NOVEMBRO

By vanessasmarine

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Amanda Horstmann foi expulsa do time de futebol da escola (sua maior paixão) e, entre esse acontecimento, des... More

:: PRIMEIRA TEMPORADA ::
2 - Conclusões
3 - VHS Misteriosa
4 - Eleonor, Minha Mãe
5 - Uma Ideia
6 - Batalha de Bandas
7 - Destrancando Segredos
8 - Orvalho
9 - Desmosqueteiro
10 - A Ideia
11 - Admirando O Fracasso
12 - Correndo (Literalmente) Atrás
13 - A Proposta
14 - Segunda Tentativa
15 - Planejamento
16 - Vem, ônibus!
17 - Meu Namorado de Mentira
18 - Cara ou Coroa?
19 - Primeira Aula
20 - Palavras que Machucam
21 - Coisas de Garotas
22 - Novata #1
22 - Novata #2
EXTRA - [DOCE] FERNANDO AMARGO
23 - O dia Seguinte
24 - Amarga
25 - Gabriel Gostosão
26 - Expandindo o treino
27 - Amargo Jogo
28 - A Peneira
29 - Mais segredos
30 - O Diário
31 - Ajuda Inesperada
32 - Encontrados
33 - Banda de Última Hora
34 - Gabriel e os Outros
35 - Repertório
36 - O Show
37 - Presente Inesperado
EXTRA - GABRIEL (GOSTOSÃO) FERNANDES
38 - Itamira Café
39 - Açude
40 - A Caixa
41 - Cara a Cara
42 - Construindo Lembranças
43 - Admitindo Sentimentos
44 - Provas e Jogos
45 - Uma Vez FHS...
46 - A Final
47 - Explicações
48 - Precisamos Conversar
49 - 28 de novembro
50 - 281º dia
51 - Presentes
52 - Por Um Dia
EPÍLOGO - PARTE 1
EPÍLOGO - PARTE 2*
EXTRA - PEDRO (MOSQUETEIRO) FERNANDES
HISTÓRIA NOVA
NOVEMBRO, O LIVRO, E UM TEXTÃO DE ANVIERSÁRIO
::SEGUNDA TEMPORADA::
1 - O Que Aconteceu Em Porto Seguro
50% DE DESCONTO

1 - Expulsão

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By vanessasmarine

— AMORIM, SEU IDIOTA! ESTOU LIVRE! VOCÊ É CEGO?! – gritei, enquanto corria pelo campo – AMORIM! – bradei mais uma vez, porém continuei sendo ignorada – Merda.

Em meio aos meus apelos, o treinador Amargo assoprou o apito antes mesmo que eu tivesse a chance de gritar mais uma vez.

Fim do treino.

O time parou de correr e começou a caminhar em direção a ele. Exceto eu. Eu fui em direção a Matheus – aquele meio campista de merda – para tirar satisfações.

– Se você continuar achando que pode ganhar o jogo sozinho, nós nunca vamos vencer o campeonato, entendeu? – perguntei, mas não esperei a resposta. – Então passa a porcaria da bola da próxima vez!

– Amanda, sinceramente... – ele começou, entediado.

Mas antes que ele pudesse terminar a frase, o treinador o interrompeu, gritando:

– Vamos logo, meninas!... – e olhando para mim, continuou: – e menino.

Em algum lugar na cabeça do treinador Amargo era superlegal e engraçado chamar os jogadores no feminino. Porém sua piadinha infame perdeu o efeito (se é que algum dia teve efeito) quando eu entrei no time e ele passou a ter de convocar uma menina de fato após cada treino.

– Vamos logo... Amanda, Matheus, conversem depois! – continuou a gritar.

Ignorei o treinador.

– Da próxima vez faça o maldito passe. Estou de olho em você.

Novamente não esperei sua reação e fui me juntar aos outros.

– ...O treino foi ótimo. Estão indo muito bem! – comentou o treinador Amargo quando todos já estavam próximos o suficiente – Vamos continuar assim, focando na defesa. É só. Descansem. Estão dispensados...

Revirei os olhos. Nós não estávamos "indo bem".

– Menos você, Horstmann. Você fica. Precisamos conversar – disse para mim, interrompendo meus pensamentos. E minha respiração.

Os meus colegas de time começaram a se dispersar ao mesmo tempo em que me lançavam olhares significativos. Olhares de boa sorte.

Os jogadores só frequentavam o escritório do treinador sob duas circunstâncias: a primeira, quando eram aceitos para o time; a segunda, para levar bronca – e não era qualquer tipo de bronca. Considerando o fato de eu ter frequentado o escritório uma única vez, por conta da primeira circunstância, não esperava algo muito bom desta segunda visita. Além disso, ele falou "precisamos conversar".

Para você que reconhece o poder catastrófico dessas duas palavras, mas pensa que elas só são usadas em términos de relacionamentos conturbados, tenho uma revelação a fazer: isso não é verdade. Ou melhor, não é totalmente verdade. A verdade é que nada (absolutamente nada) de bom vem depois de "precisamos conversar", estando você num relacionamento ou não, conturbado ou não.

