Meu Estranho Mafioso

By AiNagaba

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Natsu Dragneel. Para você esse parece um simples nome, porém para Lucy Heartifilia foi a razão de todos os pr... More

Um
Dois
Três
Quatro
Cinco
Seis
Sete
Oito
Nove
Dez
Onze
Doze
Treze
Catorze
Extra: Minha Luz
Quinze
Dezesseis
Dezessete
Dezoito
Dezenove
Vinte
Contos de Ultear
Vinte e um
Vinte e dois
Contos de Ultear
Vinte e três
Vinte e quatro
Contos de Ultear: Especial Igneel
Vinte e cinco
Vinte e seis
Vinte e sete
Contos de Ultear: Especial Igneel
Vinte e nove
Trinta
Trinta e um
Contos de Ultear
Trinta e dois
Trinta e três
Trinta e quatro
Trinta e cinco
Contos de Ultear
Trinta e seis
Trinta e sete
Contos de Ultear
Trinta e oito
Trinta e nove
Contos de Ultear: Especial Igneel
Quarenta
Quarenta e um
Extra: Gentileza
Quarenta e dois
Quarenta e três
Extra: Problema
Quarenta e quatro
Quarenta e cinco
Quarenta e seis
Quarenta e sete
Quarenta e oito
Quarenta e nove
Cinquenta
Cinquenta e um
Extra: Antecipação
Cinquenta e dois
Cinquenta e três
Cinquenta e quatro
Cinquenta e cinco
Cinquenta e seis
Cinquenta e sete
Cinquenta e oito
Epílogo
Curiosidades de Meu Estranho Mafioso

Vinte e oito

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By AiNagaba

SIM. Meredy estava falando sério quando disse que não nos deixaria em paz em momento algum.
        Deixe-me citar alguns momentos:

        a) Natsu e eu estávamos tomando nosso café da manhã juntos e abaixei meus olhos para a refeição por três segundos, quando voltei a levantá-los, Meredy havia posto uma cadeira ao lado do irmão e me olhava assustadoramente.
        b) Natsu e eu estávamos fazendo as lições de férias (geme de tédio), e meu lápis caiu no chão. Como estava chovendo, estávamos embaixo de um grosso cobertor. Quando voltei à superfície, lá estava ela! No meio de nós dois! E o pior: eu nem a sentira se espremer entre nós!
         c) Esse acontecimentos continuaram a ocorrer durante toda a semana e eu já estou, sinceramente falando, farta de tudo isso.

