram num misto de surpresa e de raiva. Angel ficou transtornada. Mas, isso não durou muito. Seu rosto endureceu, esboçando nada menos que raiva e uma determinação férrea. Ela marchou até mim com imponência e me perguntou:
"Onde é a saída dessa droga de lugar?" Ela perguntou como alguém que iria derrubar um tanque.
"Você não vai gostar." Eu avisei com cautela, escolhendo muito bem as palavras. Pois, eu sei que quando Angel entra no modo de destruição em massa, ela não sabe controlar os seus ânimos. Prova disso é o olhar de fogo que acabou de acender, dando mais um indício de que ela entrou nesse modo.
"Que se dane se eu não vou gostar agora me aponta aonde é!" Ela falou imponente, com uma enorme carranca no rosto.
"Ok. Você quem mandou. A saída é por ali." Eu falei, apontando pro enorme buraco no centro da clareira.
"Você deve estar brincando." Falou Ethan dando uma risada.
"Não. Não estou, não. Bem que queria estar. Alguma ideia de como descer esse troço? Brad?" Eu falei um tanto zombeteiro.
"Desculpa, cara. Mas não faço mínima ideia. Nem tem como eu criar estacas pra descer." Ele falou coçando a cabeça, com um pequeno sorriso sem graça.
"O que vocês estão loucos? Descer aquilo ali?" Gritou Ethan exasperado.
Angel foi atrás de sua bolsa, ela colocou nas costas colocou a espada de Maya junto com a sua no cinto e se virou pra nós.
"Deixem de serem moles, homens. Nós somos semideuses! É só pular."
"Vai na fé, então." Falou Ethan maroto.
"Tudo bem." Falou Angel dando um sorriso presunçoso. E pulou.
"Vocês são uns frangotes, hein! Esperava mais de você, maninho." Falou Hill balançando a cabeça em desgosto.
Audrey foi até ela e se juntou na zoação.
"Esperava mais de vocês todos! Vocês são de cristal?" Disse Audrey marota, com um meio sorriso nos lábios.
"Angel vou acender a luz pra você ver onde termina." Falou Hill e acendeu uma enorme bola de fogo.
"Valeu amiga! Esse troço é muito fundo mais tá tranquilo." Falou Angel ao longe.
"É caras parece que elas ganharam de dois a zero. Vamos logo!" Eu falei me juntando às meninas.
"Tá chegando o fundo." Gritou Angel, se preparando para pousar. E, logo nos ouvimos um grande estrondo. Ela pousou perfeitamente. Ela se pôs de pé e gritou:
"Eu estou viva! Podem vir seus cagões." Ela gritou sarcástica.
"Minha vez." Eu falei para eles.
"Vai na fé. Pois, eu não sei se vou não." Falou Ethan brincalhão.
"Vai cagão!" Eu falei, pegando minha bolsa e pulando.
Eu não ouvia nada, a não ser um vento ruidoso que soprava em meus ouvidos. A queda parecia ser de uns trinta metros de altura. Eu vi Angel se afastando para dar espaço para eu pousar no chão que se aproximava a cada instante. E ouvimos um grande estrondo, que foi eu pousando no chão.
Angel logo me puxou pelo braço me tirando do precipício.
"Dê espaço para eles pularem." Ela falou me levando pelo que parecia ser uma caverna.
"Uou! Você viu isso? É a luz do dia!" Eu falei admirado.
"É parece que você acertou no palpite. Achamos a saída!" Angel falou animadamente.
Os outros depois de um tempo pularam, até mesmo Ethan que só pulou depois de Audrey voltar para clareira e o empurrar. Todos nós saímos da caverna, da escuridão.
Nós encontramos uma praia deserta e o mar estava agitado. Nós sorrimos uns para os outros, por saber que concluímos mais uma etapa da missão, por saber que conseguimos isso juntos. Por saber que não há nada que não possamos enfrentar se estivermos juntos.
"Alguém faz idéia da onde estamos?" Perguntou Hill tirando os sapatos e tacando eles longe. Depois de largar a mochila, começou a pular as ondas do mar com Audrey. Todos nós rimos com a cena.
"Não mais ainda estamos no hemisfério norte." Disse Angel como quem tinha certeza. Eu não duvidei, ela tinha mais experiência do que eu em missões.
"O que fazemos agora? Eu perguntei para ela."
"Vamos procurá-la, ela precisa saber que não está sozinha. Nós vamos ajuda-la a matar a coisa. Ela vai aprender que sempre iremos ajuda-la, que ela não precisa carregar o mundo em cima das costas. Ela não está sozinha!" Angel falou olhando para o céu.
"Sim, vamos procurá-la." Eu falei olhando para o mar azul.