– Me acompanhe.

Tentei dizer alguma coisa, mas não consegui. Havia algo preso em minha garganta e essa mesma coisa, pelo visto, também prendia minhas pernas – já que demorei a me levantar do gramado e começar a seguir o treinador em direção ao "escritório".

Depois de caminharmos, passando pelos vestiários da quadra, chegamos à sala minúscula com uma mesa, duas cadeiras de madeira e um armário de vidro em que ficavam os troféus conquistados pelo treinador (já que os conquistados pelo nosso time do colégio ficavam no museu da universidade, ao lado da escola).

Ele se sentou em uma cadeira e me apontou a outra que estava a sua frente.

– Sente-se, Horstmann.

Obedeci, passando mentalmente meu discurso contra Matheus. Afinal, se ele fosse falar mal do meu desempenho naquele treino, eu estaria pronta para me defender já que eu não tinha culpa alguma. Foi Matheus quem não me passou a bola naquele dia e foi ele também quem não me passou a bola nos últimos jogos, fazendo com que perdêssemos várias chances de pontuar.

O treinador apoiou os braços na mesa quando eu finalmente me sentei, e me encarou com um daqueles seus olhares intimidadores. Parei na mesma hora de elaborar mentalmente o meu discurso. Fiquei tão nervosa que só consegui encarar o logotipo da sua camisa: o brasão da FHS (colégio Francisco Henrique Sampaio), onde eu estudava.

– Você está fora – proferiu de repente.

Passaram-se algumas semanas enquanto eu encarava com uma cara de paisagem aqueles olhos cor de mel.

Fora?

– Sim.

Ele continuou com aquele seu mesmo olhar. Em seus lábios havia um traço da sua diversão interna.

– Fora do quê? Do campeonato?

Ele revirou os olhos em estado de impaciência, abandonando sua postura formal.

– Fora do time – ele evidenciou a palavra "time" como se fosse lindos fogos de artifício de fim de ano em Copacabana.

O mundo inteiro ficou em silêncio ao nosso redor.

Como assim "fora do time"?

– Olha, professor Amargo, não que eu esteja me gabando nem nada, mas imagino que o senhor c-confundiu... Está confundindo as coisas... – gaguejei. – Eu sou a melhor atacante que este time já teve desde Teobalto Sanches em 1992 – pois é, eu andei pesquisando. – Você não pode me expulsar do time assim sem mais nem menos.

– Está enganada – sobre Teobalto? – Tanto posso como já expulsei – ele se recostou em sua cadeira e por um momento pensei que iria pôr os pés na mesa, tamanha tranquilidade. – Eu tenho esse poder. O que eu não posso é continuar com você na equipe. Os outros colégios não querem criar um time misto para jogar no campeonato, e é contra o regulamento só uma escola apresentar um time misto.

O quê?

– Isso não está no regulamento.

– Agora está – ele me lançou um sorriso debochado. – Eu abri o pedido e foi aprovado ontem.

– Por quê?! – perguntei confusa.

– É ridículo para nós sermos o único time misto do campeonato – ele disse. – Ainda por cima só com uma única garota.

– É só arranjar outras garotas!

– Eu não quero outras garotas no time. Eu não quero mais você no time... Está dando para entender? – falou tudo entredentes, se segurando para não começar a gritar, eu tenho certeza.

– Mas eu sou uma ótima jogadora...

– Amanda, não. Os garotos vão ter medo de marcar você e te machucar. É ridículo.

– O quê?! – perguntei indignada. – Eu tenho de te mostrar de novo as fotos do meu nariz no trimestre passado?

Ele fez uma cara esquisita como se estivesse esquecido que há três meses um garoto do time adversário da escola vizinha quase quebrou o meu nariz durante um jogo. De propósito.

— Quem é que vai ficar no meu lugar?

— Eu não sei se você sabe, mas existe uma coisa chamada "time reserva".

Filho da mãe.

– O Guilherme é o único atacante reserva. Você vai colocar o Guilherme? Pelo amor de Deus, isso é ridículo! Ele é ruim pra caramba.

— Olha o linguajar, senhorita – ele me repreendeu. – Se não houver ninguém no time capaz de substituir "a grande Amanda Horstmann" – fez as aspas com os dedos cheio de ironias. – Abriremos vagas para o resto do colégio. Metade dos garotos (senão todos) daria a vida para ser um dos atacantes do time do FHS. Ou melhor, metade dos garotos do estado de São Paulo daria a vida por qualquer vaga de qualquer time do FHS.

Não tinha como argumentar contra aquilo, porque era verdade.

O time do FHS nada mais é do que o time de futebol do FHS (claro), um colégio particular chamado Francisco Henrique Sampaio – nome do pai do pai do pai do fundador da escola – onde eu estudo desde o início do ensino fundamental. Esse é o melhor colégio de São Paulo (e também um dos mais caros) e fica dentro do campus da UFHS (Universidade Francisco Henrique Sampaio), uma das melhores universidades privadas do Brasil (e também uma das mais caras).