        Não. Não estou falando sobre o fato dela ser uma adolescente incestuosa que sonha com o irmão mais velho. Estou falando do fato dessa praga — sinto muito por utilizar essa palavra, porém é o que melhor a representa — não me deixar em paz em momento algum. Sua última "proeza" foi entrar no meu quarto durante a madrugada e, com um batom caríssimo da Ultear-san rabiscar em todas as paredes do quarto escrevendo: "Você é ridícula!"; "Eu te odeio!"; "Bruxa velha!"; "Quenga!"; entre outras coisas. (Sou boazinha o suficiente para limpar tudo com a ajuda de Virgo antes que Natsu fique sabendo.)
        Na manhã de sexta-feira, descia as escadas desanimada, soltando um longo suspiro.
        — Qual o problema, Lu-chan? — Indagou Levy, postando-se ao meu lado durante a curta caminhada até o quintal.
        — Nada... Somente uma presença rosada que está me enchendo a paciência ultimamente. — Disse.
        — Meredy-chan? — Chutou.
        — Como sabe? — Surpreendi-me.
        — Quando ela vai fazer alguma maldade com você, volta cantarolando pelo corredor do meu quarto: "só mais um pouco para a bruxa quenga velha ir embora".
        — Um amor. — Elogiei, azeda. Levy apenas riu da situação.
        — Você parece estar bem cansada. — Observou, olhando para as árvores do jardim.
        — E estou! Meredy está me tirando do sério! Não entendo como Natsu não acorda de manhã, quando ela vai até meu quarto e começa a bater tampas de panelas.
        — Ele não acorda? — Surpreendeu-se. — O quarto dele é ao lado do seu!
        — Exatamente! — Exclamei, exasperada. — E...
        — E? — Incentivou-me a continuar.
        — Não acho que quero vê-la tomar uma bronca do irmão. Sua expressão triste é chocante e... acho que vou chorar se voltar a vê-la.
        — Lu-chan, você é muito bondosa. — Elogiou a azulada. — Perdoa as pessoas facilmente.
        — Tem como não perdoá-la? Meredy era uma criança até três segundos atrás praticamente. Adolescentes fazem dramas, não estou certa?
        — Do jeito que fala, nem parece que também é uma.
        Soltei uma risada fraca.
        — No entanto... — Continuei. — Estou me sentindo meio... sabe... carente. A única pessoa que conversei bastante ultimamente foi Virgo. Ela é um amor de pessoa, porém aquela mania de querer que a punam é meio...
        — Parece difícil... — Concordou, cruzando as pernas sobre a grama onde estávamos sentadas. O dia estava claro, mas mesmo que o Sol estivesse brilhando fortemente no céu, faziam muito frio. De repente, seus lábios estenderam-se em um sorriso e uma luz empolgada piscou em seus olhos. — Já sei!
        — O quê? — Assustei-me com sua explosão repentina. A azulada havia levantado e agora me encarava com um sorriso misterioso na face.
        — Tenho algo que provavelmente vai animá-la, Lu-chan! Ou não, visto que sua situação atual é meio... — Observei-a, a curiosidade começando a despertar vagamente.
        — O que é? — Indaguei.
        — Na-na-ni-na-não. — Mexeu o indicador em frente ao meu rosto em um gesto negativo, enquanto repousava a outra mão na cintura fina. — É uma surpresa! Aliás, eu já tentei lhe entregar isso antes, mas... — Calou, perdendo-se em seus pensamentos.
        — Levy-chan! — Chamei-a, dando um puxão na barra da saia que trajava.
        — Hun? Ah! — Voltou à realidade. — Desculpe! Vou buscá-la e já volto! — Começou a correr para dentro da mansão. — Não saia daí!
        Soltei um suspiro exasperado.
        O que será que ela tinha para me mostrar?
        ... Já tentou me entregar antes?
        Droga! Agora ela conseguiu atiçar minha curiosidade!
        Esperei em silêncio por ela, lendo o livro que havia levado junto comigo. Acabei me deixando levar e só percebi que ela ainda não havia voltado quando meu estômago começou a roncar alto. Não percebera, porém já passava do meio dia e o tempo começava a fechar novamente. Ultimamente ele está assim. De manhã faz sol, à tarde o tempo fecha e à noite chove muito. Magnolia é bem estranha com seus climas.
        Fui tomada por uma onda de irritação ao lembrar-me que Levy-chan não havia voltado como prometera, enquanto voltava para a mansão.
        Ela vai levar uma boa de uma bronca; foi o que conclui ao começar a subir os degraus.
        — Oh! — Ouvi alguém exclamar em tom irritado. Ao olhar para trás, percebi que era a azulada que Gray andava evitando nos últimos dias.
        — Err... Juvia... chan? — Lançou-me um olhar mortal e imediatamente me calei.
        — Você. — Disse em tom incrivelmente seco. — Deveria ir embora. É o que a Juvia acha.
        — O quê?
        — Não bastasse estar querendo roubar o Gray-sama da Juvia, agora quer roubar o Natsu-san da Meredy-san!
        — Desculpe, como? — Nunca havia ouvido coisa mais absurda. — Roubar?
        — Exatamente.
        — Certo, Juvia-chan, olhe aqui... Desde a primeira vez que nos vimos, tenho a "leve" impressão de que você não gosta de mim.
        — Isso é porque você tem olhos desejosos para cima do meu Gray-sama!
        — Não tenho não!
        — Tem sim! Avaliou o Gray-sama desde a primeira vez.
        — Por favor! — Implorei. — Eu vejo o Gray como um irmão mais velho!
        — Então Lucy-san admite que esteve de olho no Gray-sama!
        — Certo Juvia, me ouça. Eu não tenho interesse nenhum no Gray. Você pensar isso só prova o quanto é insegura a respeito de você mesma e não tem confiança que os sentimentos dele sejam honestos.
        Retesou-se, olhando-me chocada e surpresa.
        — Juvia não... desconfia dos sentimentos do Gray-sama.
        — Não mesmo? — Indaguei. Eu devia essa ao Gray. Ele que me animou quando ocorreu aquele acidente com o Sting. Arrumaria as coisas para ele ou pelo menos deixaria mais fácil.
        — Então por que enlouquece toda vez que ele está perto de alguma garota? Por que envia tantas mensagens e liga tanto para ele? Por quê?
        — Juvia....
        — Isso não mostra que você é insegura sobre você mesma e a relação dos dois?
        — Juvia não...
        — Se continuar desse jeito, Gray vai realmente se afastar de você. — Conclui, fria.
        Observei sua expressão mudar. Primeiro o choque, em seguida a surpresa, a confusão, angustia, tristeza e, por fim, a razão. Lágrimas começaram a rolar por sua face e ela tentou limpá-las em uma tentativa falha. Cobriu o rosto com as mãos e tratou de ceder sobre os joelhos, começando a chorar descompassadamente.
        — Vo-você está certa! — Admitiu. — Se Juvia continuar assim, Gray-sama a odiará!
        Caminhei até ela e agachei, segurando seus pulsos medianamente e forçando-os a se separarem.
        — Deixe de ser boba. O Gray a ama e tenho certeza que, mesmo cansado da situação, continua a amando. Só tente não ser tão possessiva, okay? — Sorri para ela, que tinha as bochechas levemente corada.
        — Lucy-san... É realmente uma boa pessoa, não?
        — Eh?! — Surpreendi-me. Andavam dizendo isso com bastante frequência...
        — Por isso que o Gray-sama gosta dela! — Afirmou e foi minha vez de corar. — Ele jamais amaria alguém como a Juvia, que tentou afogar uma amiga de infância dele.
        — Eh?! — Repeti, desta vez chocada. Ela tentou afogar alguém?
        Okay. Eu simplesmente esqueço que eles são, no fim, parte da máfia.
        ... E que namoro o líder deles.
        Oh céus! O que estou arrumando para mim?
        — Lucy? Juvia? — Indagou o dito cujo, aparecendo no corredor. Lançou um olhar interrogativo para nós, avaliando nossas posições e observando fixamente o rosto de Juvia.
        — Gray! — Exclamei. Ele correu em nossa direção, passando diretamente por fim e segurando os ombros de Juvia.
        — Hey! Juvia! O que foi?
        — Gray-sama! — Guinchou, abraçando-o e enfiando sua cabeça no peito dele. — Desculpe a Juvia, por favor!
        — Pelo quê? — Indagou confuso.
        — Por tudo! Juvia tem sido muito obsessiva e chata ultimamente! Lucy-san a fez enxergar isso! Não quero que o Gray-sama me deixe!
        Arregalou os olhos, surpreso. Soltou um suspiro satisfeito, deixando um sorriso escapar pelos lábios.
        — Tudo bem. Fico feliz que tenha entendido isso. — Levantou seu queixo depositando um beijo nos lábios da azulada.
        Ela enterrou o rosto no peito dele, ainda fungando. Levantei-me com a intenção de afastar-me, e pude vê-lo murmurar um "obrigado" em minha direção. Acenei afirmativamente com a cabeça e segui em frente.
        Caminhei até uma distância segura e desabei no chão.
        Também queria que alguém me abraçasse daquela forma. Com o mesmo carinho e ternura.
        Aquele dia estava chegando...
        Ter meu ex aqui faria um bem danado. Geralmente nessa época, ele fazia de tudo para me animar...
        Sim, seria bom tê-lo por aqui.