Como todo bom e histórico colégio particular, o FHS oferece várias bolsas de estudo. A mais popular e mais disputada delas é a bolsa por esporte. Milhares de alunos e não-alunos tentam, semestralmente, conquistar uma bolsa através dos times do colégio. Afinal, quem não gostaria de estudar na melhor escola do estado sem pagar um centavo? Até os mais ricos não se queixariam por economizar um pouco mais de dois mil reais por mês.

Além disso, times profissionais locais ficam de olho nos "pupilos do FHS" para os contratarem, fazendo com que muitos não alunos queiram entrar no time de futebol mais pela oportunidade de se tornar um grande jogador profissional, do que pela oportunidade de ter uma boa educação. Então não era mesmo difícil acreditar que o treinador logo encontraria alguém para me substituir.

Minha cabeça começou a doer, provavelmente por tentar pensar em uma maneira de arrumar aquela situação. Se eu saísse daquele time eu não teria outro para ir.

O esporte estava em crise no Brasil. Vários clubes estavam quebrando, fazendo com que o número de jogadores ultrapassasse (num nível assustador, nunca antes visto) o número de times para se jogar. As escolinhas de futebol não estavam mais garantindo bons contratos – na verdade, não estavam conseguindo qualquer contrato sequer. Se você conseguisse jogar com um olheiro e empresário na arquibancada te assistindo, seria muita sorte, porque a maioria simplesmente decidiu fazer carreira em outro país por conta dessa crise, desfalcando muito essa classe no Brasil. E essa desgraça toda estava acontecendo com o futebol masculino. No feminino, como sempre, o buraco estava mais embaixo.

A procura das (e pelas) mulheres nesse esporte era quase que ínfima. Poucas queriam jogar, quase nenhum clube queria montar um time feminino e os poucos que queriam, faliram por falta de investimento e patrocínio. Naquela época ainda nem se sonhava que aprovariam a lei de que apenas clubes que tivessem também uma equipe feminina poderiam participar da Libertadores, por exemplo, então o espaço para nós quase não existia, e o que existia, acabou fechando. Várias mulheres perderam seus contratos quando 3 clubes conhecidos pelo investimento no futebol feminino quebraram no ano retrasado.

Eu perdi meu contrato no ano retrasado.

Passei uma das minhas mãos sobre meu rosto ainda suado do treino, sem conseguir acreditar no que estava acontecendo comigo naquele exato momento.

Podia ouvir a música do Titanic soando em minha cabeça enquanto cenas em câmera lenta, de mim e da bola de futebol sendo separadas, rodavam. Tinha trailer e tudo mais, com uma voz grave dizendo: "Uma garota. Um esporte. Separados por um filho da p...".

– Essa é sua escolha definitiva?

– Sim – agora estava sorrindo descaradamente, sem medo de esconder a satisfação por ter se livrado de mim.

Eu podia ameaçá-lo dizendo que eu iria "reivindicar os meus direitos" com diretor do colégio – ou algo tão revolucionário quanto isso –, mas tanto ele quanto eu sabíamos que o diretor não opinava nos assuntos extracurriculares da escola, e o time de futebol era um desses assuntos.

– Então está bem, Jonathan – o chamei pelo nome pela primeira vez em toda minha vida, quebrando a autoridade que ele tinha sobre mim como meu treinador. – Espero que se lembre deste dia quando o seu time perder o campeonato.

– Eu não vou perder – seu sorriso se alargou.

Eu e o 0,1% que restou da minha dignidade nos levantamos da cadeira e nos preparamos para uma saída triunfal.

– Não, Amanda, espere!

Parei com esperança de que ele fosse tirar a câmera escondida de algum canto da parede e dissesse: "Ahá! pegadinha do malandro!".

– Fiz uma carta te recomendando para o time feminino de vôlei.

Soltei o ar que eu estava prendendo até então.

– Vai se ferrar.

Saí com pressa, batendo a porta atrás de mim com força, tendo certeza de que Jonathan Amargo estava rindo da minha cara, dentro da sua sala estúpida.

Quando voltei ao campo, vi que os garotos tinham tomado banho, trocado seus uniformes por suas roupas normais e agora estavam conversando. Ignorei-os e continuei caminhando em direção aos bancos para apanhar minha mochila, até que meus pés encostaram nela, na bola; instrumento com a qual eu trabalhei a minha vida inteira, praticamente.

Instintivamente a chutei, mirando na cabeça de Matheus Amorim por ele não ter me passado a bola durante todo o treino.

E por ele ser um péssimo jogador.

E por ele ter feito um gol contra, certa vez em um jogo importante.

E por ele dividir o cabelo no meio...

– AI!

E por ele continuar sendo jogador do FHS, enquanto eu havia acabado de ser expulsa.

– Olha, Amorim: eu não sou egoísta! – gritei enquanto ele massageava seu rosto olhando para mim num misto de indignação e raiva. – Eu passo a bola.

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