✩✩✩

        Continuei meu caminho até meu quarto, adentrando o local e já me preparando para as possíveis pichações que poderia encontrar. Porém... não havia nada.
        ... Será que Virgo já havia limpado tudo?
        Joguei o livro na cama e dirigi-me para a sacada, tendo lá uma surpresa.
        O rosado que agora chamava de namorado estava escorado na sacada, dormindo serenamente enquanto a brisa fria do temporal que estava para vir brincava com seus fios rosáceos. Aproximei-me lentamente, abaixando-me ao seu lado em silêncio e observando atentamente seu rosto.
        Ele ficava tão fofo quando estava dormindo. Naquele dia em que nos entendemos completamente, acabei adormecendo em seus braços e não reparando em nada dele.
        Seus fios rosáceos caiam pelo rosto sereno, dando-lhe um ar puro — agora posso entender porque Meredy o acha "puro" —, os cílios eram longos, os ombros largos, sua clavícula dava para ser vista através da abertura da camiseta que usava. Imediatamente comecei a imaginar seus braços musculosos enlaçando minha cintura enquanto beijava meu pescoço delicadamente e...
        ... Oh meu Deus! No que estou pensando?
        Afaguei sua cabeça docemente e percebi seu rosto mudar para um sorriso.
        — Tão fofo. — Murmurei.
        Abriu os lábios um pouco e inconscientemente aproximei-me, tomando-os para mim.
        Sim... Eu estava com saudade. Do seus lábios, do seu cheiro de sua voz... e não faz nem um mês que começamos a namorar. Incrível, não?
        Separei-me sorrindo enquanto continuava com o cafuné.
        — Lucy... — Murmurou, e explodi em vermelhidão. Ele... estava sonhando comigo? Seu sorriso aumentou de tamanho. — Mexa mais a bunda...
        — Esse pervertido! — Irritei-me, retirando a mão de sua cabeça e seguindo de volta para meu quarto. No entanto, fui interrompida pelo rosado pervertido que segurou meu pulso. — Estava acordado?
        — Luce...
        — O que foi?
        Encarava-me pensativo.
        — Não vai continuar com o cafuné?
        — Não mesmo! — Tentei desvencilhar-me de seu forte aperto, porém não consegui.
        Natsu puxou-me para trás, fazendo-me cair em seu colo e enlaçando minha cintura igual havia imaginado a pouco. Corei ao lembrar do devaneio.
        — Lucy... — Deslizou os lábios pelo meu pescoço, fazendo-me sentir um arrepio agradável descer por minha coluna. Apertou minha cintura mais fortemente. — Estava com saudades.
        — Você também? — Gemi involuntariamente assim que ele beijou meu pescoço brevemente.
        — Meredy está me deixando louco com toda essa perseguição. Não tivemos um momento a sós depois daquilo. — Voltou a beijar a base de meu pescoço. Acenei afirmativamente enquanto aproveitava seus pequenos beijos de olhos fechados.
        Continuamos naquela posição durante algum tempo. Somente quando o vento começou a se tornar mais intenso decidimos entrar...
        ... E surprise! Lá estava Meredy, com os pincéis a postos.
        — Onii-sama?! — Estranhou sua presença ao meu lado, lançando-me um olhar assassino. — O que está fazendo com essa succubus?
        — O que pretendia fazer com esses pincéis? — Rebateu.
        — Eu...
        — Natsu é melhor você não... — Tentei interrompê-los, sendo impedida pelo rosado.
        — Não, Lucy. Não é de hoje que Meredy tem feito coisas que não me agradam. Meredy! — Rugiu, assustando a nós duas. — O que você ia fazer com esses pincéis?
        Encarou-o chocada. Os primeiros pingos fortes de chuva começavam a castigar lá fora.
        — Quero que a bruxa velha vá embora. — Afirmou convicta.
        — Por quê? — Natsu parecia começar a ficar irritado. Estava preocupada com o rumo que a discussão levaria...
        — Porque desde que ela chegou você não me dá nem o mínimo de atenção! — Brandiu em um misto exasperado e angustiado. — Você prometeu, Onii-chan! Que não deixaria mais eu me machucar assim! — Largou os baldes e pincéis, enlaçando a si mesma em um abraço. — Então por quê? Por que está me abandonando assim desde que ela chegou?! Eu...
        — Mere... — Tentei.
        — Fique quieta, sua quenga! — Agora foi dominada pela raiva. — Eu... eu... lhe odeio!
        — Meredy, você tem que... — Começou Natsu.
        — Não diga nada! — Gritou. — Não quero ouvir! — Tapou as orelhas. — Não proteja mais ninguém, onii-sama!
        — Meredy, eu...
        — Não! — Interrompeu-o novamente. — Você prometeu! É tudo culpa dela! Eu te odeio! — Lançou para mim.
        — Pare já com isso, Meredy! — Rugiu Natsu, já totalmente revolto. A pequena assustou-se com o tom do irmão. — Não vê que está sendo irritante? Não está vendo que se agir assim ninguém vai querê-la por perto? Não vê... — Engoliu em seco. — Que não posso protegê-la daquele jeito porque arranjei algo mais importante para mim? — Lançou-me um olhar significativo.
        — Mas onii-chan, você prometeu... em nome da mamãe e...
        — Sinto muito! Não poderei cumprir a promessa! — Abraçou-me protetoralmente, esperando pela reação da irmã mais nova.
— Onii... — Estendeu a mão em sua direção, as lágrimas brotando em quantidades mais grossas. — Eu... Eu te odeio! — Gritou saindo correndo em direção ao jardim.
        — Está tudo bem deixá-la ir assim? — Indaguei preocupada.
        — Claro. — Escondeu o rosto de mim. — Ela não pode ficar ligada a uma promessa de infância boba dessas.
        — Promessa? — Perguntei.
        — Ah! ... Ainda não lhe contei. Quando éramos pequenos e nossa mãe morreu, meu pai esteve muito ocupado por causa dos problemas que Aries começou a causar e, como já era grande naquela época, não precisei de muita atenção. Mas Meredy... tinha apenas quatro anos, e estava sozinha. Prometi a ela que não a deixaria só diante os acontecimentos, no entanto...
        — Isso não é importante? Para os dois? — Indaguei.
        — Não. Como eu disse, isso já faz....
        — É claro que é importante! — Berrei, assustando-o.
        — Luce?
        — Deveria pelo menos pedir desculpa apropriadamente para ela! — Velhas e dolorosas memórias voltavam-me a mente.
        Saí correndo, ignorando o "Oe, Luce!" de Natsu. Nada importava naquele momento, a não ser encontrá-la.
        Meredy acreditara na promessa de Natsu. Podia muito bem não ter entendido que o tempo passa e as pessoas mudam, mas ainda acreditava nele. E no fim, o rosado acabou me protegendo...
        Meredy estava sozinha e precisava de alguém. Devia isso a ela.

✩✩✩

        Era vergonhoso admitir, porém estava perdida.
        Faz mais ou menos uma hora que saí atrás de Meredy e, aproximadamente cinquenta e nove minutos, que arrependi-me completamente de minha decisão.
        Estava havendo uma tempestade, encontrava-me completamente encharcada, exausta de tanto caminhar, com fome, sem nenhum agasalho e não via a rosada em canto algum.
        Onde estava com a cabeça quando adentrei aquele bosque enorme que circundava a mansão Dragneel.
        Prendi meu pé em uma pedra, esborrachando-me no chão lamacento, praguejando em voz baixa assim que levantei-me.
        ... Talvez Meredy tivesse voltado para casa.
        Era melhor checar. Poderia ter andado esse tempo todo para nada. Encarei as árvores altas assustada por um trovão ensurdecedor estalar perto dali. Droga! Não sabia o caminho de volta!
        Meredy cresceu ali, com certeza deve saber o caminho de casa. Como pôde ser tão burra, Lucy Heartfilia?!
        De repente, em meio aos rugidos da tempestade, ouvi um choro baixo e mais perto do que imaginava. Atrás de um tronco de árvore encontrava-se uma pequena bolinha humana de cabelo revolto e rosa escuro. Tinha a achado!
        — Meredy...? — Chamei, sentindo-me aliviada ao vê-la erguer a cabeça em um impeto. Seu rosto estava inchado e os olhos muito vermelhos... Será que estivera chorando por todo aquele tempo?
        — O que faz aqui? — Brandiu raivosa, dando um passo para trás.
        — Estava preocupada...
        — Com o que meu irmão acharia? — Encarei-a chocada. Era a primeira vez que não o chamava de "onii-sama". Soltou uma risada descrente. — Não precisa se preocupar. Você, assim como as outras, é só mais uma qualquer.
        Enervei-me com as palavras da pequena. Será que não percebia que estivera a procurando esse tempo todo?
        — Não é isso. — Afirmei, aproximando-me mais um pouco. — Está enganada.
        — O que mais poderia ser? Não teria mais motivo nenhum para vir atrás de mim sem ser querer aparecer-se para meu irmão.
        — Já disse que está enganada. — Soltei exasperada. — É só... que tudo isso... a promessa com seu irmão... Eu entendo.
        Encarou-me chocada e surpresa.
        —... O que você sabe? — Indagou ao mesmo tempo que uma árvore ao nosso lado era atingida por um raio, iniciando assim um incêndio. Sorte que chovia forte daquela maneira, pois isso impediu o fogo de alastrar-se para os galhos de outras árvores.
        — O quê? — Desentendi-me.
        — Eu perguntei... O que você sabe? — Sibilou, correndo em minha direção com uma velocidade impressionante. Seus movimentos eram tão rápidos que mal pude a acompanhar. Puxa, como era rápida!
        Após cortar a distância entre nós, inclinou-se levemente para a frente, pegando impulso absolutamente desnecessário para acertar-me com o cotovelo no estômago. Cedi sobre meus joelhos, cuspindo um pouco de saliva. A rosada não parou por aí. Acertou-me um chute no meio das costas, estatelando-me no chão.
        Sentou sobre meu corpo, fazendo pressão com os pés no ombros e fazendo meu corpo afundar-se alguns centímetros na lama. De onde tirara aquela força?
        Guinchei ao senti-la puxar meu cabelo.
        — Acha que entende minha dor? — Sussurrou assustadoramente em meu ouvido. — O que pensa que sabe sobre isso? Você não sabe de nada! Ser esquecida desde pequena... Ninguém lhe dar atenção..! O Natsu-nii foi o único que enxergou-me no meio de toda aquela tragédia! E agora você chega e o arranca de mim? Não permitirei, Lucy Heartfilia. Onii-sama sempre foi meu porto seguro... e sempre continuará sendo! Mesmo que para isso tenha que separá-los!
        De relance notei o brilho prata de uma lâmina. Ela andava com uma faca?!
        Espere um pouco... aquela lâmina...!
        Girei meu corpo, jogando-a para o lado e forçando-a a abrir sua mão. Joguei a faca longe, no tempo necessário para um raio atingi-la, nos jogando longe.
        Rolamos até um rio e por um segundo perguntei se morreria congelada. Céus! Que rio gelado!
        — Meredy? — Procurei ao redor assim que saí da água. Minha visão estava embaçada devido à chuva, porém pude vê-la vindo em minha direção, os punhos fechados e cheios de ódio. Desviei — com muita sorte — do primeiro, sendo atingida em cheio pelo segundo; entretanto aproveitei-me dessa chance para agarrar seus braços e ficar cara a cara com a garota. — Meredy, me escute!
        — Não quero! — Gritou. — Não ouvirei alguém que está tentando levar embora algo que preciso comigo! Se você soubesse a dor que eu passei, você....
        — Eu sei! — Rugi. Estava no meu limite e acabei a assustando. — Eu sei... — Repeti, encarando-lhe os olhos verdes.
        — O que quer dizer? — Murmurou fracamente, desacreditada.
        — Quando era pequena, minha mãe morreu. Meu pai tinha os negócios da família para administrar, então nunca teve muito tempo para ficar comigo. — Contei-lhe. — Fiquei tão depressiva que tranquei-me em casa. A única pessoa que fazia-me companhia era a Levy-chan, e momentaneamente, pois ela tinha os próprios problemas para resolver. Mas... — Lembrei-me de quando o conheci. — A vida continua, Meredy. E o mundo é cruel. Não importa por quanto tempo lute contra isso, "sempre estará sozinha" — Repeti a frase dele. E pensar que poderia utilizá-la em algo assim... As lágrimas brotavam nos olhos da rosada.
        — Não quero isso! — Gritou, desvencilhando seus pulsos de minhas mãos e tentando afastar as lágrimas dos olhos, ainda de punhos fechados. Abaixou-se, apoiando-se em seus calcanhares. — Não quero ficar sozinha!
        — E não está. — Afirmei, fazendo-a me olhar confusa. Ri. — Todos nós nascemos e crescemos sozinhos, Meredy. — Apoiei minha mão em seu ombros, aplicando-lhe uma fraca pressão. — Nossas dores, a profundidade de nossos sentimentos... Somente nós sabemos, certo? Mesmo que tenhamos sofrido a mesma dor, ela pode ter sido mais ou menos fraca em você do que em mim. Relaxe. Você não vai ficar sozinha fisicamente. E, se tiver sorte, espiritualmente também não.
        — Eu... — Fez um bico arrependido e aborrecido. — Não entendo. Vou ou não ficar sozinha?
        Sorri gentilmente, acariciando-lhe os cabelos molhados.
        — Isso terá que descobrir por conta própria. — Lançou-me um olhar aborrecido. — Olha, a respeito do seu irmão...
        — A Aries-nee-chan já me contou – cortou-me. Apontou para algo longe. — Veja. É uma choupana velha, entretanto acho que dá para esperar até amanhã lá. — Encarei-a surpresa. — O que foi?
        — Você está... estranhamente gentil...
        — Ca-cala a boca! Não consigo ser rude com alguém que passou o mesmo que eu.
        Sorri.
        — Você é mais bondosa do que imagina, Meredy.
        Corou.
        — Vamos logo! — Exclamou tomando a frente.
        Passamos a noite toda lá, com fome, porém sem passar frio, uma vez que haviam velhas vestes ali. Meredy revelou-se mais legal do que mostrava para seu irmão e acabamos dormindo juntas. Poderia se fazer de forte o quanto quisesse, mas ainda era uma criança. E amava o irmão mais do que qualquer um pudesse imaginar.
        No fim, acho que a rosada só queria alguém que realmente valesse a pena para ele. Mesmo assim, ainda não entendi o que Gray quis dizer com Natsu não ter sido moldado para o papel de irmão mais velho.
        ... Poderia ter algo a ver com aquele colar?
        Bufei, desistindo de pensar naquilo.

✩✩✩

        — Luce! Meredy! — Gritou Natsu desesperado no dia seguinte, quando aparecemos na mesa do café da manhã que ficava no quintal. Todos pareciam preocupados. — Onde vocês estavam?! — Abraçou-me.
        — Está tudo bem, Natsu — Murmurei, fraca e cansada. Precisava de algo para comer, então me arrastei até a mesa e comecei a comer o café do rosado.
        — Virgo, traga algo para Lucy! — Disse Aries, olhando-me preocupada. — Vocês... — Sussurrou após algum tempo, quando Igneel e Ultear estavam dando uma bronca na pobre Meredy, sendo assistidos de perto por Natsu. — Se entenderam?
        Sorri para ela abertamente. Sentia-me bem melhor.
        — Sim.
        Trocamos olhares satisfeitos e nos juntamos aos outros. Fiquei um pouco afastada dos outros, afinal, era o momento de atenção da Meredy.
        — Mer. — Chamou Natsu depois da bronca de Ultear terminar. (Igneel tentava acalmá-la.)
        — Onii-chan... — Murmurou envergonhada.
        Olhou-a surpreso.
        — Repita isso. — Mandou.
        — O... onii-chan. — Corou levemente. Sorri ao lembrar-me que agora chamava Gray da mesma forma e com a mesma quantidade de vergonha. Éramos mais parecidas do que imaginávamos. Natsu precipitou-se e enlaçou a irmã mais nova em um abraço terno. — Natsu-nii? — Estranhou a rosada.
        — Finalmente me chamou assim. — Desabafou com um sorriso enorme marcando-lhe a expressão. Encarou-a olhos com olhos. — Meredy, eu realmente te amo. No entanto, sou seu irmão e você tem que perceber isso. Mesmo que tenha prometido não deixá-la sozinha, encontrei algo que quero proteger até mais que você. Entende o que digo?
        Meredy acenou positivamente.
        — Agora eu entendo, onii-chan. Mas você terá que fazer por merecer.
        — O quê? — Indagou confuso. Ela apenas sorriu, o abraçando.
        — Também o amo, Natsu-nii!
        Observei tudo encantada. Tempos de paz estavam por vir, acho.
        OBSERVAÇÃO ERRADA!
        Silenciosamente, sem os demais perceberem, algo me puxou para trás de uma das árvores, pressionando um pano contra minha face. Debati-me em uma tentativa vã de soltar-me.
        A última coisa que vi antes de desmaiar foi a família Dragneel. Estavam todos felizes e sorridentes.
        Perdi a consciência sem saber quem havia me pego e como era. Sumi...
        ... Sem ninguém dar por minha falta.

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